Ridley Scott parece enfrentar uma maré ruim nos últimos anos. Desde Prometheus, o diretor emendou trabalhos mal recebidos não só pela crítica especializada, mas também pelo grande público. Êxodo: Deuses e Reis e Alien: Covenant são outros dois filmes que fizeram Scott ser questionado, e três filmes abaixo de sua média num espaço de cinco anos é muita coisa para o homem que já nos deu Alien e Blade Runner.
Mas nem só a falta de criatividade parece ter dificultado Scott. Em 2017, com o escândalo dos abusos em Hollywood estourando a todo instante, seu filme Todo o Dinheiro do Mundo sofreu uma baixa: Kevin Spacey (Beleza Americana), envolto em uma série de acusações, foi cortado do longa. Com todas as suas cenas já gravadas, chamou-se às pressas Christopher Plummer (Memórias Secretas) para substituir Spacey e fazer novas filmagens. Foi um trabalho ágil, já que o período de tempo entre o afastamento de Spacey e estreia do filme foi de pouco mais de um mês. Pontos para a produção e para Scott nisso.
Só que nem só com essa polêmica o filme conviveu, em janeiro deste ano, um mês após a estreia do filme em solo americano, Mark Wahlberg (O Vencedor) foi duramente criticado por ter recebido um cachê milhares de vezes maior do que o de Michelle Williams (Manchester à Beira-Mar) para participar das refilmagens. O resultado: o ator doou boa parte do cachê para uma ONG de apoio às mulheres que sofrem abusos.
É incrível como as histórias dos bastidores de Hollywood costumam ser ótimas, e talvez toda a polêmica que envolveu Todo o Dinheiro do Mundo seja muito mais interessante e importante do que a história do sequestro do neto do magnata do petróleo John Paul Getty (Plummer), que se recusou a pagar o resgate.
Apesar do ar de superprodução a todo instante, o roteiro de David Scarpa (O Dia em que a Terra Parou) é extremamente problemático, principalmente em dois pontos.
Primeiro ponto: o filme tem longos e arrastados 132 minutos, numa história que poderia ser bastante reduzida. Scott e Scarpa exageram ao bater na mesma tecla a todo instante e mostrar como Getty era ávido por dinheiro e também egocêntrico. O personagem de Plummer não se desenvolve, o filme começa e termina com ele sendo sempre o mesmo, o roteiro nunca quer mostrar mais dele, tornando-se um personagem que não exige muito do ator e que de Spacey provavelmente só exigia a pesada maquiagem (sendo assim, a indicação de Plummer ao Oscar de ator coadjuvante pode ser vista como pura militância, ou talvez um reconhecimento ao ator de quase 90 anos que fez um ótimo trabalho em um mês).
Segundo ponto: ao final do filme ficamos sabendo que o diretor Scott e o roteirista Scarpa tiveram liberdade para tornar a história mais interessante ao público, porém, o filme nunca mostra agilidade ou tensão características de produções deste quilate, como vemos em O Destino de Uma Nação, deste mesmo ano, por exemplo.
O design de produção e a reconstrução da década de 70 são bem competentes, a fotografia também merece menção, embora tenha muito mais destaque nos primeiros minutos do longa, onde algumas cenas se iniciam em preto e branco e logo ganham cor, mas isso se perde com o passar do tempo, sendo um elemento técnico que não tem grande impacto no resultado final.
O elenco está todo muito bem naquilo que lhes é proposto, embora ninguém faça um trabalho primoroso que ficará marcado em sua carreira, Michelle Williams vive a mãe sofrida, Mark Wahlberg está ali fazendo número e Christopher Plummer é o único que nos gera interesse a princípio, uma pena que o roteiro não explore tanto o seu potencial.
Como visto nos trailers, a grande surpresa de Todo o Dinheiro do Mundo seria a maquiagem que envelheceria Kevin Spacey em 30 anos, com isso, ficará a pergunta para sempre: será que com ele ali, o resultado seria diferente?
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