Assim acaba o mundo, não com um estrondo, mas com um suspiro…
Há um mês e meio eu usei o verso inicial de A Terra Devastada, de T.S. Elliot, Abril é o Mês mais Cruel, como título para um artigo sobre tudo o que esperávamos para aquele mês, principalmente de Vingadores: Ultimato e a última temporada de Game of Thrones.
Agora, após o último episódio do seriado da HBO, volto a citar o grande poeta americano: “Assim acaba o mundo, não com um estrondo, mas com um suspiro”. Não tem como não achar que os showrunners e roteiristas tinham esse verso em mente ao encerrar a saga de Westeros.
A reputação de Game of Thrones, construída ao longo de sete temporadas, foi forjada a ferro, fogo e muito sangue, mas também pelo desenvolvimento das tramas palacianas e de seus personagens, que ganharam os corações de todo o planeta.
Para o bem ou para o mal, foi nesses dois últimos quesitos que os realizadores se concentraram, após a sanguinolência da Batalha de Winterfell e do Massacre de Porto Real. Um anticlímax, sim, mas coerente com as quatro primeiras temporadas, quando era no penúltimo episódio que ocorriam os acontecimentos mais chocantes:
– Temporada 1: Morte de Ed Stark
– Temporada 2: Batalha de Blackwater
– Temporada 3: Casamento Vermelho
– Temporada 4: Batalha de Black Castle
A quinta temporada traz A Dança dos Dragões – em que os Filhos da Serpente acuam os Imaculados e Daenerys (Emilia Clarke) – mas acaba ofuscada pela morte de Jon Snow (Kit Harington), que fecha não apenas a temporada, mas o último livro lançado por George R.R. Martin.
Fenômeno mundial
A sexta temporada é que torna o seriado um fenômeno mundial, após o suspense sobre o destino do comandante da Patrulha da Noite, quando o ator Kit Harington tem que mentir para manter a expectativa. Alguns dos momentos mais memoráveis acontecem nessa fornada: Daenerys conquistando os Dothrakis, a morte de Hodor (Kristian Nairn), a Batalha dos Bastardos (no penúltimo episódio) e a explosão do Septo.
Na sétima temporada começam os problemas, ocasionados principalmente pela decisão de reduzir os episódios de dez para sete; e a última para apenas seis episódios. Aí, tudo começa a ficar corrido e o desenvolvimento prejudicado. A justificativa é que os episódios estavam ficando cada vez mais caros por causa dos efeitos especiais e – é claro – o salário do elenco. Sem falar nos dois anos de intervalo entre a penúltima e a última temporada. Para mim, tudo parte de uma estratégia para concentrar a audiência.
Epílogo
Todo esse flashback serviu para dizer que achei o epílogo das Crônicas de Gelo e Fogo coerente com o que foi construído ao longo desses quase dez anos, e redimiu Tyrion Lannister (Peter Dinklage) e Jon Snow, que andavam perdidos na noite.
O diálogo dos dois resgata uma das características do texto de George R. R. Martin, e Peter Dinklage tem a chance de voltar a exibir seu talento. Ser a Mão do Rei sempre foi seu destino e sua expertise, em que pese os erros de julgamento com sua Kaleese.
Kit Harrington, que nunca foi um grande ator, mostra adequadamente o conflito de sentimentos que o leva a cometer o ato climático do episódio, e o seu destino, longe de ser melancólico, faz com que ele lidere os Selvagens de volta à sua terra, agora sem a ameaça dos mortos-vivos, de certa forma como uma retribuição a Mance Ryder (Ciarán Hinds) – que, como ele, era um “sulista” – e Ygritte (Rose Leslie).
Emilia Clarke, muito criticada por sua atuação nos episódios anteriores, também tem seu momento de brilho quando se revela uma salvadora da pátria “modo Hitler e Napoleão”. O final com Drogon é emocionante.
No frigir dos ovos, Game of Thrones acaba como começou: centrada nos Starks. O patriarca Ned, como o Banquo de Macbeth, não foi rei, mas pai de reis. Com Bran (Isaac Hempstead-Wright) no Trono dos Seis Reinos e Sansa Stark (Sophie Turner) como rainha do Norte e mesmo Jon, a quem criou como bastardo, governando o vasto norte selvagem, sua linhagem passa a governar todo o continente. Sansa partindo para o oeste como uma Cristóvão Colombo mulher e ninja, já gera apelos para um spin off.
Um adendo para momentos fofos tem que incluir Brienne (Gwendoline Christie) escrevendo páginas na biografia oficial de Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) no Livro da Guarda Real e a redenção do Fantasma, que já tinha virado piada na Internet.
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