Lucifer: O Fenômeno

Antes de mais nada, este não é um review, no sentido de avaliar a qualidade de Lucifer, que está em sua anunciada penúltima temporada. A esta altura, se você é fã, nossa opinião não fará diferença, e se não é, bem, vai pegar o hype andando.

É impressionante que este seja o primeiro texto sobre este sucesso originado dos quadrinhos neste site dedicado à cultura nerd, mas, antes tarde do que nunca. Fenômeno da Netflix, a série era originalmente da Fox americana, sendo exibida no Brasil no canal pago Universal a partir de 2016.

O ponto de partida era um segmento da graphic novel Sandman, de Neil Gaiman, quando o Rei do Inferno decide presentear o Deus dos Sonhos com seu domínio e fazer um retiro na Terra. Um de seus demônios, Mazekeen, implora para acompanhar seu mestre no exílio voluntário.

A ideia era tão boa que gerou um spin-off do selo Vertigo, de autoria de Mike Carey. Tom Kapinos (Californication e Dawson’s Creek) desenvolveu para a televisão o conceito do Diabo vivendo na Cidade dos Anjos, à frente de uma boate e vivendo a “vida loca”.

A escalação do galês Tom Ellis como protagonista é um acerto de cara. Do alto dos seus 1,91 metro (mesma altura de D.B. Woodside, o Amenadiel) ele domina a cena, ajudado pelo charme e sotaque britânico. Curiosamente, o intérprete do anjo caído é filho, sobrinho e irmão de ministros batistas.

Seu interesse romântico, a detective Chloe Decker, é vivida por Lauren German, atriz com mais de 20 anos de estrada, que “morreu” no antigo emprego – o seriado Chicago Fire – para assumir o posto de co-protagonista.

A sul-africana Lesley-Ann Brandt, de Librarians” e Spartacus: Deuses da Arena, é a demônia Mazekeen; Rachel Harris, de Se Beber, Não Case!, é a psicanalista Linda Harris; e Kevin Alejandro (True Blood) é o ex de Chloe e também policial Dan Espinoza. A menina Scarlett Estevez (Pai em Dose Dupla) é a filha de Chloe e Dan, Trixie, bastante ativa nas primeiras temporadas, mas que já está se arrumando em outras produções. A partir daqui, SPOILERS.

A primeira temporada conquistou o público com o mix de comédia, policial, algum drama e as peraltices de Lúcifer soando mais diabólicas e menos infantis que nas mais recentes. Além de dono da boate Lux, ele também é uma espécie de agiota de favores, um don Corleone imortal. Há mais ênfase nos demônios internos de Chloe (o assassinato do pai), Dan (uma séria violação do código policial) e Amenadiel, tentando levar o protagonista de volta ao seu reino de todas as formas.

A segunda temporada ganha os acréscimos da perita forense Ella Lopez (Aimee Garcia, de Dexter), como uma espécie de equilíbrio otimista, e a sensacional Tricia Helfer (sex symbol geek desde Battlestar Galactica) como a advogada Charlotte, “possuída” pela genitora de Lúcifer e Amenadiel (muito melhor que a Mamãe Natureza de Jennifer Lawrence do filme de Darren Aronofsky…).

A terceira temporada justificaria o cancelamento, com o arco de Caim (Tom Welling, o eterno Clark Kent de Smallville). Muito chato, em parte por culpa do ator, que não envelheceu bem. Já Charlotte fez tanto sucesso que ressuscitou, mas o romance com Dan ficou meio forçado, outra vez por conta dele, que está fazendo hora extra no seriado.

Ressurreição

O anúncio de que a Fox não continuaria o programa gerou protestos no mundo inteiro, incluindo no Brasil, que ama o Diabo britânico. A Netflix assumiu a produção dizendo que bancaria a quarta e a quinta temporadas, já estendida para uma sexta.

Ressuscitada, Lucifer recomeça com o botox de Lauren German, que completaria 40 anos justamente em 2018 (a pressão sobre as leading ladies é cruel…). Sua Chloe tem que lidar com a revelação que seu crush é mesmo o diabo, ao mesmo tempo em que entra em cena uma ex dele, ninguém mais, ninguém menos que Eva (Inbar Levi, de The Last Ship), a primeira mulher. A personagem não acrescentou muita coisa, na verdade, mal ligando para o fato do namorado ter matado seu filho na temporada anterior.

A recém-lançada primeira parte da quinta temporada (porque as filmagens foram interrompidas pela pandemia) chega aos “finalmente” entre Lúcifer e Chloe, que perde cada vez mais relevância, ainda mais com Tom Ellis em dose dupla, interpretando também o gêmeo do mal angelical (?!) Miguel.

Com o bebê de Linda e Amenadiel e o romance esquentando para o lado do casal protagonista, a trama ficou mais sentimental, e o conflito necessário é novamente assumido por Mazekeen (meio forçado, é preciso que se diga).

Tricia Helfer, de quem todos sentimos falta, faz uma participação especial no quinto episódio (acabou arrumando emprego em outra série fantástica, Van Helsing, no papel de Drácula). Na abertura do último episódio do lote, nota-se o nome de Dennis Haysbert, o presidente dos EUA em 24 Horas, no elenco convidado. Lógico que seu papel seria importante.

Como será o final da narrativa? Com a entrada em cena desse novo personagem, talvez tenhamos a resposta para a pergunta: para que Chloe foi criada? E quais os planos para Lucifer? Evidentemente deve haver um happy end para que o conteúdo continue sendo atrativo para os fãs reverem e matarem a saudade, o que não ocorreria caso as expectativas não se cumpram.

Essa é uma diferença de um produto de streaming para um programa de canal de televisão, aberto ou pago, especialmente quando ele se torna um fenômeno pop. Tom Ellis, que tanto brigou pela sobrevivência da série, vai ter trabalho para se livrar de seu handsome devil. Por muitos anos ele continuará sendo Lucifer Morningstar.

 

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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