Nostalgia | Os 20 anos do anime de Pokémon

Num 1º de abril do já longínquo ano de 1997, aquela que poderia ter sido só uma pegadinha típica da época, acabou por se tornar um dos maiores fenômenos culturais e mercadológicos das últimas décadas: estreava na TV Tokyo, famosa emissora japonesa, o anime dos monstrinhos de bolso que você algum dia quis pegar – fosse para colecionar, fosse para os estrangular: ia ao ar o primeiro episódio de Pokémon.

Vocês já estão carecas de saber como essa história toda de monstrinhos começou, certo? Não? Ah, então vou resumir pra vocês: em 1995, Satoshi Tajiri concebeu em seu próprio mundo da imaginação, a história de jovens que colecionavam bichinhos e os colocavam pra lutar de maneira violenta pra provar a superioridade perante os outros. Esse plot de filme de terror, baseado em seu próprio vício de aprisionar inocentes insetos, deu origem ao jogo Pokémon – Green Version, no ano de 1996 – seguido de Red Version e Blue Version, ambas visando o mercado internacional, e todas tendo como suporte o console portátil da Nintendo a época, o Game Boy. O sucesso foi estrondoso, surgiram novas versões do game (cada uma enfocando um Pokémon inicial diferente), e daí em diante foi um pulo para que sua historia de insetos gladiadores migrasse para outra mídia – que no caso, foi a TV.

O plot inicial do desenho dava conta da história do jovem Ash Ketchum (Satoshi, no original – sim, você já viu esse nome nesse texto, volte duas casas), que saía de sua casa aos 8 anos para se tornar um mestre Pokémon, ou seja, o maior treinador de Pokémons do mundo. Na primeira e considerada mais clássica temporada do desenho, a chamada Liga Indigo, Ash se juntou a Brock, um tarado que era mestre de ginásio, e Misty, grande crush (é essa palavra que os jovens usam?) do nosso herói principal. Vale ressaltar também que enquanto capturava Pokémons selvagens privando-os da liberdade, depois os forçava a lutarem em ginásios para ganhar insígnias que inflavam seu ego. Elas também lhe permitiam ingressar na Liga Pokémon, uma espécie de Copa do Mundo dos monstrinhos, mas sabemos que isso era só um pretexto para esse pequeno Anjo Mau (aquele filme do Macaulay Culkin, hein?, hein?, hein?) praticasse suas atrocidades.

Foram importantes no anime o Professor Carvalho (que deveria ser indiciado e preso por aliciamento de menores), o especialista em Pokemons que deu a PokeAgenda ao menino Ash e o fez sonhar ser o maior treinador de todos os tempos; a Equipe Rocket, composta pelos irmãos/incestos/algo Jesse e James, além do gato Meowth, que sempre tentam roubar o Pikachu, tendo gasto pra isso tanto dinheiro que já poderiam ter comprado uma legião deles; as enfermeiras Joy e policiais Jane, que são todas primas e por isso parecidas – na maior desculpa esfarrapada para preguiça dos character design da série; além do clássico arquirrival, aqui na pele/película de Gary, o sobrinho prepotente do Professor Carvalho.

Depois dessa primeira temporada, foram surgindo outras – atualmente, é produzida a vigésima delas, intitulada Sun e Moon, que como você deve ter adivinhado, deu origem também a novos joguinhos da franquia. E cada uma ou duas temporadas levava Ash para novas regiões do planeta (sendo elas baseadas em regiões do Japão), e com isso surgem também novas gerações de Pokémons – levas de cerca de 100 novos monstrinhos, que na verdade só eram mais combustível pro motor de consumo que o merchandising da Nintendo geria.

Hoje são quase 1.000 episódios, mais de 800 monstrinhos diferentes e uma grande certeza: a febre dos companheiros do Pikachu parece que ainda vai ter muito fôlego no Japão e globo afora – basta levar em consideração o fato de que as versões mais recentes do game lançadas para o Nintendo 3DS, Sun e Moon, atingiram recentemente a marca das 15 milhões de unidades vendidas pelo mundo.

Mas além de todo o sucesso do anime, houveram muitas polêmicas envolvendo os bichinhos ao redor do globo. Um caso que ficou muito conhecido e chegou ao Brasil para alegria dos detratores do desenho, foi quando após a exibição do episódio Soldado Elétrico Porygon, cerca de 700 crianças japonesas foram parar no hospital com mal-estar, tontura e náuseas, e em casos mais graves até ataques epiléticos e perda da consciência. O que para muitos era mais uma prova de que o desenho era coisa do diabo e aquela havia sido uma prova do poder do cramunhão, se provou como a triste combinação entre feitos de luzes muito fortes e crianças mais suscetíveis à fotossensibilidade.

Abaixo seguem as fortes imagens que causaram esse incidente no Japão:

Ops… vídeo errado. Esse causou um ataque epilético apenas em mim. Agora sim o vídeo correto (assistam por sua conta e risco – embora me pareça ser menos perigoso do que o anterior):

Outro imbróglio causado pelos monstrinhos de bolso foi a censura que alguns de seus episódios sofreram. Além do já citado caso envolvendo epilepsia e cores vibrantes, cujo capítulo do desenho foi banido e nunca foi exibido fora do Japão, há ainda mais alguns motivos que levaram o anime a não ser exibido por completo em alguns países – inclusive o Brasil:

Porte de armas (e de bigode do Hitler) – Sério. No episódio A Lenda de Dratini, há um momento em que uma arma é apontada para o focinho de Ash, e isso não foi visto com bons olhos pelo mundo fora do Japão. Nem isso, nem o Meowth com um bigode parecido com o do Hitler.

Sensualidade – no episódio Férias em Acapulco, o Chaves derrubou o Senhor Barriga… não, não… nesse episódio, James aparecia travestido de mulher, usando um biquíni e tudo mais.

11 de Setembro – sim, o atentado terrorista ao World Trade Center gerou impactos mesmo no anime de Pokémon, cujo episódio Tentacool & Tentacruel deixou de ser exibido por conta de cenas onde os monstrinhos atacavam e derrubavam alguns prédios.

Racismo – o anime foi acusado de dar à Pokemon Jynx características que estereotipavam de maneira pejorativa a mulher negra. Polêmicas à parte, era um Pokemon feio e perturbador pra caramba. Depois disso tudo, alteraram a cor da criatura, o que não a deixou menos bizarra.

Outra onda que rugiu com Pokémon foi a de clones: alguns assumidamente, outros nem tanto, mas quem não se lembra que pouco tempo depois, o mundo foi invadido por qualquer história envolvendo animais/monstros/robôs colecionáveis se envolvendo em batalhas? Monster Rancher, Medabots, BeyBlade, Bakugan, Yu-Gi-Oh e o mais famoso de todos, Digimon, que na época em que foi lançado no Brasil (Digimon veio pra cá em 2000, um ano depois de Pokémon), quando conseguia rivalizar e até mesmo vencer a audiência dos monstrinhos de bolso “originais”.

Mas essa onda de cópias nem foi a coisa mais bizarra que Pokémon gerou na época…

Quem não se lembra quando a própria Eliana, surfando na onda de sucesso dos monstrinhos de bolso, lançou uma versão própria da música – que é tão horrivelmente ruim quanto àquela lançada pela Angélica e seu chapéu de EVA em “homenagem” aos Digimons. Minha nossa, os anos 90 realmente deixaram saudades… Saudade essa que só se intensifica ao vermos Eliana, apresentadora infantil, apresentando a abertura do desenho num sábado à noite em meio à mulheres molhadas e seminuas, enquanto somos convidados a assistir um programa com o Padre Marcelo Rossi. Que época boa pra se viver, não?

E você aí achando que quele comercial da campanha anti-drogas em que a Eliana Participou era a a coisa mais perturbadora envolvendo a rainha dos dedinhos…

O sucesso dessa franquia pode até ter diminuído com o passar dos anos – e talvez, também tenham ido junto a criatividade e novidade que a série outrora proporcionou. Se, como dizem, “time que se ganha não se mexe”, está explicado o sucesso de Pokémon, que parece estar longe do seu fim.

Alexandre Fernandes

Pai do Yuri Rafael, sou só um cara de meia idade que reclama bastante, mas não ao ponto de perder o bom humor. Nostalgia é meu sobrenome, e sim: gosto muito de cultura pop, filmes, séries, música, animes e mangás, videogames e tudo isso aí que faz um nerd. Mas não sou nerd, eu juro.

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