Como assim? Já acabou? Acabou, e agora House of The Dragons, ou A Casa do Dragão, só daqui a dois anos. Para quem não viu, mas gosta do universo de Westeros, esta segunda temporada faz algumas ligações com a série-mãe Game of Thrones, ampliando a visão do mundo criado por George R.R. Martin. Para o espectador casual, é um novelão com dragões, o que é sempre uma atração, ainda mais com o CGI caprichado da produção. Mas para comentar em detalhes, a partir daqui, vai ter spoiler.
Se a primeira temporada – alguém lembra? – acontece ao longo de vários anos (do nascimento de Raenyra à morte trágica de seu filho Lucerys), esta abrange algumas semanas, durante as quais houve assassinato de criança enquanto a avó montava seu guarda-costas, o príncipe consorte tomando um castelo mal-assombrado e ficando refém das alucinações, uma batalha entre três dragões com a morte de dois deles e de uma das personagens mais queridas da série (se ela tivesse dado um dracarys lá atrás…), o povo de Porto Real servido de massa de manobra das duas facções em conflito e, o que mais escandalizou os internautas, um cachorro sendo chutado. Também é interessante, ainda que tardio, o acréscimo da almirante pirata Sharako Lohar (Abigail Thorn), que parece uma fêmea klingon e oferece um contraste interessante com o parceiro de empreitada Lannister (Jefferon Hal).
Sabe-se que os acontecimentos de A Casa do Dragão ocupam umas duzentas páginas, enquanto cada uma das cinco primeiras temporadas de Game of Thrones equivaliam a um livro de cerca de 500 páginas. Isso quer dizer que muita coisa teve e terá que sair da cabeça dos showrunners e roteiristas da série, assim como O Hobbit, de umas 300 páginas, teve que render três longas-metragens.
Portanto, estes oito episódios da segunda temporada foram um preparativo para a guerra de verdade, já que, apesar das perdas impactantes da Batalha de Pouso das Gralhas no episódio 4, por isso mesmo o melhor da temporada, não envolveu um grande contingente de tropas de ambos os lados. Isso está por vir na Batalha da Goela, que vai ficar para daqui a dois anos.
Apesar da qualidade da produção, com alto valor evidente, das boas atuações que muitas vezes sustentaram uma trama vacilante e dos momentos eletrizantes, essa segunda temporada ficou muito comprometida pelo finale decepcionante, para não dizer brochante. Para quem está acostumado com séries, aquela visita de Alicent (Olivia Cooke) a Rhaenyra (Emma D’Arcy) já dava a entender que a temporada ia acabar por ali mesmo. Já começamos a falar dos personagens, vou deixar minhas impressões sobre eles e suas interações:
Daemon (Matt Smith) e Alys Rivers (Gayle Rankin): Quem é a mulher misteriosa que conduz o príncipe-consorte através das suas visões? O sobrenome indica que Alys é uma bastarda local – assim como Snow no Norte – mas ela é real. Embora em algumas ocasiões ela apareça perto de outros moradores e Harrenhall, não dá para confiar no que Daemon está vendo. Mesmo que sua looonga estada no castelo mal-assombrado o conduza para se posicionar ao lado de Rhaenyra no final, a verdade é que ocupou tempo de tela demais para ação de menos, só porque Smith – ex-Dr. Who e The Crown – é o nome mais famoso do elenco.
Rhaenyra e Mysaria “Verme Branco” (Sonoya Mizuno, de Ex Machina): O beijo entre as duas no penúltimo episódio dividiu os espectadores, não por conta do bissexualismo (que hoje em dia faz parte do dia a dia, quer queiram ou não) mas pela leitura do momento. Houve quem achasse que Mysaria estaria manipulando a rainha, mas outros, como eu, que o momento foi impulsivo. Em todo o caso, a posição da Verme Branco deve mudar dali em diante. Emma D’Arcy tira água de pedra de um personagem hesitante, compensando com uma atuação que transborda empatia.
Aegon (Tom Glynn-Carney, de Dunkirk) e Aemond (Ewan Mitchell, de Saltburn): O arrogante herdeiro dos Verdes e seu irmão caolho nunca se deram bem, mas após a ascensão do primeiro, a relação piorou, ainda mais depois que Aemond viu a incapacidade do irmão para governar e a humilhação sofrida na casa dos prazeres. Quando teve chance, mandou uma dracarys e churrasqueou Aegon e seu dragão. Mutilado e impotente, o rei acaba acatando o conselho do traiçoeiro Larrys (Matthew Needhand, de Napoleão), acaba fugindo. Destaque para Mitchell, que conseguiu dar profundidade ao que poderia ser mais um vilão como Joffrey ou Ramsay de Game of Thrones.
Rhaenys (Eve Best, de O Discurso do Rei), a Rainha que Nunca foi, e Corlys (Steve Toussaint, de Príncipe da Pérsia), a Serpente do Mar: Esta temporada fez questão de mostrar a intimidade e amor do casal só para dar mais peso à morte da princesa. Depois da tragédia, Corlys perdeu relevância na trama, mesmo se tornando Mão de Rhaenyra, já que esta conta mais com a espiã e provável amante Mysaria. A tentativa de criar uma tensão com o filho bastardo Alyn (Abubakar Salim, de Raised by Wolves) para não funciona.
Addam (Clinton Liberty, de Touchdown), Hugh (Kieran Bew, de Warrior) e Ulf (Tom Bennett, de Rocketman), os novos montadores de dragão: Incluídos no final do segundo tempo da partida, os montadores plebeus deveriam desequilibrar em favor dos Pretos. Só que eles não só despertaram ciúme do príncipe Jacaerys (Harry Collett) com indignação dos tradicionalistas. Na verdade, pelo menos um deles não parece muito confiável. Veremos.
Alicent (Olivia Cooke, de Bates Motel) e Otto Hightower (Rhys Iffans, de Um Lugar Chamado Notting Hill): A folga sabática na natureza seguida pela conversa com a ex-amiga Rhaenyra significa que a personagem vai sair de cena? Possível, já que a personagem ficou à deriva, e ela mesma se deu conta disso. Curiosamente, ninguém, nem ela, mencionou que quem a colocou nessa situação foi o próprio pai, Otto, ao empurrá-la para o leito do rei Viserys (Paddy Considine, de The Ousider) com evidente intenção de fazer de um descendente herdeiro do trono. Otto, por sinal, sumiu no meio da temporada para reaparecer numa gaiola, um dos mistérios a se desvendar adiante.
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