Há dois anos, rasguei a seda para a primeira temporada de A Diplomata, série da Netflix com Keri Russell (The Americans), que abordava política e diplomacia como gente grande. Só que a coisa desandou na segunda temporada: o que era pé no chão, virou um monte de narrativas improváveis, com tiro, bomba e porrada, e ainda por cima espremidos em seis ao invés dos oito episódios em 2023.

 

 

Em 2025, série começa exatamente onde 2024 acabava: com a morte súbita do presidente Rayburn (Michael McKean) e a inesperada ascensão da vice Grace Penn, interpretada por Allison Janney, um acréscimo da segunda temporada. A atriz vencedora do Oscar de Coadjuvante por Eu, Tonya, fez parte do elenco principal de The West Wing, melhor série política já feita, e que tinha a showrunner de A Diplomata, Debora Cahn, como uma das roteiristas. Agora, para reforçar a conexão com o seriado dos anos 90, outro integrante da equipe do presidente Bartler, talvez o grande papel da carreira de Martin Sheen (que protagonizou Apocalipse Now), Bradley Withford (O Conto da Aia, Corra!) foi escalado como primeiro-cavalheiro da presidente Penn.

Embora siga a trama meio absurda da temporada anterior, este terceiro ano é mais próximo da temporada original, com mais tramas palacianas, personagens caminhando no fio da navalha e atos com consequências globais. Após a revelação estarrecedora – do tipo teorias da conspiração sobre o 11 de Setembro – a embaixadora americana no Reino Unido, Kate Wyler (Keri Russell) tem que lidar com o fato de seu marido Hal (Rufus Sewell, de Meu Pai) se tornar vice-presidente dos Estados Unidos. Na bagunça que se segue à posse de Penn, ninguém pediu o cargo dela, e Kate fica entre ser Segunda-Dama ou continuar no posto que acabou se apegando.

O mais divertido de A Diplomata são as inspirações em fatos e pessoas reais, ainda mais considerando que a produção conseguiu autorização tanto do governo britânico quanto o americano para filmar em locações oficiais. Se o finado presidente Rayburn era quase uma sátira ao senil Biden, o premiê do Reino Unido Trowbridge (Rory Kinnear, que também foi primeiro-ministro na primeiro etpisódio de The Bçack Mirror) é inspirado em Boris Johnson, que ocupou o número 10 da Downing Street entre 2019 e 2022. O os mercenários Lenkof, perpetrador do ataque ao porta-aviões inglês na série, é baseado no grupo Wagner, que também tem profundas ligações com o governo de Moscou.

Uma das coisas que mais gosto em A Diplomata é que os personagens são movidos por agendas que consideram corretas para seus respectivos países, e não por vilanias e apenas ganhos pessoais acima de tudo, como o Francis Underwood de House of Cards. A ponto de um dos personagens principais, Stuart (Ato Essandoh) cogitar abandonar a diplomacia após saber do que seu governo foi capaz, mesmo diante da perspectiva de um crescimento na carreira.

Infelizmente, ainda não se sabe sobre o futuro de A Diplomata, e talvez dependa de sua performance na temporada de premiações.

 

por Marcos Kimura

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura. Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *