Review | Chernobyl (HBO)


Uma semana depois do final de Game of Thrones que, bem ou mal, deixou milhões de fãs órfãos a HBO estreou quase na surdina Chernobyl, que virou hype. As chamadas já haviam chamado minha atenção por causa do elenco cheio de feras como Jared Harris (The Terror, Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras e, para mim, já um dos favoritos para o Emmy de Ator de Minissérie/Telefilme), Stellan Skarsgård (Ninfomaníaca, Mamma Mia) e Emily Watson (Ondas do Destino, Dragão Vermelho). E a expectativa se cumpriu quando a série chegou, já que as atuações foram o ponto forte.

Mas só grandes interpretações não salva, basta ver Taron Egerton se matando para ser Elton John em Rocketman, em meio a uma direção fraca e coreografias equivocadas. Roteiro, direção e direção de arte que entrega uma reconstituição de época extraordinária são outros elementos que fizeram Chernobyl explodir (sem desculpas pelo trocadilho).

História

E tem a História, com H maiúsculo. Mais do que expor a incompetência e paranoia vigentes na antiga URSS, a minissérie destaca o heroísmo e – termo da moda – resiliência de russos e ucranianos, que já haviam salvo a Europa na II Guerra Mundial. No início do quinto episódio, uma idosa uraniana está ordenhando uma vaca quando um soldado chega mandando que ela evacue o local por causa do risco de morte.

Ela retruca que já havia sobrevivido a Hitler e ao Holodomor de Stálin. Abre parênteses: Holodomor em ucraniano significa “morrer de fome”, e é como foi chamada a grande fome causada propositalmente por Stálin na Ucrânia, entre 1931 e 1933, que atingiu a cifra dos milhões. Foi uma resposta do ditador à resistência dos camponeses de lá contra a coletivização agrícola, uma das medidas mais estúpidas e mortais do planejamento estatal soviético.

Outo grande momento é quando Scherbina (Skarsgård) convoca voluntários para fechar as válvulas de resfriamento para evitar que se forme uma nuvem radioativa sobre a Europa. Ele lembra os sacrifícios que os soviéticos fizeram ao longo dos anos e que esse é o caráter do povo. Ou a convocação dos mineiros de carvão pelo ministro do setor, e resposta desses trabalhadores ao mesmo.

Mostrando de forma crua os efeitos da radioatividade no corpo humano e os sacrifícios para conter o desastre, apesar da burocracia e paranoia, Chernobyl revela que tudo poderia ter sido muito pior. Na verdade, nem se sabe ao certo quão horrível foi, porque até hoje não há números confiáveis sobre as vítimas da radiação e suas sequelas. E é bom lembrar que antes, em There Mile Island, nos EUA (1979); e depois, em Fukushima, no Japão (2011); outros graves acidentes também aconteceram, e em nações capitalistas avançadas. Não se trata de um monopólio comunista.

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Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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