Review | Demolidor – 3ª Temporada

Ultimamente, muita gente andou achando que o acordo da Netflix com a Marvel estava virando pó, devido aos cancelamentos de Punho de Ferro e Luke Cage, ambos em sua segunda temporada. Mas a terceira temporada de Demolidor deve dissipar esses temores. É nada menos que sensacional.

A pista sobre a inspiração dessa nova fornada de episódios do Homem sem Medo está na cena final de Os Defensores: Matt Murdock convalescendo numa cama com uma freira na vigília. Sim, é A Queda de Murdock, série assinada por Frank Miller e David Mazuchelli (a mesma dupla de Batman: Ano Um) e lançada em 1986.

Na época, a revista do Demolidor vinha caindo em vendas e o editor Ralph Macchio (nada a ver com o Karatê Kid) convidou Miller a retornar ao título que ele havia salvo uma década antes (e que ajudou-o a se transformar numa lenda das HQs). Agora, a base de sua trama pode ter salvo todo o universo de Demolidor e companhia na Netflix.

A temporada começa com Murdock (Charlie Cox) se recuperando do desmoronamento do prédio do Tentáculo no orfanato em que cresceu e Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio, mais uma vez arrasando no papel) ainda na cadeia. A principal preocupação aparente do Rei do Crime é com sua amada Vanessa, e para permitir que ela retorne ao país sem ser processada, ele aceita ser informante do FBI, mais especificamente para o ambicioso agente Ray Nadeem (Jay Ali).

Enquanto convalesce, Matt é ajudado pela durona madre superiora Maggie Grace (Joanna Whalley, de Willow e Escândalo), que comanda o orfanato, e pelo padre Lantom (Peter McRobbie, de Ponte dos Espiões e A Visita), seu conselheiro espiritual, sem voltar a contatar seus amigos Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson).

Born Again

Se no Brasil a série inspiradora se chamou A Queda de Murdock, no original era Born Again, ou nascido de novo, nome que tem mais a ver com esta temporada que, se não segue exatamente a trama dos quadrinhos, distribui diversos easter egss ao longo dos episódios (leia no final, após os avisos de spoilers). Por outro lado, os roteiristas introduzem mais um importante inimigo do Demolidor, que nunca é chamado pelo seu nome de guerra mais conhecido, numa construção fascinante e muito diferente das HQs e da versão cinematográfica.

Como já dissemos acima, o Wilson Fisk de D’Onofrio é soberbo, se consolidando como o melhor vilão da Marvel-Netflix e um dos melhores de toda produção audiovisual inspirada nos heróis de Stan Lee. Ele é a encarnação do manipulador frio e calculista, mas capaz de uma violência pessoal assustadora, como a versão de Frank Miller. É o principal fio condutor da história.

O desenvolvimento dos episódios é preciso, praticamente sem “barrigas”, com perfeito equilíbrio entre ação, tensão e suspense, que surpreende até mesmo o cinéfilo mais calejado. Os treze episódios passam voando. Porém, há uma precipitação de acontecimentos nos dois últimos capítulos, mais por culpa da necessidade de prender a atenção do espectador até aqui.

[wp-review id=”10255″]

 

Alerta de SPOILER: os easter eggs da terceira temporada

  • Karen Paige tem um flashback de seu passado no interiorzão dos Estados Unidos, onde ela se envolve com drogas e diz que está a um passo de fazer blowjobs para ganhar uns trocados, que faz ligação com sua versão em A Queda de Murdock, em que ela vira uma atriz pornô viciada, que vende a identidade do Demolidor por uma dose. Na série, ela também se preocupa de ter inadvertidamente entregado a identidade do amigo, mas Fisk já sabia disso àquela altura
  • Numa tentativa de matar Murdock, Fisk manda trancá-lo num taxi e atirá-lo no rio Hudson, exatamente como na HQ
  • A irmã Maggie Grace é a mãe de Matt Murdock, como nas HQs
  • Fisk manda fazer uma cópia do uniforme do Demolidor e o entrega a um assassino para incriminar o herói, como em A Queda de Murdock. A diferença é que o matador em questão é o Mercenário, um dos principais inimigos do Homem sem Medo, que faz sua estreia na Marvel/Netflix
  • Após a luta final, Poindexter/Mercenário acaba tetraplégico, como acontece quando o Demolidor busca vingança pela morte de Elektra nas HQs
Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

Leia também...

Mais deste Autor!

+ Ainda não há comentários

Add yours