Eu quase não ia fazer um review sobre esta série, porque achei que só interessaria a quem conhecesse os referenciais de Fran Lebowitz, uma personagem da fauna nova-iorquina há mais de 40 anos. Mas estamos aqui para apresentar nossas visões aos leitores, considerando que muita gente vai entender as piadas.
Faz de Conta que Nova York é uma Cidade é resultado da longa amizade entre a escritora e humorista e o cineasta Martin Scorsese, produtor-executivo da série. Eles já trabalharam juntos no documentário Public Speaking (2010), mas o diretor parece ter sentido que as ideias e idiossincrasias da amiga precisavam ser compartilhadas com os mais jovens por meio da Netflix.
Lebowitz, uma jovem inteligente, curiosa e sem dinheiro, aterrissa na Nova York dos anos 70, culturalmente efervescente, mas muito perigosa nas ruas. Contra todas as probabilidades, faz sucesso e se enturma com a turma que mandava na cidade. O desfile de amigos e conhecidos de Fran é longa e invejável: do gênio do jazz Charles Mingus, passando por Andy Warhol (de quem ela não gostava e diz que “melhorou muito depois de morto”), chegando a Leonardo DiCaprio, que apresentou a ela cigarros eletrônicos durante as filmagens de O Lobo de Wall Street. Sim, de vez em quando ela faz um bico como atriz.
Como todas as pessoas interessantes, Fran é um poço de contradições. Misantropa, adora festas. Não liga para vaidade pessoal, mas é louca por moda, a ponto de ter ido à chamada Luta do Século, entre Muhammad Ali e Joe Frazier (para inveja de Spike Lee), só por causa das roupas dos cafetões que estavam na plateia, porque odeia esportes e acha que boxe devia ser ilegalizado.
Sua profissão oficial é escritora, embora não lance um livro há anos. Seu ganha pão é fazer palestras por todo os EUA, onde as pessoas vão escutar outras falarem por prazer, não como aqui no Brasil, em que palestrantes profissionais vendem fórmulas de sucesso – ou então fazem stand-up. Fran mantém uma longa tradição que remete a Mark Twain, que também fazia disso seu sustento.
A série é centrada em sua longa relação com Nova York, onde ela mora cercada de seus 10 mil livros, em que se descola a pé, metrô ou táxi e não tem nem computador nem celular.
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