Review | Hunters

Hunters, da Amazon Prime, causou em seu lançamento, especialmente por causa da presença da lenda hollywoodiana Al Pacino. Além de don Michael Corleone, o elenco conta ainda com o Percy Jackson Logan Lerman, a bergmaniana Lena Olin, e outras caras conhecidas como Josh Radnor, de How I Met Your Mother; Saul Rubinek, de Os Imperdoáveis; Carol Kane, de A Princesa Prometida; e Jerrika Hinton, de Grey’s Anatomy.

A história parte de um fato real, a Operação Paperclip, por meio da qual centenas de cientistas nazistas foram levados secretamente para os EUA a fim de integrar programas de desenvolvimento científico, principalmente o de mísseis balísticos, que mais tarde dariam origem à NASA. Na versão da série, uma elite hitlerista aproveitou-se disso para criar uma organização voltada a criar um Quarto Reich. Para combater essa ameaça, um rico judeu sobrevivente do Holocausto reúne uma equipe de especialistas chamada Hunters.

A partir de agora, SPOILERS.

A produção bebe descaradamente em Quentin Tarantino, mas também em histórias em quadrinhos – o co-protagonista Jonah (Lerman) trabalha numa loja de HQs –, e filmes de ação (Os Doze Condenados é citado especificamente), de kung fu (um dos Hunters, Joe Mizushima, é um asiático veterano do Vietnã), blaxpoitation (outra, Roxy Bone, é uma mistura de Angela Davis com Foxy Brown) e muitas outras inspirações da época, meados dos anos 70.

Mas o que inicialmente parece um pastiche de Bastardos Inglórios com Marvelous Mrs. Maisel (pelas piadas judaicas) vai se tornando algo muito mais interessante, à medida que a caçada penetra na América das elites brancas republicanas (embora um dos principais antagonistas seja da equipe do democrata Jimmy Carter), das grandes corporações e do Cinturão da Bíblia.

Numa espécie de metáfora, o roteiro mostra que práticas nazistas aconteciam (acontecem?) de forma cotidiana nos EUA, do anti-semitismo dos subúrbios às políticas segregacionistas que permaneceram mesmo depois da aprovação dos Direitos Civis aos negros. A identificação de muitos brancos de classe média com o ideário nazista também é a motivação de um dos vilões mais interessantes.

Plot Twist

Quanto ao plot twist, já dava para sacar em pelo menos uma das execuções perpetradas pelo grupo, mas não deixa de ser chocante. O gancho para uma segunda temporada é meio desconcertante, mas vai exigir muito mais dos roteiristas para manter o nível dessa primeira temporada.

De modo geral, a direção de atores é o ponto fraco da produção. Al Pacino está no piloto automático habitual, mas que, à exemplo de seu Jimmy Hoffa em O Irlandês, funciona bem para seu Meyer Offerman, o bilionário que não só banca as operações dos caçadores como também faz questão de participar delas.

Logan Lerman tem bons momentos como o jovem sem rumo que se junta ao grupo, mas não é ajudado por seus coadjuvantes, seus amigos de vizinhança. O casal de veteranos Saul Rubinek e Carol Kane, que interpretam sobreviventes de Aushwitz que perderam o filho no Holocausto, fornecem alguns dos momentos mais emocionais da série, graças muito mais à tarimba.

A freira-espiã irmã Harriet (Kate Mulvany) é a personagem mais tarantinesca (uma freira judia agente secreta britânica?), mas fica na promessa; assim como o agente do FBI Millie Morris (Jerrika), que tem grande destaque ao longo dos episódios, mas pouca participação na hora do “vamos ver”.

Lena Olin, com seu currículo que vai de A Vida das Marionetes, de Ingmar Bergman, a A Insustentável Leveza do Ser, de Phillip Kauffman, é um desperdício como a mastermind desta primeira temporada. Josh Radnor como o astro decadente Lony Flash, faz um monte de piadas sem graça sobre a Hollywood da época, e seus alardeados talentos que o puseram na equipe são “whatever”.

Mas, como sempre, quem salva são os vilões. Dylan Baker, ator que sempre encarna elitistas arrogantes, começa arrasando na abertura do primeiro episódio e sempre rouba a cena com seu Biff Simspn/Açouguerio de Arlav. Outro destaque é Greg Austin (da minissérie britânica Summer of Rockets) como Travis Leich, que parece um capanga genérico no começo e vai evoluindo até se tornar um embrião dos supremacistas brancos que infestam as prisões americanas.

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Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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