It: Bem Vindos a Derry ytterminou no domingo, dia 14, com um clímax bombástico, visualmente impressionante, emocionante e impactante. Mas, ao mesmo tempo, deixa a impressão de uma história inconvincente, cheia de furos e conveniências de roteiro. Pode, Arnaldo?
Ocupando o horário nobilíssimo da HBO das 11 da noite – o mesmo de Game of Thrones, Chernobyl, Mare of Easttown e The Last of Us – a série foi uma aposta de franquia, o que fica claro no final do episódio, quando aparecem pela primeira vez as palavras Capítulo 1 sob o título. Ainda não houve confirmação de uma segunda temporada – ainda mais com a bagunça causada pela venda da Warner – mas a intenção dos irmãos Muschetti (Andy, o diretor, e Barbara, a produtora) é abordar mais dois períodos da história de Derry, resultando em trs temporadas no total.
Mas vamos do começo, It: Bem-Vindos a Derry é um prequel da história de It, o romance de Stephen King que originou a minissérie de 1990 (com Tim Curry, o doutor Frank-N-Further, de The Rock Horror Horror Show) e os dois filmes de 2017 e 2019, da mesma dupla de irmãos argentinos. A história de King começa no final da década de 1950, para que termine nos anos 80, quando o romance foi lançado. O universo It dos Muschetti começa nos anos 80 e termina no segundo filme nos dias atuais. Assim, It: Bem-Vindos a Derry se passa na virada dos anos 50 para 60, num enredo inteiramente original, com a bênção de Stephen King.
O contexto é da Guerra Fria, corrida espacial e, obviamente, racismo. O primeiro episódio já é um espetáculo chocante e sangrento – e olha que para chocar hoje em dia é preciso muito – que começa com uma carona que vai dar num parto grotesco e um massacre entro de um cinema, que sabemos quem cometeu, mas a polícia local vai culpar o projecionista preto, Hank Grogan (Stephen Rider, da série Demolidor).
Paralelamente à tragédia, o major aviador Leroy Hanlon (Jovan Adepo, de Babilônia), herói da Guerra da Coreia chega à base local para participar de uma operação secreta liderada pelo general Francis Shaw (James Remar, o pai de Dexter), onde o misterioso soldado Dick Haloran (Chris Chalk, da série Gotham). Hanlon traz sua mulher, Charlotte (Taylor Paige, de Um Tira da Pesada 4: Axel Foley), uma ativista dos direitos civis; e o filho Will (Blake Cameron James), um garoto nerd. Na escola, ele conhece Rick (Arian S, Cartaya), um latino safo. Eles acabam formando um grupo com as meninas Lily (Clara Stack, que foi a Kate Bishop criança em Gavião Arqueiro), única sobrevivente do massacre no cinema; Ronnie (Amanda Christine), filha do injustiçado Hank e, mais tarde, Marge (Matilda Lawler, de A Idade Dourada).
Após esta rápida introdução, vamos à critica, com spoilers necessários.
O contexto de um país ainda profundamente racista, patriarcal e paranóico faz referência direta aos EUA atual, com a abertura mostrando imagens de uma América de fantasia que, hoje, é vista como o ideal do MAGA que, na verdade, nunca existiu.
A participação dos povos nativos na contenção do alien que se tornará Pennywise seria interessante…se fizesse algum sentido. Como assim eles tinham em seu poder diversos artefatos repelentes do monstro e se limitaram a criar uma cerca para ele, sendo que uma lasca na forma daquela adaga já o deixava bem debilitado. E a sugestão Dark de que Pennywise vive tudo em Derry ao mesmo tempo é meio forçada para justificar continuações. A ver.
Mas o pior é o grande plano do general Shaw – por conta própria, sem o conhecimento do Pentágono. Liberar Pennywise par aterrorizar e matar pelo país para unificá-lo pelo medo? Tudo bem que o zeitgeist atual é dominado pela agenda de Donald Trump, mas isso não faz nenhum sentido. E depois de toda essa lerda, o desfecho do militar é, no mínimo, besta.
O que salva e torna a série interessante são as soluções visuais – de nível de cinema e o círculo interno dos adolescentes. Se não atinge o nível dos moleques de Stranger Things, chega bem perto da interação do elenco central do primeiro It dos Muschettis.
E falando em elenco, o que é a participação de Madeleine Stowe, atriz icônica dos anos 80/90 (O Último dos Moicanos, Os Doze Macacos)? Só para fazer a ponte entre a origam do Pennywise real com os acontecimentos de It – A Coisa? Achei a personagem perdida no rolê.
De modo geral, It – Bem-Vindos a Derry justificou sua exibição no horário nobre da HBO, mas não sei se o Pennywerso tem fôlego para mais duas temporadas.