Review | Lupin (Netflix)

Nesses meses de pandemia, a Netflix – que se tornou um aplicativo de primeira necessidade como o Uber ou iFood – desenvolveu uma fórmula de produtos própria. São filmes/seriados com nomes conhecidos, feitos na medida para serem consumidos rapidamente e bombar nas redes. Foi assim como Resgate, O Diabo de Cada Dia, Enola Holmes, Emily in Paris, O Gambito da Rainha, Ava (filme com Jessica Chastain, John Malkovich e Collin Farrell, que era para ser, mas não foi), Bridgerton, entre outros.

Lupin vai nessa onda, mesmo sendo uma série francesa, estrelada por Omar Sy. Mesmo que as pessoas não se lembrem do nome, o identificam de cara como o protagonista de Intocáveis, um novo clássico do século XXI. Com a semiaposentadoria de Gérard Depardieu, talvez ele seja hoje o ator francês mais conhecido em atividade.

Omar interpreta Assane, um imigrante senegalês cujo pai, Babakar, é preso acusado de roubar o famoso colar de Maria Antonieta do cofre do patrão, o poderoso empresário Hubert Pellegrine. Após o suicídio de Babakar na prisão, sua referência paterna passa a ser Arsène Lupin, protagonista de um livro que seu pai lhe deixou e que passa a carregar sempre consigo.

Arséne Lupin foi criado por Maurice Leblanc no início do século XX e é um ladrão de casaca, um homem misterioso que excuta os roubos mais ousados e improváveis. É o equivalente francês de Sherlock Holmes na literatura policial.

Disfarces

Assim como o investigador inglês, Lupin era mestre dos disfarces, e a série opta por outro tipo de recurso para que Assane oculte sua identidade, que é a invisibilidade social, ou seja, ele usa o preconceito a seu favor.

O seriado também faz questão de destacar sua identidade francesa, seja na abertura em pleno Museu do Louvre e seu acervo de obras-primas; a participação de nomes importantes do cinema de lá, como Ludivine Saigner (musa de François Ozon em Oito Mulheres e Swimming Pool), no papel de Claire; e Nicole Garcia (estrela de Retratos da Vida, de Claude Lelouch, e Meu Tio da América, de Alain Resnais), interpretando Anne Pellegrine; e até o cachorro da jornalista Fabienne Beriot, J’accuse, tem o nome do famoso artigo de Émile Zola que denunciou o caso Dreyfus.

Por outro lado, o ritmo acelerado atropela maiores explicações e incongruências dos planos executados pelo protagonista, sem falar que demora quatro episódios para ele descobrir o que estava na cara no segundo.

A sustentação da trama é mesmo o carisma de Omar Sy. Após o estouro com Intocáveis há uma década, o ator fez uma carreira internacional nas superproduções Jurassic World, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (alguém lembra que ele foi o Bishop?) e Inferno (o terceiro e dispensável filme da trilogia de Dan Brown). Mas ele brilha mesmo é no seu idioma natal, como em Uma Família de Dois e agora em Lupin.

Não vai ter veredito porque esses cinco episódios são apenas a primeira parte de uma temporada do que a gente nem sabe se será série ou minissérie. Só quando entregarem a parte 2, que chega ainda este ano, vai ter estrelinha.

Mas estes cinco episódios valem como passatempo divertido, bem produzido e cheio do charme e panache franceses.

Quer saber mais? Assista também:

 

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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