Review | Os Eleitos (Disney+)

Os Eleitos, série da National Geographic disponibilizada no Brasil pela Disney+, é uma adaptação do romance de não-ficção de Tom Wolfe sobre o Projeto Mercury.

Mas, diferente do livro, a produção ignora a parte referente a Chuck Yeagger (vivido no cinema pelo dramaturgo Sam Sheppard, que a partir de então ganhou uma carreira cinematográfica), que era o maior piloto de teste da época, primeiro homem a quebrar a barreira do som e que toda vez que um recorde seu era batido, pegava o melhor jato disponível e recuperava a marca.

Nunca foi sequer chamado para ser um dos primeiros astronautas, e o contraste entre sua trajetória de cowboy solitário com o glamour que cercou os sete da Mercury era uma das bases da narrativa de Wolfe e da excelente versão cinematográfica de 1983 dirigida por Phillip Kaufman.

Dito isto, vamos à série atual, que se insere no contexto atual da nova corrida espacial, desta vez, rumo a Marte. É centrada nas tentativas e erros da recém-nascida Nasa, na rivalidade entre John Gleen (Patrick J. Adams, um dos protagonistas de Suits) e Alan Sheppard (Jake MacDorman, das séries Watchmen e What We Do in the Shadows). Gleen é o mais político e carismático entre os eleitos, que contrasta com o igualmente ambicioso Sheppard por ser um homem de família, temente a Deus, enquanto seu rival é um mulherengo compulsivo.

O terceiro astronauta em destaque é Gordon Cooper (Colin O’Donoghue, que as fãs de Once Upon a Time vão lembrar como Capitão Gancho), que tem que implorar para retomar o casamento com Trudy (Eloise Mumford, da trilogia Cinquenta Tons) a fim de se credenciar para a seleção. Ela, por outro lado, é mais que uma dona de casa da Era Eisenhower, mas também uma piloto qualificada, que será abordada para participar de um projeto para formar astronautas mulheres, coisa que não existe no livro original.

Iniciativa

Essa iniciativa existiu de fato (pode ser conferido no documentário Mercury 13, disponível na Netflix) e também é desenvolvida no seriado For All Mankind, da Apple TV+, que parte de uma realidade alternativa em que os soviéticos chegaram na Lua antes dos americanos. Um dos efeitos colaterais é a inclusão de mulheres no programa espacial da Nasa ainda nos anos 70, e a versão desse universo de Trudy consegue ir ao espaço.

Na verdade, há mais em comum entre essas duas séries do que com o filme de 1983. Os dois produtos recentes tratam desses fatos passados inseridos em nosso contexto social de inclusão de gênero; enquanto tanto o livro de Tom Wolfe quanto o longa de Phillip Kaufman olhavam para o passado com um olhar mais nostálgico.

De certa forma, esta produção da Disney usa a base de Wolfe, resultado de entrevistas e pesquisas, para criar uma nova narrativa, o que é praticamente estragar um ótimo texto. Se você não pensa no livro ou no filme de Kaufman, ele pode funcionar melhor. Nesse caso, a ignorância pode ser uma benção.

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Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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