Ruptura, da Apple+, é uma alegoria do que Karl Marx chamou de alienação do trabalho, fruto da Revolução Industrial, que distanciou o trabalhador do resultado final de seu esforço, em nome da maior produtividade e lucro. E olha que o velho barbudo nem chegou a ver a linha de produção de Henry Ford.
Neste seriado produzido e, em parte, dirigido pelo comediante Ben Stiller, um conglomerado industrial chamado Lumon desenvolveu um chip capaz de separar a memória da vida cotidiana da corporativa. Ou seja, os funcionários que se voluntariam para a iniciativa passam a viver duas realidades que não se comunicam entre si.
O sonho da empresa que teme ver segredos vazados para a concorrência ou para a mídia.
O ponto de vista é centrado em Mark (Adam Scott, de Big Little Lies), um professor de História que decide fazer a ruptura para escapar da dor da perda de mulher por algumas horas do dia.
Ele tem o apoio de sua compassiva irmã Devon (Jen Tullock, da ótima série Perry Mason), uma riponga casada com Rikon (Michael Chernus, um dos professores de Peter Parker em Homem-Aranha: De Volta para Casa), um escritor de livros de autoajuda.
Dentro do Departamento de Refinamento de Macrodados (que ninguém sabe o que é e para que serve), Mark acaba de perder um colega que se demitiu, e recebe em seu lugar Helly (Britt Lower,), uma mulher que,de cara, não se dá bem com o novo emprego.
Os outros integrantes do departamento são Irving (John Turturro, que dispensa apresentações), um sujeito de meia-idade que segue o manual de procedimentos da empresa como se fosse literalmente a Bíblia; e o nerd Dylan (Zach Cherry, de Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis).
Supervisão
Eles são supervisionados pela gerente Harmony Cobel (Patricia Arquette, cada vez melhor atriz), uma controladora maníaca que é auxiliada por uma espécie de bedel, Mr. Mitchnick (Tramell Tillman, de Godftaher of Harlem), e pelo chefe de segurança, Mr. Graner (Michael Clumpsy, de Boardwalk Empire).
A sede da Lumon, um triunfo da Direção de Arte de Angelica Barrero, é praticamente um personagem, com seu exterior megalomaníaco e geometricamente frio, e os corredores do setor Ruptura sendo um labirinto de lambris brancos como um inferno destinado a “colaboradores” que passam boa parte da vida fazendo um trabalho em que não encontram sentido, pare serem recompensados com guloseimas, como animais adestrados.
Qualquer um que tenha trabalhado em escritórios de uma empresa multinacional vai identificar os easter eggs, dos discursos motivacionais às “missões” do departamento enquadradas na parede.
O roteiro é sensacional, a direção igualmente ótima e os atores muito bem escalados e competentes. E eu nem citei o grande Christopher Walken como o chefe do Departamento de Ótica e Design. Não se escala um cara desses para fazer figuração, mas para contracenar com outro grande nome do elenco. E que interação, meus amigos!
O único defeito – #sqn – é o final em cliffhanger. Teremos que esperar no mínimo um ano para saber o que acontece em seguida, porque, felizmente, Ruptura já teve uma segunda temporada confirmada.
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