4 out 2025, sáb

Review | Sandman 2ª Temporada Volume 2 (Netflix)

Sandman, a adaptação da graphic novel de Neil Gaiman para o audiovisual, acabou de vez com a estreia do episódio extra no dia 31. Não há possibilidade para uma terceira temporada e mesmo um spin off é muito difícil. O motivo para isso é que Gaiman virou uma marca tóxica, porque, para quem não sabe, pesam sobre eles acusações de abuso sexual e até tráfico de pessoas. Não dá para passar pano, mas para quem, como seu, fã tanto dos quadrinhos quanto da série, que nos deram duas temporada nada menos que sensacionais.

O showrunner Allan Heinberg (The Catch), se cercou de uma equipe de primeira, com Jamie Childs (His Dark Materials – Fronteiras do Universo) dirigindo 16 dos 23 episódios, David S. Goyer (Fundação) entre os roteiristas. Cenografia, figurinos e fotografia fazem com que se assista a série com enorme prazer, pelo menos para mim, fã das HQs.

Se a primeira temporada foi muito fiel aos arcos Prelúdios e Noturnos e Casa de Bonecas; a segunda – já anunciada como a última antes mesmo de começar a ser feita – teria que se focar nos acontecimentos que levariam ao desfecho de Morfeus (Tom Sturridge, numa ótima caracterização). Os primeiros cinco episódios já comentamos rapidamente aqui, e adaptam Estação das Brumas, em que Morfeus volta ao Inferno para resgatar sua ex-amante Nada, condenada por ele mesmo há dez mil anos, apenas para que Lúcifer lhe dê a propriedade de seu reino. Em seguida,  diversas divindades afluem para seu palácio a fim de reivindicar o Inferno. Conhecemos Loki (Freddie Fox, de Slow Horses) e num episódio envolvendo Sonhos de Uma Noite de Verão de William Shakespeare, o trickster Puck (Jack Gleeson, o Joffrey Baratheon de Game of Thrones, retomando muito bem a carreira), personagens que terão grande importância mais adiante.

Em Vidas Breves, Morfeus ajuda sua irmã Delírio (Esmee Creed-Miles, da série Hanna) a encontrar o irmão pródigo, Destruição (Barry Sloane, de Revenge), numa trajetória cheia de morte e que faz com que o Senhor dos Sonhos se reaproxime de seu filho Orfeu (Ruairi O’Connor, de The Morning Show), ou o que resta dele.

A segunda metade da temporada se inicia com Morfeuz lidando com as consequências de seu ato de amor pelo sangue de seu sangue. Ele busca orientação com o pai, Tempo (Rufus Sewell, de A Diplomata), e a mãe, Noite (Tanya Moodie, de Silo), apenas para descobrir que quanto mais antigas as entidades, mais distantes da realidade se tornam,

As três Parcas da mitologia greco-romana, que determinam nascimento, vida e morte de cada ser vivo – até dos deuses – no universo Sandman se fundem com as Fúrias, que representam a vingança. Para executarem sua sentença, elas precisam ser invocadas por alguém que busque justiça, e esse papel recai sobre Lytha Hall (a atriz libanesa Razane Jammal), mãe o bebe Daniel, concebido no Sonhar na primeira temporada e que, portanto, é reivindicado por Morfeus. Loki, que virou parceiro e amante de Puck, rouba a criança e simula sua morte para que a mãe acredite que o Senhor dos Sonhos é o culpado. Ela se torna no avatar das Fúrias e ameaça não apenas o soberano, mas todo seu reino.

O final é belo, melancólico e esperançoso, com um recomeço do mundo dos sonhos literalmente mais humano. Meu desfecho preferido é de Hob Gading (Ferdinand Kingsley, de Mank), o homem que está vivo há mais de 650 anos por conta de uma aposta entre Morfeus e a Morte (Kirby Howell-Baptiste, de Cruella), e ao ser abordado por ela após o funeral e ser questionado se quer partir, recebe uma resposta desconcertante.

Por outro lado, tem o Corintio (Boyd Holbrok, de Um Completo Desconhecido) e Johanna Constantine (Jenna Coleman,de Vitória: A Vida de uma Rainha). O próprio Gaiman gostava da figura do patrono dos serial killers, e a encarnação de Holbrok deu charme inegável ao personagem, e, como na graphic novel, foi recriado sem o lado mais sombrio. Já Johanna é um criação exclusiva para a série, uma versão feminina de John Constantine feita para driblar o copyright da DC, que ganhou o carisma e beleza da Jenna. Reunír ambos é uma decisão estranha, mas será uma tentativa de criar um spin off fora das asas do cancelado Gaiman? Só isso justifica o ship bizarro.

Além dos citados, outros destaques do elenco são a equipe de Morfeus, a bibliotecária Lucienne (Vivienne Acheampong, e Convenção das Bruxas), Fiddler’s Green (Stephen Fry, numa escalação perfeita), o corvo Matthew (voz de Patton Oswalt, de Jovens Adultos), Cabeça de Abóbora (com voz de Mark Hammil) e a elfo Nuala (Ann Skelly, de The Nevers). Os Eternos, e modo geral, acabaram meio esquecidos no rolê, especialmente Desejo (Mason Alexander Park) que prometia muito na primeira temporada, e Destino (Adrian Lester), muito por conta da caracterização.

O derradeiro episódio de Sandman não tem a participação do protagonista e é centrado em sua irmã, Morte, um dos personagens mais populares do universo criado por Neil Gaiman. Um dia a cada século ela toma uma forma mortal, quando ela aproveita as delícias da vida normal e, como ela frisa, o livre arbítrio. Ela cruza o caminho de Sexton (Colin Morgan, o Merlin de As Aventuras de Merlin), um jornalista especialista na crise ambiental e climática, infeliz no amor (acabou de levar um fora da namorada) e com a perspectiva de um mundo que caminha para a destruição. É um coda agridoce para uma obra-prima que encerra sua trajetória por motivos mais extra-campo que dentro das quatro linhas, numa metáfora futebolística. No todo, bateu um bol[ao enquanto durou.

 

 

 

 

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