Review | Star Wars: Visions

Estávamos acompanhando há sete semanas os episódios semanais de O que Aconteceria Se…? (de agora em diante, chamaremos de What If…?) quando, nesta quarta (22), chega Star Wars: Visions, nove curtas produzidos por alguns dos principais estúdios de animação do Japão. Se até a estreia, esse produto era uma incógnita, quem se aventurou a percorrer essas aventuras naquela galáxia muito, muito distante, dentro do melhor estilo animê, certamente viveu uma das mais gratas surpresas do ano.

Enquanto isso, os mundos alternativos do Universo Cinematográfico Marvel, narrados pelo Vigia, vão de um episódio decepcionante a outro inconsequente. Com algumas exceções.

O primeiro episódio de Visions é O Duelo, uma mistura de Os Sete Samurais com Yojimbo, os filmes de Akira Kurosawa que definiram o samurai no imaginário ocidental. Um andarilho chega a uma aldeia explorada por desertores da Guerra dos Clones, e que são liderados por uma Lady Sith. Sensacional.

O segundo, A Balada de Tatooine, tem como protagonista Jay, um padawan sobrevivente da Ordem 66, que é adotado por Geezer, um Hutt que lidera uma banda de rock, até ser aprisionado e condenado à morte por seu parente Jabba (este, seu lacaio Bib Fortuna e Bobba Fett são os únicos personagens da saga principal que aparecem na série).

O terceiro, Os Gêmeos, é sobre irmãos gêmeos, homem e mulher, que são criados dentro do Lado Negro da Força, e que estão prestes a usar seu poder para ajudar a energizar uma arma com a capacidade de uma Estrela da Morte. O que aconteceria se Leia e Luke fossem criados por Darth Vader?

Cena do episódio ‘Os Gêmeos’

O quarto, A Noiva Aldeã, se passa em um planeta bucólico em que piratas, além de explorar os aldeões, ainda exigem um refém, que no caso seria uma noiva recém-casada. Um conto ecológico com a cara do Hayao Myiazaki.

No quinto, O Nono Jedi, um velho mandatário de um planeta da Orla exterior convoca jedis e toda galáxia para entregar-lhes sabres produzidos por um mestre artesão (nada mais japonês), cuja filha também é poderosa na Força. Um dos melhores.

O sexto, TO-B1 (por que ninguém nunca pensou nesse trocadilho?), é uma homenagem a Osamu Tezuka, em que um velho inventor cria um androide na forma de um menino (como Astroboy, inspirado em Pinóquio) para ajudá-lo a dar vida a um planeta arrasado pela Guerra dos Clones. Belo e emocionante.

O sétimo, O Ancião, é sobre um jedi e seu padawan que encontram um misterioso velho, que se revela uma ameaça muito maior que aparenta. Ótimo.

O oitavo é Lop & Ocho, sobre uma coelha alienígena (ecos de Usagui Yojimbo?) adotada pela família que comanda um planeta que é explorado pelo Império. Quando ficam adultas, as irmãs do título se tornam oponentes, e o pai oyabun (título curiosamente outorgado a chefões da Yakuzá) dá a filha adotiva o sabre de luz da família.

O nono e último, Akakiri, retoma Akira Kurosawa, desta vez o filme que o próprio George Lucas disse ser uma influência direta a Uma Nova Esperança, que é A Fortaleza Escondida. Um jedi tem como missão escoltar uma princesa ao seu castelo guiados por uma dupla de contrabandistas, a fim de confrontar com uma parente que se revelou uma sith. O desfecho, no entanto, é puro Star Wars e fecha essa primeira temporada com chave de ouro e gosto de quero mais.

Cena do episódio ‘O Ancião’

Releituras

Assisti a antologia em japonês (não se é Kimura impunemente) e, ao mesmo tempo que estamos no universo Star Wars, trata-se de um produto japonês legitimo. Não é canônico, no sentido que vários dogmas são subvertidos, mas são releituras criativas sobre o que poderia ser (What If…?) o mundo permeado pela Força.

Ao mesmo tempo, os realizadores aproveitaram a chance de falar a um público muito maior que os habituais otakus para sublinhar as ligações entre o universo criado por George Lucas e a cultura nipônica. A influência vai muito além dos filmes de chambara (como são chamados os filmes de samurai por lá), mas inclui também o budismo na religião jedi, como fica evidente no episódio A Noiva Aldeã.

De modo parecido com What If…? os episódios terminam com um gancho pronto para uma sequência. Não sei se isso está nos planos da Disney/Lucasfilm, mas desde já fica minha torcida por mais temporadas de Star Wars: Visions.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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