A série The Nevers, da HBO, deveria ser a redenção de Joss Whedon, após o fiasco de sua Liga da Justiça e das subsequentes denúncias de assédios morais durante as filmagens. Infelizmente para ele, o cancelamento o alcançou neste novo projeto, e sua demissão ocorreu antes mesmo da estreia. O último episódio que foi ao ar neste domingo, dia 16, reflete a falta do capitão no leme do barco.
O primeiro episódio começa de forma sensacional, com ótimas sequencias de ação e a apresentação dos personagens e do conceito de forma cativante.
No final do século XIX, um misterioso evento no céu de Londres concede poderes extraordinários para algumas pessoas, especialmente mulheres. Isso gera uma crise no círculo interno do governo de Sua Majestade, preocupando especialmente Lorde Massen (Pip Torrens, de The Preacher), que acredita ser o prelúdio de um ataque ao Império.
Outra aristocrata, Lavinia Bidlow (Olivia Williams, de O Pai) cria um abrigo para as “tocadas”, que é como são chamadas as mulheres afetadas.
Na direção da casa estão a inventora Penance Adlair (Ann Skelly, de The Vikings) e a misteriosa Amalia True (Laura Donnely, de The Outlander), que lutam para proteger suas companheiras do preconceito e da perseguição.
Inimiga pública
Uma das “tocadas”, Maladie (Amy Mason, de Era Uma Vez) é declarada inimiga pública número um por assassinar médicos de forma particularmente cruel. Ela é perseguida pelo inspetor Frank Mundi (Ben Chaplin, ator com vasto currículo que inclui Além da Linha Vermelha), um ex-boxeador que virou policial, e que foi abandonado no altar por Mary Brighton (Eleanor Tomlison, de Poldark), cuja voz tem um efeito especial sobre os “tocados”.
Outros personagens com destaque são o aristocrata Hugo Swan (James Norton, que está em Vozes e Vultos, na Netflix), um hedonista que abre uma casa de prazeres para explorar os dons dos “tocados”; seu melhor amigo Augie Bidlow (Tom Riley, o Leonardo da Vinci de Da Vinci Demons), o tímido irmão de Lavinia, de quem esconde seu poder adquirido; e Annie Carbey (Rochelle Neil, de Das Boot), uma mercenária capaz lançar bolas de fogo das mãos.
Se o problema de algumas séries são as barrigas para encher linguiça, aqui, com apenas seis episódios, falta espaço para tanto assunto e personagens. O promissor bordel de Swan é pouco explorado e não diz a que veio; não fica muito claro o objetivo das pesquisas mengelianas do doutor Edmund Hage (Dennis O’Hare, de American Horror Story) nem é muito explorado o dickensiano Rei dos Mendigos, interpretado por Nick Frost, parceiro habitual de Simon Pegg, inclusive no recente Truth Seekers.
Vai ficar tudo para uma segunda temporada, que ninguém sabe se virá…
O último episódio abre uma frente tão inesperada que você pode achar até que caiu no seriado errado. Um início escuro faz com que não se saiba exatamente o que está acontecendo e o desenvolvimento não é dos melhores. Desconfio que, a essa altura, Whedon já estivesse fora do comando. Deixa a gente ao mesmo tempo curioso sobre o que pode vir a seguir e insatisfeito pelas questões em aberto.
No fim das contas, os pontos fortes são a química yin/yang das protagonistas Amalia e Penance, graças às duas ótimas atrizes; o vilão Lorde Massen, uma caricatura do lorde inglês arrogante e reacionário, cuja figura de Pip Torrens traduz à perfeição; e o conceito que mistura steampunk – por causa das invenções de Penance – com superpoderes, em uma reconstituição de época caprichada da HBO e com a devida diversidade exigida pelos dias atuais.
Vale a pena assistir, mas sobram perguntas ao final da primeira temporada.
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