No próximo dia 26 de novembro começa a última temporada de Stranger Things, que além de ser um acontecimento cultural, consolidou a Netflix como um player relevante do audiovisual.
Aliás, continua tão relevante para a principal plataforma de streaming do planeta que ela organizou no último domingo, 23, a Parada Estranha (nome genial, que bem poderia ser o título brasileiro da série), com a presença de Jamie Campbell Bower, o Vecna, e show de um ícone dos anos 80 no Brasil, Xuxa, a Rainha dos Baixinhos.
Além do mais, nesta véspera da estreia do Volume 1 da derradeira temporada, a série está em quarto lugar entre as mais vistas no País, ou seja, muita gente vendo ou revendo para não ficar perdido.
Vamos recapitular um pouco das quatro temporadas anteriores da série dos Duffer Brothers e o impacto de cada uma delas na cultura pop mundial.
Temporada 1 (2016)
Já de cara conhecemos o grupo central de amigos Mike (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin), Dustin (Gaten Matarazzo) e Will (Noah Schnapp), que se reúnem para jogar Dungeons and Dragons.
O desaparecimento de Will vai deflagrar uma série de acontecimentos que levarão á descoberta do Mundo Invertido, do Demogorgon (que é nome de um vilão do RPG), da menina superpoderosa Eleven (Millie Bobby Brown) e da conspiração do governo para criar crianças com superpoderes por meio de drogas ministradas às mães, comandada pelo sinistro dr. Brenner (Matthew Modine).
Winona Rider, a única atriz famosa do elenco na época, interpreta Joyce, mãe de Will, que faz de tudo para encontrar o filho, e acredita que ele está em algum lugar… estranho.
O chefe de polícia Jim Hopper (David Harbour), ex-colega de escola dela, é um homem abalado pela perda de fllha, e mesmo não acreditando nas afirmações de Joyce, acaba participando do resgate de Will no Mundo Invertido.
A irmã mais velha de Mike, Nancy (Natalia Dyer), é pressionada pelo namorado Steve (Joe Kerry) para dormir com ele. Ela acaba convencendo a amiga Barb (Shannon Purser) para acompanha-la até uma festa na casa de Steve.
O irmão de Will, Jonathan (Charlie Heaton), um fotógrafo amador, enquanto procura o caçula, acaba dando uma de voyeur da festinha, já que tem uma paixonite por Nancy, e acaba registrando a causa do sumiço de Will e da coitada da Barb.

O grupo de garotos evoca Os Goonies e as crianças de It; Eleven é uma mistura do Professor Xavier dos X-Men com E.T.; a cidade de Hawkins é uma versão de Derry de It e até a escalação do elenco se refere aos anos 1980, com Winona – estrela de Os Fantasmas se Divertem e Edward Mão de Tesoura – e Matthew Modine – protagonista de clássicos como Asas da Liberdade, Nascido para Matar e De Caso com a Máfia.
Os easter eggs da série entraram para o cânone da cultura pop, como as luzes de Natal usadas por Joyce para se comunicar com Will, Eleven capotando o furgão dos agentes com a mente, salvando os amigos dos bullies, os waffles que se tornam a comida favorita dela e Should I Stay or Should I Go, do The Clash, que Jonathan apresenta a Will e que é a primeira canção dos anos 80 que Stranger Things ressuscita.
A inglesa Millie Bobby Brown é rapidamente elevada ao estrelato, virando queridinha da Netflix, sendo a estrela dos dois Enola Holmes e Donzela, produzidos pela plataforma de streaming, e David Harbour acaba sendo escalado para ser o novo Hellboy (não deu certo) e como Guardião Vermelho do Universo Cinematográfico Marvel (aí, deu bom).
Temporada 2 (2017)
A trama agora envolve o Devorador de Mentes, uma entidade incorpórea que comanda os Demogorgons e o demordogs. Eleven, que desapareceu no final da temporada, está escondida numa casa da floresta por Hopper, que fez um acordo com o governo e sabe que estão atrás da garota.
Mike está sofrendo com o sumiço da namoradinha e os amigos estão mais interessados em Max (Sadie Sink), forasteira ruiva que quebrou o recorde deles em um videogame e anda de skate.
Will, por sua vez, é monitorado pela nova equipe do laboratório, agora a cargo do doutor Owens (Paul Reiser), cuja principal missão é evitar que o que sai do portal do Mundo Invertido invada nosso mundo.
O roteiro é muito condicionado pelo sucesso da primeira temporada, tendo que criar um arco para resolver o desaparecimento de Barb – que morreu, mas os pais não sabem disso – e até tentar criar um spin-off com outra menina superpoderosa, Kali (Linnea Berthelsen), só que aí não deu muito certo.
Além de Max, são introduzidos seu irmão do mal Billy (Dacre Montgomery) e o jornalista paranóico Murray (Brett Gelman). Nancy se separa de Steve e acaba se envolvendo com Jonathan, que sempre teve uma crush nela. O senhor popular, por sua vez, faz uma improvável amizade com Dustin, quando este sai à caça do pet que, na verdade, era um demônio dimensional.
O novo namorado de Joyce, Bob (Sean Astin), dá inicio ao ciclo de coadjuvantes carismáticos que morrem. Ele é quem descobre que os desenhos que Will faz compulsivamente após ser possuído pelo Devorador de Mentes são, na verdade, um mapa de tuneis que o Mundo Invertido está usando para invadir Hawkins.
De modo geral, esta segunda temporada é considerada a ‘menos boa’ da série, especialmente por causa do arco de Chicago, cuja única função foi fazer com que Eleven ampliasse seus poderes por meio das emoções.

Mas tem seus momentos, como a chegada da menina superpoderosa para salvar seus amigos; o final, no baile da escola; Steve e Dustin percorrendo a linha de trem como em Conta Comigo.
Como referências aos anos 80, temos os garotos vestidos de Caça-Fantasmas para o Halloween; o ator Sean Astin, que entra não pelo Sam de O Senhor dos Anéis, mas por ter sido um dos Goonies originais; assim como Paul Reiser, que não foi escalado por Mad About You, mas por Um Tira da Pesada e Aliens: O Resgate.
Temporada 3 (2019)
A terceira temporada começa com a chegada de um shopping center a Hawkins, e como aconteceu em todos os EUA, lojas de rua familiares e pequenos negócios entram em crise. Na verdade, é uma operação secreta soviética, construída com a cumplicidade do prefeito Kline (Carey Elwes). O objetivo é abrir um novo portal para o Mundo Invertido para sabe-se lá o que.
As crianças das duas primeiras temporada viraram adolescentes, para desespero principalmente de Hopper, cuja filha de verdade não chegou a este estágio da vida. Ele provoca a separação de Eleven e Mike, e a garota acaba fazendo amizade com Max, que também brigou com Lucas.
Dustin volta de um acampamento de ciências, onde afirma ter arrumado uma namorada mais gata que Phoebe Cates – paixão de todo adolescente da época – e mais inteligente que toda a turma junta.
Steve não consegue entrar numa faculdade e como punição o pai o obriga a trabalhar em qualquer coisa, no caso, uma sorveteria no novo shopping, com uma colega estranha, Robin (Maya Hawke). Nancy e Jonatham estagiam no jornal local, em que ela mais serve café e busca o almoço para os jornalistas homens do que trabalha em reportagens.
Billy, irmão de Max, é salva-vidas na piscina do centro esportivo local e é objeto de desejo das frequentadoras, principalmente a mãe de Mike e Nancy, Karen (Cara Buono).
Quando ele vai para um encontro com ela, sofre um acidente e é abduzido pelo Devorador de Mentes, cujo plano agora é criar um monstro feito de corpos de pessoas possuídas para matar Eleven, único ser capaz de impedir que invada este mundo.

Além da reconstituição de um típico mall oitentista, as referências à década passam pelo enome soviético Grigori (Andrey Ivchencko), apelidado pelos fãs da série de Terminator Russo; o ator Cary Elwes, que faz o prefeito, e que estrelou o cult A Princesa Prometida; e a música ressuscitada da vez é o tema de A História Sem Fim, que a namorada de Dustin, Suzie (Gabriella Pizzolo) o obriga a cantar antes de dar uma resposta crucial.
O coadjuvante carismático que morre desta vez é o cientista russo Alexei (Alec Ugoff), que dividido entre a fidelidade à pátria e as delícias do capitalismo, acaba optando pelo segundo. Os acréscimos ao elenco principal são fundamentais: Robin, que se revela muito engenhosa; e Erica (Priah Ferguson), irmã de Lucas, que já havia aparecido antes, mas que agora se torna parte da turma.
Temporada 4 (2022)
Os três anos que separam esta temporada da anterior fazem uma diferença enorme quando se trata de um elenco em fase de crescimento. Aqui, os irmãos Duffer resolvem explicar porque tudo acontece em Hawkins e a importância de Eleven em tudo isso.
Além disso, foi usado um caso real como base do arco de Ed Munson (Joseph Quinn). Na mesma época em que se passa a ação, três adolescentes que jogavam RPG foram acusados e condenados pela morte de três crianças, gerando uma paranóia nacional sobre cultos satânicos mascarados por jogos de tabuleiro e heavy metal. Apenas dez anos mais tarde eles seriam inocentados.
O prólogo já anuncia o que a temporada trará, com um flashback de Eleven e Dr. Brenner, quando acontece um massacre que vitima quase todas as outras crianças-cobaias. No presente, os amigos estão separados em razão da mudança de Joyce, filhos e Eleven para a Califórnia, onde ela trabalha em televendas.
Will se fecha pela ausência dos amigos e pela identidade sexual – desde a primeira temporada já sabemos que ele é gay – enquanto Eleven sofre bullying da galera popular da escola. Sem poderes por conta dos acontecimentos da temporada anterior, ela se sente frustrada e impotente.
Jonathan passa os dias fumando maconha com o amigo Argyle (Eduardo Franco), sem coragem de contar para Nancy que não vai mais para a faculdade para estudarem juntos.
Em Hawkins, Max se afasta da turma por causa da mudança de vida com o divórcio da mãe e incômodos físicos que ela não sabe a causa. Lucas tenta entrar para os populares por meio do basquete, enquanto Mike e Dustin entram para um grupo de RPG chamado Hellfire Club e é liderado pelo carismático Ed Munson.
Nancy agora edita o jornal do colégio, tendo como colega o chato Fred (Logan Riley Bruner). Hooper – de forma não muito explicada – foi levado para a União Soviética, onde está preso em um gulag em Kamtchatka.
Joyce recebe uma correspondência da Rússia na forma de uma boneca russa, dentro da qual está uma carta revelando que o ex-chefe de polícia está vivo. Ela contata Murray e os dois partem ao Alasca para o encontro marcado.
O grande vilão da temporada e da série é Vecna (Jamie Campbell Bower), outro nome tirado de Dungeons and Dragons, que na verdade é um antigo morador de Hawkins com poderes similares ao de Eleven. Ele é o responsável pelo massacre do laboratório, mas acabou derrotado pela menina e enviado para o Mundo Invertido.
Vecna molda a dimensão como uma Hawkins distorcida e pretende abrir uma passagem interdimensional matando quatro jovens, sendo o quarto, Max. O doutor Owen, mesmo aposentado compulsoriamente, percebe a ameaça e a única capaz de detê-la é Eleven.
Ele a leva para um bunker em Nevada, onde quem está lá à sua espera é o dr. Brenner, vivinho da silva. Mas ele consegue seu objetivo, que é trazer de volta os poderes de Eleven.
É, talvez, a melhor temporada de Stranger Things, com alto valor de produção, sequências incríveis e um ótimo roteiro. Há muitas críticas para o arco na União Soviética, mas quando assistimos pela segunda vez – como eu – percebemos a importância para a história, inclusive, talvez, para o que virá.

Os destaques vão para Sadie Sink, que dá consistência ao drama de Max, e Joseph Quinn, o coadjuvante carismático da vez que morre, mas que a partir deste papel ganhou uma carreira, culminando com o Tocha Humana no novo Quarteto Fantástico: Primeiros Passos.
Não coincidentemente, os hits dos anos 80 ressuscitados da vez são deles: Running Up that Hill, de Kate Bush, como a canção que permite que ela evite Vecna; e Master of Puppets, do Metallica, que Ed toca guitarra em cima do trailer para atrair os demônios voadores.
O cliffhanger final, com Hawkins devastada pela abertura dos abismos do Mundo Invertido, é um chamariz e tanto para a temporada que estreia agora. O que vai acontecer? E o mais importante: QUEM VAI MORRER?
A seguir, cenas dos próximos capítulos…