Caos e Destruição (Havoc), dirigido por Gareth Evans, estreou na Netflix no último 25 de abril e coloca Tom Hardy (Venom) como o detetive Walker, mergulhado numa cidade chuvosa e neon, palco de corrupção policial e tiroteios operísticos.
O filme evoca o bullet ballet de John Woo (sem pombas brancas, calma) , mas com coreografias de ação brutais assinadas por Jude Poyer e captadas pela fotografia de Matt Flannery, mas o roteiro genérico demora a engrenar, limitando a profundidade dos personagens secundários.
Apesar das críticas ao enredo previsível, as sequências de ação – desde perseguições de carro até combates mano a mano e com o uso de diversas armas – entregam a dose de adrenalina esperada pelos fãs de Evans, embora fiquem aquém da visceralidade claustrofóbica de Operação Invasão 1 e 2.
Tom Hardy sustenta o longa com presença imponente, ainda que o filme não supere o legado de seu diretor.
Descendo ao caos: personagens, sinopse e bastidores
Walker (Tom Hardy) é um detetive veterano, marcado por conflitos internos e noites sem dormir, cuja rotina se transforma numa corrida contra o tempo quando o filho de um influente político (Forest Whitaker) é sequestrado após um acordo de drogas dar errado.
Ao lado de aliados de moral duvidosa, como o policial interpretado por Timothy Olyphant, Walker navega por becos e boates onde gangues da Tríade chinesa e policiais corruptos travam um jogo de gato e rato sangrento.
Parece um daqueles filmes em que se podia votar no finado Intercine, contra alguma comédia romântica da série B.
Filmado em locações de Cardiff e Swansea, no País de Gales, Caos e Destruição começou a ser produzido em julho de 2021, enfrentou atrasos por refilmagens e pela greve do SAG-AFTRA, mas ganhou tempo para Evans “interrogar cada quadro de ação”, segundo o próprio afirmou.
O roteiro é assinado por Evans em parceria com Aram Tertzakian e Ed Talfan, e a fotografia de Matt Flannery explora luzes de neon e sombras profundas, reforçando o clima noir que remete aos melhores thrillers dos anos 80/90.
É aquela fotografia escura, de uma cidade suja e repleta de luzes que… sim, você já viu por aí diversas vezes. Mas até aí, nenhum problema, certo?
Fúria estilizada: ação, violência e comparações
As sequências de ação são o grande destaque de Havoc (desculpa, prefiro o título original): cada tiroteio transforma-se em um balé de balas, com slow motion estratégico e uso criativo do cenário, lembrando as virtudes de John Woo – mas com a brutalidade extrema que se tornou marca registrada de Evans desde Operação Invasão.
Uma das cenas que vale destacar aqui envolve uma perseguição automotiva, filmada de forma bastante inventiva, em meio a eletrodomésticos caindo de um caminhão em alta velocidade, numa mistura de humor involuntário e tensão insana.
Por outro lado, o filme demora cerca de 30 minutos para “pegar no tranco”, investindo num prólogo investigativo que testa a paciência do público antes de liberar a avalanche de violência… e isso não seria um problema se essa parte fosse bem trabalhada, o que não é muito o caso.
Fica claro que a trama genérica — corrupção, traição e resgate — serve mais como estrutura para encaixar as coreografias do que como elemento narrativo de impacto, resultando em personagens coadjuvantes rasos e motivações previsíveis. Good cop, bad cop, traidores, redenção…
Ainda assim, Tom Hardy se sai bem nas poucas cenas silenciosas de reflexão e nas explosões de fúria: sua interpretação confere verossimilhança ao herói torturado, mesmo quando o roteiro sacrifica profundidade em prol do espetáculo visual.
O suporte de um elenco com nomes de relativo peso como Luis Guzmán, Michelle Waterson e Yeo Yann Yann é subaproveitado, mas garante momentos de alívio cômico e tensão adicional.
Comparado a Operação Invasão 1 e 2, Havoc carece daquele suspense claustrofóbico e da economia narrativa que fizeram de Evans um nome referencial no cinema de ação. Aqui, sobra violência e estilo, mas falta a construção dramática que tornava cada tiro e soco significativos.
Ainda assim, para quem busca um filme turboalimentado de balas e explosões, a experiência é satisfatória — basta aceitar que o enredo é apenas o pretexto para o caos. E destruição. Sacou?
Disponível na Netflix desde 25 de abril de 2025. Prepare a pipoca, ajuste o controle e mergulhe sem medo neste turbilhão de Caos e Destruição!