Review | A Vastidão da Noite

Uma das sensações do streaming nas últimas semanas é o longa A Vastidão da Noite, de Andrew Patterson, em cartaz na Amazon Prime Video. Com orçamento minúsculo, diretor estreante e elenco desconhecido, ele se tornou um fenômeno boca-a-boca, aqui no Brasil catapultado por uma crítica para lá de elogiosa de Tetê Ribeiro publicada na Folha de S. Paulo. O título da resenha foi Bruxa de Blair da ficção-científica, ‘A Vastidão da Noite’ é uma joia indie. Joia indie, sem dúvida, mas Bruxa de Blair sci-fi, well…

Uma das inspirações do longa é explicitado logo na abertura, com uma TV antiga exibindo um programa chamado Paradox Theater, numa referência à série fantástica mais icônica da época, Twilight Zone. A narrativa propriamente dita, num longo plano-sequência como está na moda, também é uma citação de uma obra da época, A Marca da Maldade, de Orson Welles.

Tendo como protagonistas o radialista Everett (Jake Horowitz) e a estudante Fay (Sierra McCormick), o filme narra estranhos acontecimentos na cidadezinha de Cayunga, Novo México, em que a noite (filmes de terror são mais baratos porque economizam em iluminação), a fotografia em preto-e-branco, o cenário de uma cidade pequena e muita criatividade permitem que se faça muito com pouco. A ambientação de época também é um destaque, com referências ao macarthismo, a Elvis e ao temor nuclear, sendo mais convincente que muita produção mais abonada.

Homenagem

Além do virtuosismo de câmera – que não é apenas preciosismo, mas se insere na narrativa e, de quebra, homenageia mestres como Hitchcock e Kubrick – o roteiro é muito bem escrito e a direção de atores é ótima, dando tridimensionalidade aos personagens, até em aparições rápidas.

Ao invés de A Bruxa de Blair, A Vastidão da Noite pode bem ser A Bruxa do sci-fi, com o diretor Andrew Patterson seguindo carreira como Robert Eggers e sua estrela Sierra McCormick sendo uma nova Anya Taylor-Joy. Vale a pena conferir e acompanhar.

Minha nota é nove. Talvez seja um exagero, mas, às vezes, como nos vinhos, o custo-benefício é um critério importante. Além do mais, seu lançamento direto no streaming pode indicar uma saída importante do cinema indie, ainda mais num momento em que a exibição em salas está em xeque por causa do Novo Coronavírus.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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