Enquanto os filmes sobre a pandemia não chegam, um dos temas que permanece em evidência é o das fake news no cenário político. Por isso, Rede de Ódio – novidade na Netflix – acaba se tornando relevante enquanto à sua temática e se destaca também pela direção de Jan Komasa e roteiro de Mateusz Pacewicz.
A dupla de Corpus Christi (filme indicado ao Oscar internacional deste ano) segue na mesma sintonia, lidando com seriedade e desenvoltura com temas atuais que geram boas discussões, ao mesmo tempo que nos intrigam com um protagonista tão ambíguo.
Em Rede de Ódio conhecemos Tomasz (Maciej Musiałowski), um jovem estudante de direito que é expulso da faculdade por plágio. Logo ele é contratado por uma agência de mídias sociais, onde fica incumbido de perseguir e difamar influencers e figuras políticas.
O que mais impressiona é como Komasa domina cada nó de uma história que vai se emaranhando conforme o protagonista vai se envolvendo com suas vítimas, colegas de trabalho e familiares, criando assim a tal rede de ódio do título brasileiro. A própria montagem nos confunde às vezes, num jogo de planos que nos desafia a estar sempre atentos ao próximo passo de Tomasz.
A Origem
Lembram de A Origem, de Christopher Nolan? Lá, DiCaprio e sua trupe tinham que adentrar os sonhos de uma pessoa e “plantar” uma ideia para que aquela pessoa realizasse algo sem ter sido motivada diretamente. É mais ou menos o que Tomasz faz aqui. Munido de contas falsas nas redes sociais e outros aparatos, como escutas, ele deve destruir a imagem de um candidato a prefeito sem deixar rastros.
Órfão e sem vida social (a fotografia escura potencializa esse isolamento, tal qual o videogame – quase uma Deep Web para fazer contatos), Tomasz não tem muito a perder, por isso, mergulha de cabeça em seu novo ramo e não demora para que seja um destaque da agência.
Sua frieza (e a expressão constantemente congelada de Musiałowski impressiona) corrobora sua sociopatia. Desde o início sabemos que estamos diante de uma pessoa sem escrúpulos que, mesmo na pior das situações, quer ser bajulado ou estar por cima da carne seca, como dizem no popular.
Mesmo que isso seja evidente na interpretação de Musiałowski, é difícil ‘compreender’ Tomasz. Assim, Rede de Ódio não serve só de alerta para o óbvio perigo das fake news e de como elas podem manipular campanhas e massas, mas serve também como um complexo estudo de personagem. Indecifrável até o final, as motivações e interesses de Tomasz nunca ficam claros e sua perturbação é também a nossa. Afinal, o crime compensa?
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