Enrolei um bocado para assistir Dark. Comecei, parei, e só fui adiante mesmo após o hype da terceira temporada, encerrada há pouco na Netflix. É a primeira série em língua não-inglesa da plataforma de streaming e seu sucesso estimulou a produção de diversas outras ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Após a última temporada, o Rotten Tomatoes a elegeu a melhor de todo o catálogo da Netflix, incluindo Stranger Things.
A essa altura do campeonato, é meio redundante fazer um review, mas se você ainda tem dúvidas e leva esta opinião a sério, recomendo que veja, com paciência e mente aberta. É um refresco dos manuais de roteiro de Hollywood, que fazem as séries americanas se parecerem entre si. O que pretendo a seguir é analisar aspectos de Dark segundo um nerd descolado em sci-fi, HQ e cinema.
SPOILERS ALERT
Com o olhar calejado de viagens no tempo e por dimensões paralelas, ao final da primeira temporada pensei: “é o Lost dos millenials” (tinha até uma porta de ferro…). A conclusão tipo Planeta dos Macacos instigava para uma continuação, mas também servia como final aberto, caso ficasse por ali mesmo. Por mais que os idealizadores Baran Bo Odar e Jantje Friese tivessem esboçado o que fazer a seguir, tenho uma certeza razoável de que a maior parte da viagem que se seguiu foi elaborada a partir da aprovação de uma segunda temporada.
Quando a ficção científica volta os relógios, linearmente há duas consequências. O primeiro, mais conhecido por causa de De Volta ao Futuro, é consertar o que aconteceu para melhorar o presente, evitando o Paradoxo do Avô, ou seja, fazer algo que que o impeça de existir (no caso, atrapalhando o primeiro encontro de seu pai e sua mãe). O outro, conclui que o passado é imutável, como, por exemplo, num episódio de Além da Imaginação, No Time Like the Past, de 1963, em que um cientista tenta evitar grandes catástrofes históricas, mas falha em todas.
A escolha de Dark é usar a Teoria Quântica, mais ou menos da mesma forma que Vingadores: Ultimato faz para justificar sua bagunça temporal. Como disse recentemente o filósofo Leandro Karnal em um programa de TV, quando alguém que não é físico usa o termo quântico, é charlatanismo. Desculpe quem viajou na maionese com as idas e vindas de Jonas/Adam e Martha/Eva achando que havia um mínimo de ciência envolvida: não há. Segundo Einstein, é até possível viajar ao futuro como em Interestelar, mas não ao passado. A Teoria Quântica, por sua vez, diz respeito apenas a partículas subatômicas e seus comportamentos que fogem ao senso comum.
As referências da série vêm é da cultura pop, o que é evidenciado pela data 12 de novembro, exaustivamente usada, e que também é chave em De Volta para o Futuro. Já citei a porta de Lost, mas portal do tempo é algo familiar também para fãs de Star Trek – A Série Original, no célebre episódio The City on the Edge of Forever, em que o doutor McCoy volta aos anos pré-Segunda Guerra nos EUA e inadvertidamente muda a História para pior ao fazer uma boa ação. Isso para não falar de Superman – O Filme, em que o Homem de Aço faz a Terra girar ao contrário só para salvar sua amada Lois Lane (e que inspirou Gilberto Gil a compor Super-Homem – A Canção). O homem não consegue controlar seu desejo.
Falando em Superman, foi a DC que criou o conceito Mundos Paralelos nas HQs, com a Terra 2, na qual os super-heróis lutaram na Segunda Guerra Mundial (formando a Sociedade da Justiça da América); e a Terra 1 (da Liga da Justiça), em que os heróis surgiram vinte anos depois. Isso tudo acabou no mega crossover Crise das Terras Infinitas, nos anos 80, que eliminou o Multiverso e concentrou tudo em um só Universo, para acabar com a bagunça (alguém acompanha os seriados da CW? Pois é…). Quem leu a saga e não lembra da cena em que o Super-Homem original e sua Lois Lane (no Brasil, Miriam Lane) desaparecem no limbo quando a Terra 2 deixa de existir? Não tenho como afirmar que isso inspirou os criadores de Dark, mas no caso do sucesso obrigar a uma quarta temporada, restará a eles repetir a DC e recriar as realidades paralelas por causa da grana.
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