Oppenheimer foi o grande vencedor do Oscar 2024, para surpresa de ninguém. Muita gente achou a previsibilidade da premiação ruim, mas não tem porque. O favoritismo do filme de Christopher Nolan se devia às suas muitas qualidades e não pela falta de concorrência, como aconteceu em anos recentes. Esta é a melhor safra do Prêmio da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas desde 2008, quando Onde os Fracos Não Têm Vez bateu Sangue Negro, Desejo e Reparação, Michael Clayton e Juno.
Barbie pode ter superado Oppenheimer na bilheteria do Barbieheimer, mas o longa sobre a construção da primeira bomba atômica deu um banho no Oscar. Das onze indicações levou sete, enquanto o filme da boneca ganhou apenas o de Canção Original, What I Was Made For, de Billie Ellish e seu irmão Finneas O’Connor, das oito possíveis. Por outro lado, proporcionou um dos pontos altos da cerimônia, que foi Ryan Gosling cantando I’m Just Ken, com a participação de luxo do guitarrista Slash, para alegria de Aline Diniz, caminhando para ser o que Rubens Edwald Filho foi para a transmissão do Oscar na TV aberta.
Sejamos justos e francos: a lavada de Oppenheimer no Oscar consagra o cinemão que Hollywood cultivou nestes quase cem anos de premiação. Um filme adulto, fora de franquias, com tema sério, atuações consistentes e, acima de tudo, muito bem executado. Quando acontece a esquizofrenia de uma produção levar o prêmio de filme, mas não de diretor, é porque a Academia não se convence plenamente dos méritos do vencedor. É meio “não tem tu, vai tu mesmo”. Isso não aconteceu com o grande vencedor da noite de domingo, que além das estatuetas de Filme e Diretor, consagrou Cillian Murphy e Robert Downwy Jr. como Ator e Ator Coadjuvante, deu a primeira indicação ao Oscar para Emily Blunt.
Pobres Criaturas, com quatro estatuetas, poderia ter se saído melhor se não houvesse a competição de Oppenheimer. Já no final do ano passado, a atuação de Emma Stone começou a arrebatar público e crítica, que até então davam como certa a consagração da primeira nativa americana a ser indicada como Atriz, Lilly Gladstone, por Assassinos da Lua das Flores (que acabou saindo sem nada). E os demais prêmios do filme de Yorgos Lathmos – Direção de Arte, Figurino e Cabelo e Maquiagem – também foram muito merecidos. Acho até que a Trilha Musical de Jerskin Fendrix é superior à do vencedor Ludwig Goransson, mas aí, a tempestade perfeita de Oppenheimer já estava formada.
Destaques também para as vitórias de O Menino e a Garça, com Hayao Miyazaki repetindo A Viagem de Chihiro vinte anos depois, batendo o favorito de muitos, Homem-Aranha no Aranhaverso (para mim, um meio filme) em Longa de Animação; Zona de Interesse com seus prêmios de Filme Internacional e Som; o japonês Godzilla Minus One ganhando Efeitos Visuais com seu orçamento de US$ 15 milhões; e Wes Anderson levando seu primeiro troféu da Academia com o curta A Incrível História de Henry Sugar, que é parte de uma série baseada na obra de Roald Dahl (A Fantástica Fábrica de Chocolate) que ele fez para a Netflix.
A única zebra de toda premiação foi o Oscar de Roteiro Adaptado para Ficção Americana, escrito e dirigido por Cord Jefferson, uma produção subestimada até pelo streaming Prime Video, que sequer o colocou em destaque, sendo a única via para assistí-la no Brasil.
A cerimônia em si, comandada por Jimmy Kimmel, foi muito boa, especialmente pelo horário mais cedo – terminou às onze e pouco no Brasil – , pela dinâmica e apresentações musicais mais curtas. Aliás, a mais longa foi justamente I’m Just Ken, um dos pontos altos do show, junto com John Cena pelado (lembrando os 50 anos da surpresa de David Niven ao ver um sujeito correndo nu pelo palco, na cerimônia de 1974) para apresentar o prêmio de Figurino. Uma ótima ideia também foi a dos cinco ex-vencedores das categorias de atuação para apresentar os indicados do ano. Deveria se repetir nos próximos anos. Kimmel também se saiu bem, sem ser agressivo como Chris Rock há dois anos ou anódina como Ellen DeGeneres há dez anos. Um ficou famoso pelo tapão, a outra pelo selfie com astros e estrelas.
Outro momento marcante foi o In Memorian, apesar de mal dar para ver quem morreu na temporada, teve a performance de Andrea Boccelli e seu filho Matteo cantando a manjadíssima mas ainda assim emocionante Con Te Partiró.
Todos os Indicados e vencedores
Melhor filme
- ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
- ‘Ficção americana’
- ‘Anatomia de uma queda’
- ‘Barbie’
- ‘Os rejeitados’
- ‘Assassinos da Lua das Flores’
- ‘Maestro’
- ‘Vidas Passadas’
- ‘Pobres Criaturas’
- ‘Zona de interesse’
Melhor atriz
- Lily Gladstone – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Sandra Hüller – ‘Anatomia de uma queda’
- Carey Mulligan – ‘Maestro’
- Emma Stone – ‘Pobres criaturas’ (VENCEDORA)
- Annette Bening – ‘Nyad’
Melhor direção
- Yorgos Lanthimos – ‘Pobres criaturas’
- Jonathan Glazer – ‘Zona de interesse’
- Christopher Nolan – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
- Martin Scorsese – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Justine Triet – ‘Anatomia de uma queda’
Melhor ator
- Bradley Cooper – ‘Maestro’
- Colman Domingo – ‘Rustin’
- Paul Giamatti – ‘Os rejeitados’
- Cillian Murphy – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
- Jeffrey Wright – ‘Ficção americana’
Melhor canção original
- ‘It Never Went Away’, Jon Batiste – ‘American Symphony’
- ‘I’m Just Ken’, Mark Ronson e Andrew Wyatt – ‘Barbie’
- ‘What Was I Made For?’, Billie Eilish e Finneas – ‘Barbie’ (VENCEDORA)
- ‘The Fire Inside’, Diane Warren – ‘Flamin’ Hot’
- ‘Wahzhazhe (A Song For My People)’, Osage Tribal Singers – ‘Assassinos da Lua das Flores’
Melhor trilha sonora
- Laura Karpman – ‘Ficção americana’
- John Williams – ‘Indiana Jones e a Relíquia do Destino’
- Robbie Robertson – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Ludwig Göransson – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
- Jerskin Fendrix – ‘Pobres criaturas’
Melhor som
- ‘Resistência’
- ‘Maestro’
- ‘Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um’
- ‘Oppenheimer’
- ‘Zona de interesse’ (VENCEDOR)
Melhor curta-metragem
- ‘The After’
- ‘Invincible’
- ‘Knight of Fortune’
- ‘Red, White and Blue’
- ‘The Wonderful Story of Henry Sugar’ (VENCEDOR)
Melhor fotografia
- Hoyte van Hoytema – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
- Matthew Libatique – ‘Maestro’
- Rodrigo Prieto – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Robbie Ryan – ‘Pobres criaturas’
- Edward Lachman – ‘O Conde’
Melhor documentário
- ‘Bobi Wine: The People’s President
- ‘A memória infinita’
- ‘Four Daughters’
- ‘To Kill a Tiger’
- ’20 dias em Mariupol’ (VENCEDOR)
Melhor documentário em curta-metragem
- ‘The ABCs of Book Banning’
- ‘The Barber of Little Rock’
- ‘Island in Between’
- ‘The Last Repair Shop’ (VENCEDOR)
- ‘Nǎi Nai & Wài Pó’
Melhor montagem
- ‘Anatomia de uma queda’
- ‘Os rejeitados’
- ‘Assassinos da lua das flores’
- ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
- ‘Pobres criaturas’
Melhores efeitos visuais
- ‘Resistência’
- ‘Godzilla Minus One’ (VENCEDOR)
- ‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’
- ‘Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um’
- ‘Napoleão’
Melhor ator coadjuvante
- Sterling K. Brown – ‘Ficção americana’
- Robert Downey Jr. – ‘Oppenheimer’ (VENCEDOR)
- Mark Ruffalo – ‘Pobres Criaturas’
- Robert De Niro – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Ryan Gosling – ‘Barbie’
Melhor filme internacional
- ‘A sala dos professores’ – Alemanha
- ‘Eu, capitão’ – Itália
- ‘Dias perfeitos’ – Japão
- ‘Sociedade da neve’ – Espanha
- ‘Zona de Interesse’ – Reino Unido (VENCEDOR)
Melhor figurino
- Jacqueline Durran – ‘Barbie’
- Jacqueline West – ‘Assassinos da Lua das Flores’
- Holly Waddington – ‘Pobres criaturas’ (VENCEDORA)
- Janty Yates e Dave Crossman – ‘Napoleão’
- Ellen Mirojnick – ‘Oppenheimer’
Melhor direção de arte
- ‘Barbie’
- ‘Assassinos da Lua das Flores’
- ‘Oppenheimer’
- ‘Pobres criaturas’ (VENCEDOR)
- ‘Napoleão’
Melhor maquiagem e cabelo
- ‘Golda’
- ‘Maestro’
- ‘Oppenheimer’
- ‘Pobres criaturas’ (VENCEDOR)
- ‘Sociedade da neve’
Melhor roteiro adaptado
- ‘Ficção americana’ (VENCEDOR)
- ‘Barbie’
- ‘Oppenheimer’
- ‘Pobres Criaturas’
- ‘Zona de interesse’
Melhor roteiro original
- ‘Anatomia de uma queda’ (VENCEDOR)
- ‘Os rejeitados’
- ‘Maestro’
- ‘Segredos de um escândalo’
- ‘Vidas Passadas’
Melhor animação
- ‘O menino e a garça’ (VENCEDOR)
- ‘Elementos’
- ‘Nimona’
- ‘Homem-Aranha: Através do Aranhaverso’
- ‘Meu amigo robô’
Melhor curta de animação
- ‘Letter to a Pig’
- ‘Ninety-Five Senses’
- ‘Our Uniform’
- ‘Pachyderme’
- ‘War Is Over! Inspired by the Music of John & Yoko’ (VENCEDOR)
Melhor atriz coadjuvante
- Emily Blunt – ‘Oppenheimer’
- Danielle Brooks – ‘A cor púrpura’
- America Ferrera – Barbie
- Jodie Foster – ‘Nyad’
- Da’Vine Joy Randolph – ‘Os rejeitados’ (VENCEDORA)
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