Review | Águas Profundas (Prime Video)

Relações Rasas

Águas Profundas, lançamento exclusivo do Prime Video, é um suspense que, simbolicamente, até consegue exorcizar, de forma razoável, alguns demônios de nossas mentes, que surgem quando refletimos sobre relações destrutivas das quais não conseguimos escapar tão facilmente. No entanto, o filme desenvolve essa ideia com a mesma profundidade de músicas sertanejo universitárias.

Vic (Ben Affleck) é um pai dedicado e Melinda (Ana de Armas) é uma mãe insatisfeita com a rotina. Eles sempre saem para se divertir com amigos, enquanto deixam a filha com uma babá.

Em cada evento, Melinda flerta abertamente com algum rapaz, o que deixa o marido incomodado, ainda mais quando o pretendente da vez é convidado pela esposa a confraternizar com sua família na própria casa.

À medida que os amantes da mulher são ameaçados por Vic, ele se torna suspeito de uma série de crimes e se torna alvo da perseguição de alguém de seu círculo social.

Baseado no livro de Patricia Highsmith publicado nos anos 50 e dirigido por Adrian Lyne, de Atração Fatal e Lolita, a história roteirizada por Sam Levinson, criador da série Euphoria, gira em torno do pai cuidando da educação da filhinha e lidando com os excessos da companheira nas festas.

Desconforto

Como a obra aborda o ponto de vista do marido traído, o desconforto que ele sente justifica os atos que culminam no arquétipo de anti-herói, seja culpado ou inocente pelo que ocorre com os namoradinhos da companheira. Essa justificativa é enfatizada quando ele cogita retribuir o que sofre na mesma medida e é repreendido por uma postura ciumenta dela.

Nesse instante, fica brevemente no ar a sensação de que eles almejam exatamente essa competitividade de reconquista. Porém, não demora para que tudo volte a se desequilibrar novamente, mostrando uma relação nada saudável.

Apesar da trama sugerir, em alguns momentos, que Melinda seja uma esposa disposta meramente a apimentar a vida de casada, o que se vê, todavia, é Ana de Armas agindo como uma repulsiva adolescente inconsequente.

Ben Affleck segue o mesmo tom de incômodo durante todo o filme, não oferecendo margem de interpretação a uma provável cumplicidade que ele teria com a esposa, intencionada outrora em outra cena.

Tudo é montado de modo que não demora muito a se revelar a trama, impedindo que o espectador levante hipóteses para o que está ocorrendo, mesmo que caminhos diferentes sejam indicados.

A trilha sonora com músicas pop ameniza ainda mais o baixo clima de tensão criado. As raras cenas que sugerem bem pouco de sensualidade, então, mais incomodam do que estimulam.

Desse modo, Águas Profundas acaba não instigando nada além da reflexão de que soluções passionais até saciam vontades momentâneas de como lidar com fatos desagradáveis, mas dificilmente serão postas em prática, visto que há alternativas bem mais eficazes de serem encaradas, como um processo de divórcio.

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