Em sua primeira experiência solo nos cinemas, o diretor Albert Hughes – conhecido até aqui pelos filmes Do Inferno (2001) e O Livro de Eli (2010), ambos realizados em parceria com o irmão Allen Hughes – se aventura nesta nova produção prometendo revelar o início da relação entre homens e caninos. Para isso ele volta vinte mil anos na história, período onde o jovem Keda (Kodi Smit-McPhee) fará uma improvável amizade, que implicará no comportamento social até os dias de hoje.
Enquanto participa de sua primeira caçada, um rito de passagem para o grupo de elite de sua tribo, o jovem Keda (Kodi Smit-McPhee, competente) é ferido e deixado para morrer. Ao despertar, ferido e sozinho, ele precisa encontrar meios de sobreviver e se guiar pela natureza dura e implacável. E quando ele relutantemente domina um lobo selvagem que foi abandonado por seu bando, os dois aprendem a confiar um no outro e se tornam aliados improváveis, enfrentando perigos incontáveis e superando todos os desafios para poderem voltar para suas casas antes que um inverno mortal se instale.
Visualmente, Alfa é maravilhoso. O cenário construído durante a projeção é rico em detalhes e traz toda a beleza do mundo de outrora, de uma época onde a intervenção humana era mínima. A direção de Albert Hughes garante belos planos e sequências bem estilosas, tudo muito bem explorado no primeiro terço do filme, pois não demora muito para que se perceba que o empolgante e bem realizado prólogo seja minutos depois mal aproveitado e até esquecido.
A inspiração para uma grande história se perde no ritmo lento e demorado da metade para o final, é neste momento que o roteiro fraco não consegue suportar tudo o que estava sendo construindo. A falta de um roteiro mais elaborado e com uma narrativa mais interessante, deixam a história muito simples e com poucos elementos que prendam e envolvam o espectador. Para piorar, o roteiro utiliza diálogos batidos o tempo inteiro, insistindo em explicar a história. O didatismo dos diálogos soam sem impacto, o protagonista avisa tudo o que vai fazer antes de fazer, solução pouco inteligente para situar o espectador nos fatos.
Se acreditasse mais em seu roteiro, Daniele Sebastian Wiedenhaupt, com base em uma história de Hughes, seria capaz de explorar as capacidades visuais e sonoras de seu projeto, assim, ao invés de tentar dialogar com o lobo, o protagonista usaria o silêncio e o olhar para uma maior cumplicidade.
Os efeitos visuais funcionam muito bem e o uso do 3D é discreto. A fotografia traduz em cores os sentimentos do protagonista, a trilha sonora e o som compõem um ambiente pré-histórico bem tenso. A lentidão do filme do meio para o fim poderia ser resolvida com cenas de ação, mas elas são escassas e quando acontecem não conseguem o efeito esperado. Situar a história num ambiente inóspito, cercado de animais perigosos seria um gancho óbvio para meia dúzia de cenas, mas não existe interesse em explorá-las. Faltam ameaças e surpresas à jornada por este mundo distante e selvagem.
Alfa se vende como uma história de um garoto e seu cão em busca da sobrevivência, mas o cansaço e a fragilidade da história chamam mais a atenção do que a emoção que deveria ser passada. Falta ousadia em assumir riscos, sobram imagens bonitas, que não contextualizadas na história, pouco tem a dizer.
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