Review | A Freira

Desde 2013, o fenômeno Invocação do Mal transformou-se em algo muito maior do que o imaginado à época. Depois dele, quatro filmes deste universo foram lançados: Annabelle (2014), Invocação do Mal 2 (2016), Annabelle 2: A Criação do Mal (2017) e, agora, A Freira, que se torna o quinto capítulo desta franquia que parece não ter fim, já que Invocação do Mal 3, Annabelle 3 e The Crooked Man (um derivado da franquia) devem ser lançados entre 2019 e 2020.

Há de se louvar (ou não) a insistência com que as produções de James Wan resistem ano a ano. Sobrenatural e Jogos Mortais são dois exemplos de franquias com o envolvimento de Wan que são abastecidas até hoje, mesmo tanto tempo depois do primeiro lançamento. O primeiro Jogos Mortais data 2004, enquanto o primeiro Sobrenatural é de 2010, e ambos tiveram filmes lançados em 2017 e 2018, ou seja, o nome de Wan é forte.

Com isso, não é de se espantar que o universo criado em Invocação do Mal venha se expandindo cada vez mais. Basta colocar um elemento qualquer em um dos filmes para que o público se empolgue e queira ver algum filme contando a origem daquilo.

Foi o caso da freira, que apareceu pela primeira vez em Invocação do Mal 2 num sonho da personagem Lorraine Warren (Vera Farmiga), que depois a pintou e pendurou o quadro (imagem abaixo).

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Por ser uma história de origem não há muito o que inventar, o filme tem curtíssima duração para os padrões atuais, são 80 minutos de uma história que poderia render muito mais, não em tempo, mas sim em execução, ainda mais saindo das mãos do diretor de A Maldição da Floresta (2015), Corin Hardy, que ali mostrara saber criar um ótimo clima de horror psicológico e brincar com lendas irlandesas, mesmo que no ato final seja barulhento demais, basicamente o mesmo problema deste A Freira, porém, há outras ressalvas a serem feitas.

Antes disso, vale contar rapidamente o plot do filme. Em A Freira, o padre Burke (Demián Bichir de Alien: Covenant) é designado pelo Vaticano para investigar o suicídio de uma freira em um convento num pequeno vilarejo nos confins da Romênia, chegando lá ele ganhará a companhia na noviça Irene (Taissa Farmiga de Terror nos Bastidores) e de Frenchie (Jonas Bloquet de Elle), o rapaz que achou o corpo da freira.

Com uma cena de abertura típica dos filmes de terror – que não entrarei em detalhes sobre – o filme começa de maneira satisfatória, Hardy utiliza bem o espaço da floresta que cerca o convento e leva seus personagens ao local onde o corpo da freira estava, culminando num encontro inesperado já dentro do convento, entretanto, a presença de Frenchie, já nos primeiros instantes – principalmente quando conhece o padre Burke e a irmã Irene – dá a mostra de que o personagem é descartável e um alívio cômico irritante.

Quem inventou que os filmes de terror de hoje em dia precisam deste tipo de personagem? Outros filmes comerciais deste ano – Um Lugar Silencioso e Hereditário são bons exemplos disso – já mostraram que um bom roteiro não precisa de personagens que façam piadinhas a todo instante, muito menos em momentos extremamente inoportunos. Mesmo em um filme comercial e direcionado ao público médio, é preciso entender que o público também gosta de passar medo e não ficar rindo a todo instante.

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Apesar da ideia de Hardy em nos levar para um passeio pelo convento mal-assombrado, o roteiro de Gary Dauberman (que assina ambos Annabelle) não nos coloca em situações realmente assustadoras. Falta tudo que um filme de terror precisa para sair do lugar-comum. A freira, quando aparece, se mostra poderosíssima, capaz de jogar suas vítimas longe só com uma virada de cabeça e uma careta feia e, embora tenha um fim convincente, sua participação é relegada durante boa parte da história.

O trio principal, embora não funcione tão bem junto, já que vira vítima das piadinhas de Frenchie, é pior ainda quando separado. O padre Burke é assombrado por um garoto de seu passado – será que o caso vira filme também? –, a irmã Irene fica no convento reunida com as outras freiras e sofrendo mais com o local, enquanto Frenchie deixa o lugar e volta depois para disparar tiros nas assombrações com sua espingarda.

E é isso, o filme é uma sucessão de escolhas fáceis, rápidas, sem sentido e uma busca por algo que não fica muito claro ao espectador sem que os personagens precisem explicar o que é. Falta um senso de perigo ao espectador, desde o início sabemos que tudo vai dar certo para eles, não conseguimos ver uma ameaça clara, não conseguimos nos apegar ao trio e as escolhas de Hardy também não ajudam, falta algo que dê para notar a mão do diretor, o filme parece rodar no automático, resumindo, é uma experiência insossa, sem clima e sem sustos.

Um sinal de que a franquia Invocação do Mal pode até sobreviver, mas precisa de melhores apostas para isso. Está na hora de apelar aos Warren novamente.

 

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