Com o ano quase terminando, a Netflix deixou para os últimos dias um de seus mais aguardados lançamentos: Bird Box, adaptação do best-seller Caixa de Pássaros, do autor Josh Malerman, estrelado por Sandra Bullock. A adaptação estreia rodeada de expectativas e incertezas, a maior delas a respeito quanto à insegurança de se fazer uma adaptação de um livro extremamente popular, surpreendente e imprevisível, que consegue a cada página prender a atenção do leitor, que se vê obrigado a ler o mais rápido possível toda a obra, em busca de respostas para todos os mistérios presentes em uma história repleta de suspense.
A missão da adaptação veio pelas mãos de Eric Heisserer, roteirista de produções medianas de terror, que acabou chamando recentemente a atenção da crítica pelo filme A Chegada (2016), adaptação que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Assim como no livro, Heisserer trabalha a história em duas linhas temporais que se intercalam durante o longa. Numa delas acompanhamos a jornada de Malorie (Sandra Bullock), na companhia de duas crianças, em busca de um lugar seguro, num aparente cenário pós-apocalíptico. Já a outra explica ao público os perigos, os terríveis acontecimentos e o caminho trilhado pela protagonista até chegar ali.
A direção ficou a cargo da dinamarquesa Susanne Bier, responsável por trabalhos como Em um Mundo Melhor (2010), vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e a minissérie The Night Manager (2016). A diretora constrói uma história de sobrevivência, regada a vários momentos de terror e suspense, mas sem deixar de lado o drama maternal que acaba prevalecendo na maior parte do filme.
Mesmo não mantendo a insegurança e a imprevisibilidade do material original, a história de Bird Box consegue prender a atenção, mesmo quando recorre a elementos batidos do gênero ou se apressa em resolver algumas situações. A condução das duas linhas temporais não se realiza com a mesma eficiência. Sozinha em cena com duas crianças, de olhos fechados e navegando por um rio completamente isolado, o filme ganha contornos apocalípticos e de muito suspense. Mas quando precisa dividir espaço com as cenas de flashback, que existem para situar o expectador no universo em que o filme habita, a tensão é dizimada e sobra muito tempo para dramas sem importância e personagens mal desenvolvidos.
Em momento algum, a criatura que apavora a protagonista é revelada. Público e personagem ficam reféns da história da mesma maneira, cabe a quem assiste imaginar como ou o que é a ameaça sempre presente em cena. Impossível não se lembrar de Um Lugar Silencioso (2018), lançado recentemente com enorme sucesso. Os dois filmes partem de premissas parecidas, mas obtém resultados diferentes. Enquanto o excelente filme de John Krasinski sabe tirar proveito do silêncio, criando uma atmosfera genuína de terror e insegurança, aproveitando bem as mais diversas situações, em Bird Box, que se utiliza da falta de visão, não consegue repetir bons momentos. Faltam melhores desdobramentos e situações mais originais. A tentativa de criar algo assustador muitas vezes é limitado a resoluções simplórias.
Competente como sempre, Bullock se transforma de maneira convincente em uma dura sobrevivente. Ao seu lado surgem bons nomes que formam o elenco de apoio, como Trevante Rhodes, Sarah Paulson, John Malkovich e Jacki Weaver. Pena que muitos deles não alcancem o devido destaque. Rhodes, assim como visto em Moonlight – Sob a Luz do Luar (2016), impressiona pelo carisma, funcionando bem em cena fazendo um contraponto interessante com Bullock.
Ao final, Bird Box recorre à esperança, que seria até mais comovente se a interação com a protagonista fosse maior. Mesmo carregando todo o filme nas costas de maneira bem competente, a produção não pode depender exclusivamente do carisma e potencial de sua estrela. Falta ousadia para que a produção decole e consiga despertar o medo ou o interesse do público.
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Confira uma prévia de cinco minutos de Bird Box, uma cortesia da Netflix:
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