Review: Byzantium: Uma vida eterna

Navegando pela Netflix noite dessas, me deparo com esse título, Byzantium: Uma vida eterna, de 2012, estrelando Saiorse Ronan (Ladybird e Adoráveis Mulheres) e Gemma Atterton (Fúria de Titãs e Príncipe da Pérsia), coadjuvadas por Johnny Lee Miller (Transpotting e Elementary) e Sam Riley (o Jack Kerouac de Na Estrada). Tudo indica ser um filme de vampiro, e dirigido por Neil Jordan, o mesmo de Entrevista com o Vampiro! Além de nunca ter ouvido falar no filme, após assisti-lo fui fuçar no Google e só encontrei reviews brasileiros a partir de 2017, que foi quando ele entrou no catálogo da Netflix.

Gemma é Clara, uma striper casca-grossa que faz tudo para sustentar a “irmã” Eleanor, que logo no começo se revela uma vampira, que só mata idosos que pedem pela eutanásia. A narrativa alterna os tempos atuais com flash backs, em que conhecemos tanto a história das duas mulheres como da dinâmica da comunidade de imortais que as perseguem.

Se no seu clássico moderno dos sugadores de sangue feito em 1994, Jordan se baseou no best-seller de Anne Rice, desta vez a história veio de uma peça de Moira Buffini, que também roteirizou, e que tem entre seus créditos o recente A Escavação, da Netflix. A escritora cria uma nova mitologia baseada na Irlanda – não por coincidência, terra de Bram Stoker, o autor de Drácula – como uma metáfora do sistema de classes britânica e opressão feminina. A voluptuosa Clara não é uma predadora, mas vítima de um destino muito comum às mulheres do século XIX, a prostituição forçada, e sua única motivação é livrar sua filha de uma sina igual. Nessa inversão de protagonismo, o filme não deixa de se referenciar ao ciclo da Hammer, estúdio inglês que se especializou no terror, em que normalmente as mulheres ou eram presas ou escravas do conde vampiro, e a cerimônia para que elas se livrassem da maldição envolvia um estupro simbólico, com uma estaca enfiada entre os seios.

É meio como se Jordan fizesse um revisionismo de seu trabalho mais bem sucedido, que era um mundo vampiresco quase inteiramente masculino – à exceção de uma impúbere Kirsten Dunst – , ainda que homoerótico. Clara e Eleanor são outsiders do mundo dos vivos e também desses vampiros aristocratas, cujo ingresso para imortalidade não é uma mera mordida, mas uma jornada de iniciação que remete aos mistérios de Elêusis, assim como outra organização só para homens, a Maçonaria.

Não é uma obra memorável como Entrevista com o Vampiro, e talvez a esta inevitável comparação se deva a recepção morna e o lançamento limitado da produção. Mas passados nove anos, seu pano de fundo tornou-se muito mais relevante e Byzantium acaba se destacando no catálogo da Netflix como um produto acima da média e muito interessante.

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