O assassinato de George Floyd em 25 de maio, ocorrido no estado de Minnesota, Estados Unidos, gerou revolta social e uma onda de protestos antirracistas e contra a violência policial, que ganhou proporções gigantescas por todo o mundo. Spike Lee, cineasta conhecido por filmes extremamente necessários para o entendimento e debate de questões raciais na nossa história, surge agora, em tempos tão difíceis, com um filme que dialoga totalmente com o atual cenário político e racial.
Destacamento Blood, lançado pela Netflix, chega após o premiado Infiltrado na Klan, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, o primeiro da carreira de Spike Lee. Ao longo de mais de 30 anos, coube ao cineasta entregar algumas obras-primas, sempre mostrando a luta contra injustiças sociais e dando voz às minorias. A importância de seus filmes foi crescendo no decorrer dos anos e seu ativismo torna-se ainda mais pertinente agora, quando a violência contra Floyd surge como mais um triste exemplo e ganha às manchetes mundiais, elevando o tom nas necessárias discussões e manifestações antirracistas.
Aliás, vale lembrar que Spike Lee seria o presidente do júri do Festival de Cannes 2020, evento cancelado por conta da pandemia. Destacamento Blood teria sua première na abertura do festival. Com as festividades adiadas, o filme chega agora, em hora bem oportuna, ao catálogo da Netflix.
Trama
A trama do novo longa é baseada na história de Paul (Delroy Lindo, excelente), Otis (Clarke Peters), Melvin (Isiah Whitlock Jr.) e Eddie (Norm Lewis), quatro veteranos de guerra negros que voltam ao Vietnã para buscar os restos mortais do seu comandante, Stormin’ Norman (Chadwick Boseman), o líder dos Bloods, morto durante a Guerra do Vietnã. Em uma de suas missões de resgate, os soldados encontram um baú lotado de ouro e fazem um pacto: enterrar o tesouro para buscá-lo anos depois.
Lee apropria-se da história, assim como diversos outros cineastas já fizeram quando o tema é a Guerra do Vietnã, para apresentar diversas situações e denúncias envolvendo seus personagens e o contexto histórico da época, destacando seu lado político e trazendo a discussão para a atualidade, sem soar panfletário. As imagens de arquivo apresentam nomes importantes da luta racial americana, entre eles Angela Davis, Muhammad Ali e Martin Luther King. Todo depoimento costurado na trama situa a plateia nos importantes acontecimentos históricos, aumentando o valor do material apresentado.
Destacamento Blood é um filme antirracista, que apresenta seus personagens em situações de conflitos e explora a forma como reagem a tudo isso. A amplitude da história e seus desdobramentos são narrados pelo diretor de forma bem incisiva, utilizando recursos narrativos visuais bem interessantes e inesperados. A trilha sonora destaca Marvin Gaye, elevando sua voz à importância de um protagonista.
A história muitas vezes não é fácil de acompanhar, mas adiciona elementos importantes para que se entenda o motivo de um movimento como o Black Lives Matter ganhe cada vez mais destaque e força. Destacamento Blood em alguns momentos incomoda, assim como tantas atrocidades que vemos cada vez com mais frequência na mídia. Spike Lee, em sua inquietude, comprova mais uma vez que é um cineasta necessário para os dias de hoje. Que sua luta e sua voz ganhem cada vez mais espaço, em todos os cantos.
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