Review | Pequenos Incêndios Por Toda Parte (Amazon Prime Video)

Disponível na Amazon Prime Video desde o dia 22 de maio, Pequenos Incêndios Por Toda Parte (Little Fires Everywhere no original) é mais uma caprichada minissérie que se destaca pela presença de Reese Witherspoon. A atriz vencedora do Oscar vem colecionando trabalhos bem inquietantes na televisão, muito por mérito próprio, já que além de protagonizar ela também produz estes projetos.

São os casos, por exemplo, do fenômeno premiado Big Little Lies da HBO, já com duas temporadas, e The Morning Show da Apple TV+. Percebe-se em cada uma dessas imperdíveis séries que Reese banca todo o trabalho, assume todos os riscos, mas acima de tudo, ela consegue escolher muito bem cada um deles. As produções são diferentes, mas cada uma tem em comum o fato de dialogarem com temas recorrentes da sociedade, muitos deles bem urgentes.

Em Pequenos Incêndios Por Toda Parte, a inspiração vem do best-seller homônimo de Celeste Ng, e para a empreitada Reese conta com a ajuda de Kerry Washington. As atrizes estrelam essa minissérie que tem muito a dizer durante seus oito episódios já disponíveis (a partir de 19 de junho em versão dublada também).

A narrativa se passa em 1997 e acompanha a história de duas mulheres completamente diferentes, mas que acabam tendo suas trajetórias entrelaçadas. São elas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma jornalista sistemática e com uma vida de privilégios de uma pessoa de uma classe média alta, e Mia Warren (Kerry Washington), uma mulher negra, artista plástica e bastante misteriosa, com problemas financeiros, que tem o haáito e a necessidade de se mudar frequentemente de cidade.

Rota de colisão

Esses dois mundos aparentemente distintos colidem quando Mia aluga a casa de Elena em um bairro de classe média. Mesmo vivendo em um lugar onde não se sente totalmente à vontade, Mia acaba cedendo aos desejos da filha Pearl (Lexi Underwood), uma adolescente que nunca teve um lar fixo para morar e sequer sabe a identidade do pai. Nesse novo bairro, a jovem enxerga uma oportunidade de criar raízes. Mia também consegue trabalho na casa de Elena, como uma espécie de governanta, com horários e condições bem flexíveis devido a sua improvável amizade com a patroa.

Não demora para que as diferenças entre as duas mulheres fiquem bastante evidentes. Tudo se complica ainda mais quando Mia declara guerra à Elena depois que sai em defesa de uma colega de trabalho, a imigrante chinesa Bebe Chow (Lu Huang), que precisou abandonar a filha recém-nascida, e que agora em melhores condições de vida quer recuperar a criança. A dificuldade aparece, pois agora a criança foi adotada por um influente casal de amigos próximos de Elena.

Aliás, a maternidade é só um dos temas importantes que são apresentados na obra. A narrativa dedica espaço não só para as protagonistas, mas também para vários outros personagens que compõe o clã familiar das personagens. Além da citada filha de Mia, os filhos de Elena também são destaque. Mãe de quatro filhos, Elena é a típica dona de casa perfeita que fica o tempo todo pensando na imagem e reputação de sua família, o que faz com que ela se afaste do marido (Joshua Jackson), dos filhos e principalmente da filha caçula, que passa a buscar conforto e aceitação nos braços de Mia, colocando ainda mais em evidência as diferenças entre as protagonistas.

Atitudes

Existem vários clímax ao longo da temporada e todos deixam a minissérie mais saborosa. Os embates das protagonistas vão ficando cada vez mais interessantes. Muitas coisas do passado das personagens vêm à tona, o que ajuda a entender o motivo de algumas atitudes delas no presente. As revelações têm consequências bem cruéis, o que vai modificando a forma com que cada uma encara a vida e se relaciona com a outra, assim como trazem sentimentos diversos em quem está assistindo a série.

Um dos grandes acertos da trama é conseguir sair da obviedade em alguns momentos. Não existem personagens culpados ou inocentes por completo, o que torna o julgamento por suas atitudes mais difícil, já que a torcida para as personagens muda o tempo todo. A história permite que se abra um leque vasto de debates. O racismo estruturado está ali exposto, assim como o privilégio e as desigualdades sociais. Num momento onde os Estados Unidos e o mundo vão às ruas protestar contra a violência e o abuso de autoridade que esconde o preconceito, a série surge como mais um veículo de discussão, levando muito a sério os temas abordados. Abre-se espaço ainda para se falar em sexualidade e luta de classes, tudo apresentado de forma respeitosa, bem orgânica e sem tabus.

Além do bom roteiro, a minissérie apresenta as excelentes atuações de Kerry e Reese, grandes representantes do empoderamento e da importância do protagonismo feminino nas telas. A minissérie ainda apresenta vários outros elementos interessantes, além da dupla de estrelas hollywoodianas, a trama é cheia de mistérios, o que sempre garante audiência para o próximo capítulo. Sem dúvidas será um dos destaques da temporada de premiações, ainda não confirmada devido a pandemia.

Pequenos Incêndios Por Toda Parte é o típico programa que merece maratona e deve ser assistida diversas vezes, para que todos os detalhes sejam absorvidos. Também apresenta elementos suficientes para muita reflexão, ainda mais diante de tantos acontecimentos difíceis nos dias atuais – que infelizmente insistem em se repetir. Não se surpreenda se uma segunda temporada for encomendada. O final explosivo garante que ainda existe muita história a ser contada.

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