Review | Fresh (Star+)

Com Apps de Açougue, Encontros podem ser Fatais

Fresh é uma comédia de horror dirigida pela estreante em longas-metragens, Mimi Cave, em cartaz exclusivamente no Star+, após ser bastante comentada no Festival de Cinema de Sundance 2022.

A trama conta a história de Noa (Daisy Edgar-Jones, de séries como Normal People), que após tentativas de se envolver com alguns rapazes – todas frustradas devido a seus comportamentos inconvenientes – acaba conhecendo o médico cirurgião Steve (Sebastian Stan, o Soldado Invernal nos filmes da Marvel e em cartaz no Star+ com Pam & Tommy).

Porém, Steve é alguém bom demais, para ser verdade. Numa viagem romântica, ele a aprisiona e se revela um canibal, que decepa partes dos corpos de suas vítimas encarceradas, para venda em um mercado ilegal.

Ainda que em algumas cenas até sejam mostradas umas pernas e braços congelados, além do preparo culinário e a degustação dos pratos, o filme é menos impactante do que parece, pela premissa. Fresh é visualmente bastante sutil, deixando o horror da situação como algo mais sugestivo para o imaginário, do que pelo que realmente se vê.

Resgate

A própria narrativa não se constrói com caráter de urgência, mas intercalando momentos de leve comicidade – com Mollie (Jojo T. Gibbs), amiga da protagonista, em sua tentativa de resgate – enquanto a sequestrada tenta ludibriar seu algoz. Tudo isso embalado por uma trilha sonora de músicas pop e uma edição bem tranquila.

A fotografia, por outro lado, se concentra em enquadramentos bem interessantes, como quando o “casal” se conhece no supermercado, no corredor de vegetais, que fica ao lado do corredor de carne fresca e cuja placa de orientação parece estar bem acima de Noa, sugerindo assim uma indicação da presa para o predador.

Em outro momento, num restaurante, o maxilar de Steve é exibido como enorme, em primeiro plano, enquanto o rosto da moça fica minúsculo, em segundo plano, refletido no espelho ao fundo, como se ele estivesse prestes a abocanhá-la.

É intrigante notar ainda o contraponto da introdução da trama com o seu andamento: mesmo que se coloquem em exposição nestes aplicativos de relacionamento, como carne para escolha em um açougue, homens héteros sempre saem ilesos dessas situações. Já as mulheres, quando se permitem arriscar, pagam um preço bem mais alto por isso.

Assim, Fresh remete levemente ao humor ácido, carregado de crítica social, do cinema de Jordan Peele (Corra). Enquanto lá contesta-se o racismo, aqui o machismo que é posto em cheque.

Bruno Tiozo http://www.nerdinterior.com.br

Designer e acadêmico do Instituto de Artes de Campinas, propõe reflexão crítica no apreço às expressões poéticas das artes audiovisuais. Foca no Cinema ficcional, cujos filmes em mídias físicas coleciona como souvenir de universos visitados, de modo que as memórias na estante sirvam para inspirações constantes.

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