Review – Invocação do Mal 2

Invocação do Mal 2

Se existe algum diretor hoje que sabe fazer um bom filme de terror, ele se chama James Wan. O malaio, que dirigiu Jogos Mortais (2004), Sobrenatural (2010) e, claro, o primeiro Invocação do Mal (2013), entende de atmosfera, tensão e coerência ao contar histórias que devem assustar, mas também amedrontar. Em Invocação do Mal 2, toda a fórmula de Wan está lá: a as rotações de câmera, os planos sequências e a montanha russa de tensão, mesmo que neste último, Wan tenha perdido a mão.

O filme narra mais um caso do casal Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), famosa dupla investigadora de eventos paranormais. Após o famoso episódio de Amityville, eles se veem obrigados a voarem para a Inglaterra para auxiliar a família Hodgson e a pequena Janet Hodgson (Madison Wolfe), perturbada por uma estranha presença na casa.

Assim como no filme anterior, Wan mostra que sabe como montar cenas chocantes e aterrorizantes, com sequências que literalmente arrepiam. Pelo menos eu senti aquele calafrio em duas delas. Utilizando de todos os recursos já conhecidos do diretor, como a câmera em movimento, que remete aos filmes found footage, gênero que consagrou títulos como Bruxa de Blair (1999), os planos sequências que passeiam pelos cômodos da casa, transportando o espectador para a história e a troca rápida de planos, preparando você para algo que está por vir, tudo contribui para a ambientação da história. Destaque para a cena do primeiro contato de Ed Warren com o espírito, que usa um segundo plano desfocado, mas que mesmo com o efeito, nada esconde de quem está assistindo.

O filme também acerta na ambientação da Inglaterra dos anos 70. Desde o figurino, trilha sonora com The Beatles à uma fotografia que é tão colorida quanto monocromática, lembrando fotos Polaroids queimadas pelo tempo. Ponto para a direção de arte de Fiona Gavin (O Despertar, 2014).

Invocação do Mal 2, ainda propõe algo diferente do seu antecessor: um debate sobre o ceticismo. No longa, personagens colocam em xeque os acontecimentos e o trabalho dos Warren, questionando inclusive as motivações da pobre família em uma Inglaterra assolada pelo desemprego do governo da Dama de Ferro, Margaret Tatcher. Este debate dá ares mais pé no chão para a trama, traçando uma linha tênue entre o real e o sobrenatural, deixando o já temido “Baseado em fatos reais” ainda mais medonho.

Invocação do Mal 2_3

No entanto, Invocação do Mal 2 não é uma mar de rosas. A comparação com o título anterior é inevitável e neste cenário, falta balanço para a montanha russa de emoções que Wan nos proporciona. Há os bem feitos momentos de tensão, mas que por muitas vezes se estendem demais, principalmente na transição do primeiro para o segundo ato do filme, deixando o espectador exausto com uma maratona de aparições, barulhos e trilha sonora sombria. Este desequilíbrio prejudica cenas que poderiam ser o tempero do filme, como a emotiva sequência de união da família, ao som de Patrick Wilson tocando e cantando Can’t Help Falling in Love, de Elvis Presley (cuja música, quando toca, me faz chorar sempre, sem exceções) e as sequências de comédia. Sim, há comédia em um filme de terror carregado de tensão. Comédia inglesa ainda. Coisas que só Wan faz.

Ao final do longa, o saldo é positivo, apesar dos tropeços no ritmo e de algumas coisas que foram abordadas no primeiro filme não serem lembradas neste segundo (como a preocupação de Ed com a esposa por causa dos trabalhos realizados), Wan ainda está em boa forma para criar tensão e apreensão nas pessoas, apesar de não alcançar o primor do primeiro filme. Desta vez, também, com um pouco mais de jump scares do que o necessário, mas que são perdoáveis.

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