“Rir é um ato de resistência”, já dizia o ator e diretor Paulo Gustavo, que nos deixou em maio de 2021 por complicações devido a Covid-19. A frase, uma das que marcaram sua carreira, pode ser interpretada de diversas maneiras.
Entre elas, a palavra resistência é uma máxima dentro do cinema nacional. Em tempos de pós-pandemia, levar o público de volta às salas mostrou-se um desafio que depende – e muito – dos produtos em cartaz. E se tem um gênero que o brasileiro ama, é a comédia.
Rir é terapêutico, traz leveza e permite momentos de puro escapismo e diversão, que é exatamente o que precisamos, muitas vezes, quando entramos na sala de cinema. Por isso, Minha Irmã e Eu, em cartaz nas salas de todo país, já ultrapassou a marca de um milhão de espectadores.
Na trama, as irmãs Mirian (Ingrid Guimarães, da trilogia De Pernas pro Ar) e Mirelly (Tatá Werneck, de Uma Quase Dupla) nasceram no interior de Goiás, mas moram em cidades diferentes.
A primeira tem uma vida pacata ao lado do marido e dos dois filhos. A segunda, ostenta diariamente em suas redes sociais uma vida falsa em que parece rica e é amiga de celebridades (a vida imitando a arte, novamente).
Quando Dona Márcia (Arlete Salles, de Amigas de Sorte) celebra seus 75 anos de vida em uma festa com a família e flagra as filhas brigando para saber com quem ela irá ficar, toma uma decisão inusitada: resolve partir sem dizer qual seu destino.
É claro que, mesmo distantes e muito diferentes uma da outra, Mirian e Mirelly irão unir forças para sair em busca da mãe, passando por diversas aventuras em uma jornada de redescoberta do amor – próprio e familiar.
Clichê
No geral, Minha Irmã e Eu é um amontoado de clichês em um road movie (ou filme de estrada, se preferir), onde as situações trabalham a favor do roteiro. É claro que algumas encaixam melhor (a cena do boi é hilária, assim como do bar country), enquanto outras parecem perdidas.
Mas a grande força desta comédia nacional reside, sem dúvida nenhuma, em suas protagonistas. Ingrid Guimarães encarna uma caipira que descobre, aos poucos, que viu a vida passar enquanto servia o marido.
Já a personagem de Tatá Werneck passa o filme todo tentando esconder quem realmente é, enquanto reaprende a gostar do interior de Goiás, para onde prometeu nunca mais voltar.
Sem medo de rir de si mesma, Tatá é um Paulo Gustavo de saias, muito embora o ator e diretor ainda permaneça inigualável – e por isso mesmo, é reverenciado durante o filme.
Essas semelhanças na condução do longa tem uma culpada: a diretora Susana Garcia, que comandou Paulo Gustavo e elenco em Minha Mãe é uma Peça 3.
Aliás, com Minha Irmã e Eu, a cineasta encerra uma trilogia muito particular, que conta ainda com Minha Vida em Marte (2018 e 5,2 milhões de espectadores) e o já citado Minha Mãe é uma Peça 3 (2019 e 11,5 milhões de espectadores).
Conhecendo o potencial de suas protagonistas, Susana cria situações para que elas interajam dentro de suas personagens com muita naturalidade e carisma. O riso e a emoção se equilibram ao longo da projeção.
Com a participação especial dos atores Lázaro Ramos e Thaís Araújo, da cantora Iza e da dupla Chitãozinho & Xororó interpretando a si mesmos, Minha Irmã & Eu peca apenas pelo final um tanto quanto óbvio demais – e brega em excesso.
Porém, ao final, o saldo é positivo, já que entrega ao público tudo aquilo que ele espera: momentos de pura descontração. E os resultados falam por si: a comédia se tornou o filme nacional com maior público pós-pandemia. Viva o cinema brasileiro!
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