Review | Wonka

Num mundo em que reinam as franquias, parecia inevitável que mais um produto da Fantástica Fábrica de Chocolates viesse à tona. Só que Wonka chegou e repercutiu de forma bem inesperada.

Há pouco, se tornou a maior bilheteria do ator da moda, Timothée Chalamet, atingindo os 500 milhões de dólares em pouco mais de um mês e ainda lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro em filme de comédia ou musical.

O diretor Paul King virou cult com seus dois filmes Paddington (o primeiro disponível na Netflix) e teve pela primeira vez um orçamento generoso à sua disposição. E ele não desperdiçou a oportunidade, criando cenários e números musicais generosos, sem abrir mão de uma assinatura autoral.

Seu Wonka é muito diferente dos de Gene Wilder e Johnny Depp – talvez por ser mais jovem? Chalamet encarna um fabricante e chocolate idealista e ingênuo, ainda que ambicioso. Para realizar seu sonho ele tem que enfrentar um truste de poderosos chocolateiros, que não hesitam em subornar a polícia e a igreja para manter seu monopólio.

Além disso, Wonka acaba sendo vítima de um esquema da inescrupulosa senhora Scrubin (Olivia Colman, ótima como sempre), que mantém ele e um grupo de incautos em um regime de trabalhos forçados em uma lavanderia.

Ali, o chocolateiro estabelece uma conexão com a órfã Noodle (Calah Lane, indicada ao Critics Choice Awards de Atriz Mirim), que o ajuda em seus planos para vender chocolate e driblar a vigilância de Scrubin e seu capanga Bleacher (Tom Davies, de Paddington 2).

O clima geral da produção lembra musicais da década de 1960, como Mary Poppins e O Calhambeque Mágico (que teve como um dos roteiristas Roald Dahl, autor do livro A Fantástica Fábrica de Chocolate).

Aliás, o escritor galês tem entre seus fãs Wes Anderson, que não apenas adaptou seu O Fantástico Sr. Raposo, como também alguns contos para uma série de curtas para a Netflix (Veneno, The Rat Catcher, The Swan e A Incrível História de Henry Sugar).

Dá para ter uma boa ideia da bizarrice original de Dahl, que se aproxima do filme com Gene Wilder e seu Willy Wonka cínico e até cruel, muito diferente dessa versão de Chalamet.

Origens

Aliás, em relação ao Wonka de Tim Burton, há uma diferença fundamental: o pai do personagem encarnado por Johnny Depp é um dentista que reprime o filho de comer doces, enquanto a mãe do protagonista de Chalamet (vivida pela ótima Sally Hawkins de A Forma da Água) é uma mulher carinhosa que estimula o sonho do garoto de se tornar um chocolateiro, e é o grande estímulo para ele seguir em frente.

Fazendo uma psicanálise de boteco – ou de pâtisserie – , os Wonkas diferem em suas origens, e portanto o de Paul King não deve se tornar o sombrio personagem dos filmes anteriores.

Outra diferença significativa em relação ao romance original e os longas pregressos é o Oompa-Lompa. De um minion sem personalidade, ele agora se converte em uma miniatura de Hugh Grant, outro ator de Paddington 2, que rouba as cenas em que aparece.

Como é que um pigmeu de uma ilha tropical tem um perfeito sotaque britânico é detalhe perfeitamente esquecível diante da atuação do ator de Quatro Casamentos e um Funeral, com direito a musiquinha e dancinha. Sensacional.

Diante dos ganchos deixados no final do filme, e US$ 500 milhões arrecadados em pouco mais de um mês, a dúvida se haverá uma sequência resume-se a: sim ou com certeza? Acredito que ninguém vai se queixar se tivermos mais desse universo da Fantástica Fábrica de Fantasia de Paul King.

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