A estreia de Murilo Benício na direção é um teatro filmado, mas não só. Baseado no texto de Nelson Rodrigues, o diretor se propõe a debater as escolhas do dramaturgo em O Beijo no Asfalto numa espécie de ensaio metalinguístico que discute tanto a sociedade conservadora da época quanto a importância dos atores na construção de seus personagens.
Para isso, Benício coloca o elenco numa mesa redonda com os roteiros em mãos enquanto vão lendo, interpretando e discutindo acerca do que cada um lê, o calcanhar de Aquiles fica para os momentos em que Amir Haddad “pausa” O Beijo no Asfalto pontuando toda e qualquer atitude das personagens de Rodrigues. É chegada uma hora que isso incomoda devido ao didatismo aplicado, mas ao menos não soa pretensioso.
Em tempos de fake news é revigorante que uma obra como essa se utilize de um texto de quase 60 anos para torna-lo mais atual do que nunca, debatendo preconceito, autoritarismo policial, mídia manipuladora e repressão familiar. Como dizia Cazuza: eu vejo o futuro repetir o passado. E Benício repete a obra de Nelson Rodrigues sabendo ir além.
É divertido vermos uma consagrada Fernanda Montenegro relembrando os tempos de teatro, a dupla Débora Falabella e Luiza Tiso ensaiando e interpretando simultaneamente e o trio Lázaro Ramos, Otávio Müller e Stênio Garcia seguros em seus personagens, com isso, o fiel da balança fica para esta aglutinação que Benício faz entre teatro e cinema, ressaltando a importância de uma obra tão valorosa de nossa dramaturgia com um discurso que até hoje ecoa em nossa história.
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