Review | O Rei Leão

Antes de mais nada, como classificar este O Rei Leão? Live-action ou animação digital? As técnicas utilizadas para realizar o longa deixam duas coisas bem claras: O Rei Leão é uma animação digital, já que não há captura de movimento dos rostos e das ações dos atores (como aconteceu em Mogli: O Menino Lobo), tudo é digitalizado. A outra coisa é que este acaba sendo o causador do maior problema do filme, a dublagem. Elucido mais a seguir.

Como muitos já sabem, na animação de 94, dirigida por Rob Minkoff e Roger Allers e realizada por um time de animadores de segunda linha (enquanto o time “classe A” trabalhava em Pocahontas), Simba é o herdeiro do trono de seu pai, Mufasa, mas o maquiavélico tio Scar arma um plano para se livrar de ambos e herdar o trono.

Agora, sob direção de Jon Favreau (Homem de Ferro e Mogli: O Menino Lobo), e um roteiro de Jeff Nathanson, a história é praticamente a mesma. Praticamente não, é a mesma. Simba é o herdeiro de Mufasa (James Earl Jones) e Sarabi (Alfre Woodard), seu invejoso tio Scar (Chiwetel Ejiofor) aparece para colocar seu plano maligno em prática e Simba foge para a floresta onde cresce sob os cuidados de Timão (Billy Eichner) e Pumba (Seth Rogen) até que, já adulto, reencontra Nala (Beyoncé Knowles) e volta para retomar seu trono.

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Não há alterações relevantes na trama. Favreau definitivamente fez um remake quadro a quadro, com pouquíssimas inserções e uma ou outra tirada de pé fora da linha, mas ele logo volta aos eixos sem se arriscar muito. Se por um lado isso pode ser visto como comodismo, talvez por medo de retaliações por ter “mudado a história original”, por outro lado é a proposta que Favreau assumiu, uma visão não tão autêntica e que se propõe “apenas” a ser realista, mas isso ele cumpre bem.

O grande problema desse realismo é que ele acaba sendo uma faca de dois gumes. No lado positivo está o espetáculo visual das savanas africanas, dos animais correndo em bando, dos insetos que servem de refeição para Timão e Pumba, do detalhe de cada animal e de cada ambiente. Pelo lado negativo fica a dificuldade em vender a ideia de que aqueles animais realmente são capazes de falar, e aí entra o que eu já havia citado anteriormente, a dublagem original não está boa, falta sincronismo em alguns momentos e isso se deve, principalmente, ao fato do filme não ter sido realizado por captura de movimentos. É impossível recriar as expressões humanas nos animais, e em alguns momentos as bocas se abrem mas o som parece ecoar, como se alguém estivesse narrando.

Foi exibida a versão legendada em cabine de imprensa.

Menos magia, mais realismo

Este O Rei Leão de Favreau é uma visão mais adulta da animação, ainda que siga à risca tudo o que já está lá. Ao assumir este posicionamento, perde-se muito da magia, da fantasia e do colorido da animação, entrando em cena o realismo de uma fotografia pálida e animais não tão engraçadinhos e fofos.

Alguns números musicais não podiam ser repetidos da mesma maneira – animais pulando em cima uns dos outros não seria convincente -, então a saída foi colocar os animais correndo pelas paisagens, mais uma vez, algo que não funciona da mesma forma que na animação – há um apelo nostálgico aos mais saudosistas pelas músicas que já conhecemos – mas falta aquela pitada de magia.

O número que melhor se encaixa nessa proposta nem é tão musical e é o momento em que Scar canta às hienas para que elas se preparem. Ejiofor dá uma entonação musical consistente a seu número, sem precisar soltar tanto a voz ou das marchas de hienas que existiam na animação, é um dos momentos mais sólidos do longa onde o roteiro acerta em cheio ao passar uma sequência da animação para a realidade e torná-la plausível e bem sincronizada.

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Com sua grande mensagem sobre o ciclo da vida, Favreau faz questão de evidenciar alguns signos da história, desde a pata de Simba que se encaixa perfeitamente na pegada de seu pai Mufasa, quando ainda é apenas um jovem que tem muito a aprender, até o besouro que Simba tenta caçar e que depois é um dos tipos de insetos que ajudam a levar uma mensagem ao babuíno Rafiki (John Kani). Além disso, Favreau usa a meia hora a mais para tornar o terceiro ato do longa menos apressado que o da animação.

Em suma, O Rei Leão é uma animação digital que irá frustar aqueles que têm expectativas em verem algo mágico, coisa que Favreau não quis – ou não conseguiu – imputar aqui, mas é uma visão bastante realística que cumpre seu propósito de nos transportar para a savana e para a África onde leões brigam pelo posto de rei e suas presas se curvam a eles. Ao final, é tudo fantasia.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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