Review | Os Caras Malvados

Seja bem-vinda de volta, DreamWorks!

Antes de tudo, devo deixar claro: sou apaixonado por animações. Mas quando você se torna pai, para que sua paixão continue acesa, buscar por desenhos na programação é algo inevitável, pois reunir a família na sala de exibição envolve uma logística complicada.

Neste momento, “ir ao cinema” ganha uma nova interpretação, afinal de contas, nem tudo que reluz (na telona) é ouro. Assim, cabem aos pais buscarem filmes que, realmente, sejam interessantes. Como assim? Oras, a oferta de animações aumentou consideravelmente, mas nem tudo é tão legal. E seus filhos são espertos do que você fora um dia.

Quando vi o trailer de Os Caras Malvados, fiquei sem saber o que pensar. Parecia legal, mas a moral “nem todo mundo é tão malvado quanto parece” é tão batida que até as crianças perdem o interesse.

Felizmente, este não foi o caso. A animação da Universal – em cartaz nos cinemas – aborda este tema, mas sem concessões para a paz mundial ou soluções mágicas.

A transformação acontece gradualmente e de forma suada, com diversas reviravoltas que fazem os marmanjos lembrarem de filmes como Onze Homens e Um Segredo, por exemplo. E o que dizer da dublagem? Os nomes envolvidos na produção surpreendem tanto que é fácil esquecer o que Luciano Huck aprontou em Enrolados, de 2010 (aprende aí, Disney).

Família

Baseado nos quadrinhos de Aaron Blabey, Os Caras Malvados segue um grupo de animais foras da lei. Sr. Lobo (Sam Rockwell – Rômulo Estrela), Srta. Tarântula (Awkwafina – Nyvi Estephan), Sr. Tubarão (Craig Robinson – Babu Santana), Sr. Piranha (Anthony Ramos – Luis Lobianco) e Sr. Cobra (Marc Maron – Sergio Guizé) sempre foram vistos como maus e desajustados.

Depois de mais um bem-sucedido assalto a banco, o grupo resolve testar sua capacidade e roubar o prêmio que seria concedido ao maior samaritano daquele ano, o Professor Marmelada, bem na frente da governadora Diane Raposina (Agatha Moreira – Zazie Beetz). Mas o plano dá errado e eles acabam presos.

Diane Raposina é dublada pela atriz Agatha Moreira

É então que o professor surge e faz uma oferta às autoridades: torna-los bonzinhos para comprovar sua teoria que todos podem mudar. Percebendo a oportunidade, Sr. Lobo aceita a oferta visualizando uma oportunidade.

Mas uma série de acontecimentos irá mostrar a estes caras malvados que todo mundo tem solução. Bem, falar mais que isto é estragar a história. O fato é que Os Caras Malvados é divertido desde o início, quando conhecemos os personagens principais na fórmula Zootopia, em que animais falantes e seres humanos convivem naturalmente.

Quer dizer, nem tanto, porque estes animais – naturalmente “odiados” mesmo no mundo real, digamos assim – são temidos e evitados por todos. A mudança começa quando o Sr. Lobo experimenta fazer o bem e fica todo arrepiado. A partir dali, algo parece mudar. Mas não é bem assim.

Como se tornar bom quando você é, automaticamente, apontado como alguém assustador? Se os estereótipos lhe colocam longe das possibilidades de fazer o bem? É possível desafiar tudo isso? Com muita perspicácia e um roteiro cheio de reviravoltas, Os Caras Malvados comprova que, sim, é possível mudar seu status, mesmo contra a opinião de todos.

E é nesta jornada que reside o primeiro grande diferencial desta animação, cujos traços não são inovadores, mas privilegiam a ação e as particularidades de seus protagonistas.

O segundo diferencial é, sem dúvidas, o elenco de vozes. Rômulo Estrela, Nyvi Estephan, Babu Santana, Sérgio Guizé, Luis Lobianco e Agatha Moreira surpreendem e comprovam a excelência da dublagem brasileira, que melhora ano após ano. É praticamente impossível reconhece-los em seus personagens, e isso é um grande elogio!

Os quadrinhos de Aaron Blabey, best-seller de livros infantis do New York Times, são o material perfeito para a estreia do diretor Pierre Perifel em longas animados e faz dele um nome a se acompanhar atentamente.

Ponto positivo para a DreamWorks, em seu primeiro filme original desde 2017. Que o estúdio se inspire e traga, novamente, grandes produções no gênero. Lá em casa, todo mundo curtiu demais a jornada.