Review | tick, tick… Boom! (Netflix)

A lista de indicados ao Oscar 2022 será conhecida somente em 8 de fevereiro, mas os favoritos começam a surgir à medida que as produções mais badaladas estreiam, seja no cinema ou streaming. Foi assim que cheguei a tick, tick… Boom!

Sim, antes de tudo, assumo que demorei a assistir. Mas isso porque – confesso – sou meio avesso a musicais. Foram poucos o que me conquistaram. E conferir a versão cinematográfica de Cats me fez perder um pouco mais da esperança no gênero.

Mas cada filme é único e coube a Lin-Manuel Miranda (Em um Bairro de Nova York), em sua estreia na direção, devolver a este que vos escreve a alegria de assistir um musical. No entanto, temos outro “culpado” aqui: Andrew Garfield, em uma atuação espetacular, tanto na dança quanto na música.

tick, tick… Boom! é uma adaptação do musical autobiográfico de Jonathan Larson, que revolucionou o teatro com a peça Rent. Ambientado na década de 1990, conta a história de Jon (Garfield, indicado ao Oscar e vencedor do Tony), um jovem compositor teatral que trabalha como garçom em um restaurante de Nova York enquanto tenta criar um grande musical.

Dias antes de apresentar Superbia, projeto em que trabalha há oito anos, Jon vive um momento de pressão e precisa lidar com a namorada Susan (Alexandre Shipp), que sonha com uma vida artística muito além de Nova York, o amigo Michael (Robin de Jesús), que abandonou os sonhos para buscar a estabilidade financeira, e a comunidade de artistas – e amigos – assolada pela epidemia de AIDS.

Correndo contra o relógio, Jon enfrenta o grande dilema da vida: o que devemos fazer com o tempo que temos? O musical relata o drama vivido por Jon para terminar e apresentar Superbia, espetáculo que nunca foi montado, enquanto utiliza trechos de tick, tick… Boom!, seu musical autobiográfico. E o resultado é delicioso.

Lin-Manuel Miranda e Andrew Garfield durante as gravações

Carisma

Ao terminar o filme, confesso que fui saber mais sobre Jonathan Larson. Pelo pouco que vi, é possível dizer que o trabalho de Garfield é espetacular. Os trejeitos, a maneira dócil, mas ao mesmo tempo inquieta, a genialidade e a imprudência, tudo está lá, no melhor estilo Robin Williams de interpretação.

Apaixonado que sou pela arte, já vi de perto muitos bons artistas nascerem e abandonarem a vocação por diversas razões. E é difícil dizer a qualquer um deles que estão errados, pois, principalmente no Brasil, viver de arte é um verdadeiro milagre.

Por isso, mesmo em meio a um turbilhão de desafios, torcemos por Jon do início ao fim, para que ele consiga, finalmente, conquistar seu espaço no concorrido universo dos musicais da Broadway.

Andrew Garfield deve figurar entre os indicados ao Oscar de Melhor Ator

Neste caminho, por meio de músicas que emocionam, alegram e nos fazem refletir, com canções de Superbia e tick, tick… Boom! se mesclando de maneira ímpar, em uma construção de roteiro que não permite ao espectador abandonar a jornada. “Culpa” de Steven Levenson, roteirista vencedor do Tony, e de Lin-Manuel Miranda.

Em determinado momento do filme, a errante agente de Larson define como deve ser seu próximo projeto. “Escreva sobre o que você conhece”, diz ela. E foi isso que Larson fez, seja na pretensa ficção científica Superbia, que nunca viu a luz do dia, seja na autobiográfica tick, tick… Boom! e principalmente em Rent, até hoje em cartaz e que transformou a maneira de se fazer musicais na Broadway.

Larson escrevia e compunha seus dramas, alegrias, conquistas e tristezas, deixando claro que o importante mesmo é a jornada. Por isso, é impossível não torcer por ele, mesmo em meio ao mais puro caos.

Obrigado, Andrew Garfield, Lin-Manuel Miranda, Steven Levenson e Jonathan Larson, por trazer os musicais de volta ao meu convívio. Que os próximos sejam tão exitosos quanto vocês foram.

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