Quando li que Quentin Tarantino havia escrito e lançado um livro sobre sua vida de cinéfilo já tratei de encomendar. E foi uma compra mais que satisfatória: em Especulações Cinematográficas (Editora Intrínseca), o cineasta faz uma viagem à sua própria formação de cinéfilo, um garoto que era levado pela mãe, na companhia de eventuais namorados, para assistir filmes “de adultos”. Quando ganhou autonomia para pegar ônibus sozinho ou dirigir, passou a caçar os filmes que queria em cines-poeira ou drive-ins com programas duplos.
Na apresentação da orelha, o anônimo redator diz que que o livro é “Construído sobretudo em torno dos principais filmes norte-americanos da década de 1970”. Bom, ou ele não leu a obra ou não entende muito de cinema.
Os longas que dão nomes a capítulos não são muitas vezes nem os favoritos de Tarantino, muito menos da crítica em geral. Mas ilustram sua visão do que é cinema, e do que o moveu a se tornar um dos mais famosos de seu tempo.
Tarantino analisa de forma muito pessoal não apenas seus realizadores favoritos (ele faz uma deliciosa especulação do que teria sido Taxi Driver se Brian de Palma – e não Martin Scorsese – o tivesse dirigido), mas também astros como Steve McQueen (que foi retratado rapidamente em Era uma Vez em Hollywood), Clint Eastwood e Sylvester Stallone (que é exaltado também como diretor).
Samurai Adjunto
Seu próximo filme, que ele anuncia como último, se chamará The Movie Critic, e deve mostrar um crítico de cinema de uma revista pornô. Tarantino dedica um capítulo inteiro a Kevin Thomas, que era adjunto do Los Angeles Times, o órgão oficial de Hollywood.
Enquanto o titular Charles Champlin “nunca viu um filme de que não tenha gostado”, Thomas não apenas dissecava cada longa que assistia como ainda ia garimpá-los no circuito marginal, eventualmente descobrindo talentos como Jonatham Demme, que muito mais tarde assinaria O Silêncio dos Inocentes.
Minha desconfiança é que The Movie Critic terá muito de Kevin Thomas, a quem Tarantino chama de Samurai Adjunto.
O livro acaba numa longa “nota de rodapé” sobre um homem que ajudou em sua formação cultural, que sumiu da sua vida da mesma forma súbita com que apareceu, mas a quem o autor dedica não apenas o capítulo final, mas um de seus melhores filmes.
Recomendo Especulações Cinematográficas a todos que amam o cinema, como Quentin Tarantino.
Leia AQUI um trecho em PDF de Quentin Tarantino: Especulações Cinematográficas, da Editora Intrínseca!
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