Review | 1917

O principal lançamento da semana é 1917, um dos favoritos ao Oscar, que já comentamos semana passada e cuja pré-estreia conferimos no fim de semana. Outra estreia importante é O Escândalo, inspirado num dos episódios deflagradores do movimento #MeToo, com três indicações ao prêmio da Academia de Hollywood. Também chegam às telas de Indaiatuba a animação Um Espião Animal e o nacional O Melhor Verão de Nossas Vidas.

Com dez indicações ao Oscar, 1917 acontece no terceiro ano da Primeira Guerra Mundial, quando dois cabos britânicos, Blake (Dean-Charles Chapman, o Thomen Baratheon de Game of Thrones) e Schofield (George MacKay, de Capitão Fantástico) são escalados para enviar uma mensagem para um regimento que está prestes a cair numa armadilha dos alemães. Blake é escolhido por seu envolvimento pessoal, já que seu irmão mais velho é tenente daquele grupamento.

Eles devem atravessar a chamada “terra de ninguém”, por áreas que o inimigo ocupava. Toda essa jornada é filmada em tempo real – pelo menos na perspectiva dos personagens – como se fosse um longo plano-sequência. É algo que Alfred Hitchcock fez em Festim Diabólico (1948), mas a trama se passava num apartamento, e não num imenso cenário de batalha. O truque é o mesmo: usar objetos ou pessoas que passam em frene à câmera para ocultar os cortes. Requer planejamento, um roteiro muito detalhado e integrado com a direção, o que fez com que, pela primeira vez, Sam Mendes seja coautor de um script.

Ilusão

O filme impressiona visualmente, mas o conteúdo não acompanha esse esmero. Como no filme pelo qual ganhou o Oscar de 1999, Beleza Americana, Mendes ilude o espectador, que à primeira vista acha que está vendo uma obra-prima, mas é um engodo. O clássico Nada de Novo no Front, com os recursos de 1930, diz muito mais o que foi a “Guerra para acabar com todas as Guerras” do que este desperdício de uma boa infantaria, como diria o Patton de George C. Scott.

Como nos grandes filmes de guerra do passado (vide O Mais Longo dos Dias ou Uma Ponte Longe Demais), diversos rostos importantes do cinema e TV ingleses dão o ar da graça: Colin Firth (O Discurso do Rei), Mark Strong (Shazam!), Andrew Scott (Fleabag), Benedict Cumberbatch (Doutor Estranho) e Richard Madden (Game of Thrones).

É o tipo de trabalho de alta complexidade técnica que andou resultando em Oscar de direção nos últimos anos, casos das vitórias de Ang Lee por As Aventuras de Pi, em 2009; Alfonso Cuarón por Gravidade, em 2014; e o bi de Alejandro Iñarritu por Birdman (2015) e O Regresso (2016). 1917 é uma produção, se não autoral, bastante pessoal, já que é inspirado nas memórias de guerra do avô de Sam Mendes, Alfred H. Mendes.

Faturou o Globo de Ouro e – mais importante – o PGA, prêmio do Sindicato dos Produtores, que inclui muitos dos eleitores do Oscar. Não está à altura nem de Era uma Vez…em Hollywood, O Irlandês, Parasita ou mesmo Adoráveis Mulheres, mas arte não é o que está em jogo na Academia de Hollywood. Não acredito, no entanto, que leve a estatueta de Filme, mas é cada vez mais certo, repito, que fature o de Direção.

 

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