Com uma tensão constante e ótima construção,
spin-off mantém qualidade da franquia
O meme comparando o nono episódio de A Casa do Dragão com a animação Shrek bombou na semana passada, deixando claro os clichês dentro da trama do spin-off de Game of Thrones. Mas, se originalidade não é um dos predicados da série que terminou domingo passado na HBO Max, dá para afirmar que ela não apenas conseguiu satisfazer os fãs de Westeros como conquistou novos adeptos.
A Casa do Dragão é um novelão repleto de tramoias, tretas e traições como nos acostumamos nas oito temporadas inspiradas nos livros Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, mas que se passa quase duzentos anos antes.
Desta vez, até por ser uma temporada com arco temporal mais extenso, a trama é mais simples, centrada principalmente em duas mulheres: Rhaenyra Targeryan (Milly Alcock e Emma D’Arcy) e Alicent Hightower (Emily Carey e Olivia Cooke). A primeira, princesa e herdeira do Trono de Ferro. A segunda, sua amiga de adolescência e posteriormente madrasta. Ambas gravitam em torno do rei Viserys (Paddy Consedine), mas Alicent é manipulada pelo pai e Mão do Rei, Otto (Rhys Ifans).
Daemon (Matt Smith), irmão mais novo do rei e comandante da Guarda Dourada, é um bad boy que almeja o trono, assim como Lord Corlys Velarion (Steve Toussaint), líder da maior frota dos Sete Reinos, casado com Raenys Targeryan (Eve Best), que deveria ter sido coroada no lugar de Viserys, ficando conhecida como A Rainha que Não Foi.
A partir deste cenário inicial, vemos o desenvolvimento dos personagens, ambições e projetos de poder, cujas maiores qualidades são a direção e o elenco, sem esquecer figurinos, direção de arte e CGI de primeira, além de um roteiro competente. Mas a condução da trama e atores é que tornam A Casa do Dragão um herdeiro digno de Game of Thrones (Jogo dos Tronos nunca pegou…). A partir de agora, spoilers.
Alerta de Spoilers
Enquanto os personagens masculinos são mais óbvios – Viserys é prudente, mas fraco; Daemon é volátil e ambicioso; Otto é lúcido e ardiloso – as duas protagonistas, que começam a história muito jovens, inocentes e sonhadoras, serão moldadas pelos acontecimentos.
Rhaenyra se torna a herdeira que ninguém quer – por ser mulher – e Alicent é jogada pelo pai num casamento de conveniência em que deve atender o rei decadente na cama e cuidar da sua saúde, cada vez mais debilitada.
Ela aceita o destino com um estoicismo sustentado pela religião e por seus filhos, em nome de quem até se humilha para o desprezível lorde Larys Strong (Matthew Needham), para que ele permaneça a seu serviço, em cena que deixou muita gente desconfortável, mas que é muito reveladora – tanto do vilão caricato quanto da própria rainha.
O comportamento libertário da princesa real (estimulado pelo tio libertino) choca Alicent, especialmente porque ela mesmo teve que abrir mão de qualquer romance ou satisfação sexual em função do que se espera ser seu dever como mulher de sua posição. Essa revelação é a ignição de toda animosidade posterior entre as duas. Por que eu devo me sacrificar enquanto ela faz o que quer, contrariando os mandamentos dos Sete?
Pilar
Pilar central da série, essa rivalidade se mantém em alto nível graças às atuações das atrizes, especialmente Milly Alcock, revelação como a jovem Rhaenyra, seguida por Emma D’Arcy (de Truth Seekers, série do Prime Video que só eu vi) como sua versão mais velha, e Olivia Cooke (aos 28 anos, com um currículo que inclui Bates Motel, Jogador Nº 1 e O Som do Metal) como a rainha Alicent madura.
As três sustentam seus papéis com um repertório de expressões tanto faciais quanto corporais extraordinário. Outro destaque é Eve Best (a Wallis Simpson de O Discurso do Rei) como Raenys, principalmente nos três últimos episódios em que a Rainha que Não Foi vai do desespero ao poker face no meio da Dança dos Dragões
Mesmo sendo mais estereotipados, os três atores principais também brilham. Matt Smith, ex-Doctor Who e Príncipe Phillip de The Crown, abusa do carisma histriônico; enquanto Paddy Considine tem seu grande “momento premiação” em suas participações finais na série; e Rhys Ifans (o Lagarto de O Espetacular Homem-Aranha) esbanja cara e voz ardilosas. Se você quer atuações de primeira, esqueça o Actors Studio e contrate elenco britânico.
No season finale, muitos esperavam acontecimentos bombásticos esquecendo que os grandes eventos em GoT eram sempre no penúltimo da temporada. Eu achei muito bom, com uma tensão constante e ótima construção, que culmina com a morte chocante do jovem príncipe, ainda que de certa forma involuntária, que deve precipitar os acontecimentos para a segunda temporada.
A qualidade do duelo aéreo entre o dragões não tem equivalente nem no cinema. Resta aguardar a segunda temporada, que deve estrear somente em 2024.
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