Review | Adão Negro

Em algum lugar de Kahndaq…

– Fala Jaume, tudo em ordem?
– E aí, Dwayne? Tudo joia e contigo?
– Tudo certo. Pronto para rodar esse projeto em que trabalho há 15 anos?
– Prontíssimo, Dwayne. Como posso ajudar?
– O roteiro está aqui, Jaume. Mas gostaria que acrescentasse alguns detalhes.
– Quais seriam?
– Precisamos de: um pouco de violência, um alívio cômico, um adolescente fã de quadrinhos e um vilão, mesmo que ele apareça pouco.
– Tudo bem, Dwayne. Dá pra fazer. Tranquilo.
– Ah, Jaume. Faltou um detalhe: você pode encaixar alguns slow motion, tipo aqueles que o Zack Snyder fez em Liga da Justiça?
– Vou ali buscar o Manual para Adaptações da DC nos cinemas e já volto!

Depois de 15 anos tentando viabilizar seu projeto mais pessoal nesta transição dos ringues da WWE para uma carreira de sucesso nos cinemas, enfim Dwayne ‘The Rock’ Johnson apresenta ao mundo sua versão de Adão Negro, o anti-herói mais instável dos quadrinhos da DC Comics.

Antes que você pergunte: sim, o filme é bem divertido e um passatempo digno. Porém, ao contrário do que se alardeava nas campanhas de divulgação, não se trata de um ponto de virada para o universo cinematográfico da DC. Ao que tudo indica, esse ‘papel’ continua com The Flash, que estreia em 23 de junho de 2023.

O filme começa 2.500 anos antes da Era Comum na fictícia nação de Kahndaq, onde um rei egoísta busca um metal enigmático para criar um artefato que lhe dará poderes inimagináveis.

Neste cenário, Teth-Adam (Johnson) aparece como um herói, mas a história guarda segredos que são desvendados ao longo do filme – que mistura elementos de diversas origens do personagem ao longo das últimas décadas.

Cinco mil anos depois, Kahndaq vive oprimida pela presença da Intergangue, uma milícia tecnológica que domina o país em busca do metal. Neste cenário, Adrianna Tomaz (Sarah Shahi) é uma líder revolucionária que vive com seu filho após o marido ser morto pela milícia. Em uma tentativa de encontrar o artefato, ela invoca a presença de Teth-Adam.

Porradaria

A entrada triunfal de Adão Negro traz muita ação, algo que perdura ao longo de toda a projeção. É interessante observar a reinserção do anti-herói no mundo moderno, capitaneada pelo jovem Amon (Bodhi Sabongui), filho de Adriana, um grande fã de quadrinhos.

Em poucos minutos, a Sociedade da Justiça – fazendo aqui sua estreia nos cinemas – é recrutada por Amanda Waller (Viola Davis) para levar Teth-Adam como prisioneiro. A apresentação da equipe é interessante, principalmente dos personagens Gavião Negro (Aldis Hodge) e Senhor Destino (Pierce Brosnan).

Os jovens Cyclone (Quintessa Swindell) e Esmaga-Átomo (Noah Centineo) parecem inclusões para agradar os mais jovens, sendo o segundo um alívio cômico dos mais dispensáveis. Todos apresentados, segue-se a cartilha dos quadrinhos: brigas e mais brigas, e depois uma improvável união em busca de um bem comum.

Aliás, nessas decisões residem a principal estranheza de Adão Negro. O personagem mata com facilidade – em cenas que são suavizadas para alcançar a classificação indicativa de 12 anos – enquanto algumas piadas rolam em outra cena. O filme parece não saber bem a quem agradar, enquanto tenta abraçar todo mundo.

As cenas envolvendo Adão Negro, Gavião Negro e Senhor Destino são interessantes e remetem aos quadrinhos da Sociedade da Justiça, algo que deve agradar aos fãs dos gibis.

Finalizada as apresentações e realizadas as interações, o filme ainda encontra tempo para apresentar seu verdadeiro vilão, algo que me lembrou muito o que aconteceu em Batman vs Superman – A Origem da Justiça.

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Desfecho

Reviravoltas e despedidas se fazem presentes nos minutos finais, enquanto o diretor Jaume Collet-Serra (Jungle Cruise e O Passageiro) e Dwayne Johnson definem a persona de Teth-Adam para o futuro da DC nos cinemas – algo que deve agradar quem curte o personagem, cuja origem é intimamente ligada a Shazam.

Ao final, Adão Negro é um filme de herói à moda antiga, que não se preocupa em fincar raízes no universo cinematográfico, mas também parece não saber a qual público agradar.

Com uma série de acontecimentos buscando fiapos de interação, a produção poderia muito bem ser dividida em capítulos e exibida como série na plataforma de streaming HBO Max.

Ao menos, isso justificaria o CGI empregado no vilão Sabbac, que me fez lembrar – de novo – dos famigerados Apocalypse e Lobo da Estepe. Resta ao carisma de Dwayne Johnson garantir que Adão Negro some bons números de bilheteria.

E sim, temos uma cena pós-crédito bombástica, que apesar de empolgante, indica que a DC ainda não sabe qual caminho percorrer nas telonas… alguém aí tem um Kevin Feige sobrando para emprestar?

 

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