Review | Pearl

Mia Goth está sendo chamada de It Girl do Terror por causa de X: A Marca da Morte (disponível no Prime Video) e, principalmente, Pearl, que acaba de estrear oficialmente no Brasil. Os dois filmes são relacionados e foram filmados quase simultaneamente, sendo Pearl um projeto “secreto”, surgido a partir da elaboração de um passado para a antagonista de X, que acabou virando um roteiro em colaboração entre o diretor Ti West e sua estrela.

A diferença de tom entre os dois projetos é notável: enquanto X – com roteiro, direção e produção de West – é um filme metodicamente elaborado, tendo como pano de fundo os primórdios da indústria pornô que explodiria pouco depois; Pearl – em que Mia é co-roteirista e produtora-executiva – é mais intuitivo e tem na sua protagonista sua alma e razão de ser. A seguir, spoilers.

Pearl se passa em 1918, quando a Grande Guerra está no fim, mas o surto mundial de gripe – chamada espanhola, mas que era americana – faz um paralelo com nossa recente pandemia de Covid-19.

A jovem protagonista já está casada, mas o marido Howard (Alistair Sewell) se alistou para lutar na Europa. Por isso, ela continua morando com os pais, imigrantes alemães, e se vê atolada na vida na fazenda, ajudando a mãe (Tandi Wright) nos afazeres domésticos e rurais e a cuidar do pai (Matthew Sunderland), entrevado numa catatonia causada pelos efeitos colaterais da gripe.

A epidemia – mais a ascendência alemã em pleno conflito – isolam ainda mais a família e consequentemente a própria Pearl, enquanto alimenta o sonho de ser uma estrela de cinema. O sedutor projecionista (David Corensweet) do cinema local e um concurso de dança na igreja se tornam possíveis saídas para evitar que ela reproduza a vida de sua mãe. Infelizmente para os demais personagens, e felizmente para nós, o público, Pearl não lida bem com frustrações.

Algumas cenas se destacam, como a audição na igreja, com uma coreografia criada pela própria atriz; o longo monólogo em que ela se confessa a cunhada (Emma Jenklins-Purro) e o sorriso que ela sustenta no final e durante os créditos (em que a estrela fica aguardando o “corta!” do diretor, mas este continua filmando, resultando num plano-sequência arrepiante).

Mia Goth, que tem ascendência brasileira (sua avó é Maria Gladys, atriz do Cinema Novo e Marginal), aos 29 anos já tem um currículo muito interessante, mas parece ter aproveitado estes trabalhos com Ti West para assumir o controle de sua carreira.

Como disse Roberto Sadovski, num mundo ideal, ela estaria na corrida do Oscar, mas, apesar de O Iluminado, de Stanley Kubrick, e O Exorcista, de William Friedkin, o terror ainda é visto como gênero menor na Academia. Esperemos que MaXXXine, o filme que vai concluir a trilogia, confirme a todos o fenômeno que é Mia Goth e abra caminhos para o talentoso Ti West.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *