Review | Jogador Nº 1

Steven Spielberg é um dos grandes nomes do cinema e pode ser considerado uma das pessoas que fez desta mídia um entretenimento de massas. Foi em 1975 que ele foi alçado à fama depois de dirigir Tubarão – considerado o primeiro blockbuster e que fez rios de dinheiro – e a partir daí passou a ser visto com outros olhos por produtores de Hollywood. Justamente por essa sua ligação com as massas e seu estilo de cinema é que o nome de Spielberg se encaixa perfeitamente no projeto de Jogador Nº 1.

O livro escrito por Ernest Cline tem temática futurística e se passa no ano de 2045, quando uma realidade virtual chamada OASIS é a única distração que a população mundial em plena crise encontra como alento e passa horas conectada. No filme, o jovem e órfão Wade Watts (Tye Sheridan, de X-Men: Apocalipse) escapa de sua realidade nada agradável conectado no OASIS caçando os enigmas que o criador James Halliday (Mark Rylance, de Ponte de Espiões) deixara espalhados, e dariam ao grande vencedor o poder de controlar todo o OASIS, algo que a corporação IOI, do avarento Nolan Sorrento (Ben Mendelsohn, de Rogue One: Uma História Star Wars) tenta incessantemente.

O roteiro para o cinema de Zak Penn (Os Vingadores), e que Cline também contribui, é muito feliz em se encaixar no estilo de Spielberg. Há o drama familiar característico do diretor, mesmo que em pequena escala, assim como referências à cultura pop e a grandes marcos do cinema – a referência a O Iluminado é fantástica – e até da própria carreira do diretor, sem fazer o longa parecer demasiadamente autorreferente.

Mas nem só de referências sobrevive Jogador Nº 1. Se elas estão ali para dar um sabor nostálgico aos mais saudosistas, o longa também irá agradar aos mais jovens, com diversas cenas de ação empolgantes que também serão bem aproveitadas por aqueles menos antenados.

A primeira cena de ação do longa, onde uma corrida por uma das pistas do enigma de Halliday é disputada, é extremamente emocionante. Talvez seja um dos momentos do filme com mais referências, de Akira a King Kong, de De Volta para o Futuro a Jurassic Park, onde uma ação muito bem coreografada parece nos colocar realmente dentro de um videogame, um espetáculo de áudio e imagem que Spielberg devia há anos e encontra aqui a oportunidade perfeita para brilhar.

Como era de se esperar de um filme com temática futurística, todo o visual do OASIS é bem desenhado, proporcionando uma experiência bastante imersiva ao espectador – o que poderia ser prejudicial à história já que as alternâncias entre mundo real e virtual são constantes – porém a sintonia entre avatares se mantém com os atores reais sem que a trama perca ritmo.

Aliás, toda a trama do mundo real é um grande paralelo com o conflito de gerações que vivemos hoje em dia. Está intrínseco o embate entre o velho e o novo, fazendo de Jogador Nº 1 uma história extremamente atual por trazer tal debate de gerações, uma tão conectada e a outra ainda se acostumando a tanta tecnologia – o próprio diretor da IOI mantém sua senha anotada num papelzinho ao lado de sua cadeira tecnológica.

Além disso, algo sempre pontuado pela história está no valor que deve ser dado às amizades no mundo real, já que os jogadores do OASIS passam horas a fio conectados fugindo de encontros pessoais e até mesmo de suas rotinas familiares. E que outro diretor poderia tocar nesta tecla, senão Spielberg?

Caberá ao tempo dizer se Jogador Nº 1 ficará marcado na história como um filme com selo Spielberg de se fazer cinema. O diretor não reinventa a roda, mas sabe utilizar as ferramentas corretas para entregar um filme aventureiro, divertido e repleto de referências que só engrandecem mais o seu trabalho e que podem fazer Jogador Nº 1 sobreviver como o grande marco de uma geração, ao menos para os saudosistas.

[wp-review id=”7981″]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *