Está em cartaz neste final de semana em Campinas/ SP, no Teatro Castro Mendes, apresentações diárias duplas do espetáculo teatral A Última Sessão de Freud. Indicada aos prêmios Shell e Cenym, a peça já foi vista por mais de 40 mil pessoas (de Curitiba/ PR a João Pessoa/ PB) e seguirá para as capitais mineira e catarinense, para somente em agosto retornar ao interior paulista, em Ribeirão Preto.
O enredo trata de um fictício encontro entre o pai da psicanálise, Sigmund Freud (Odilon Wagner, de Segundo Sol) e o autor de As Crônicas de Nárnia, C. S. Lewis (Claudio Fontana, de I Love Paraisópolis), no dia 03 de setembro de 1939, data de início da Segunda Guerra Mundial.
Bastante doente, o cético Freud tenta entender como Lewis, antes um ateu, se tornou não só um cristão, mas um influente defensor da fé. No consultório do médico austríaco, eles debatem, com muito sarcasmo, mas bastante respeito, sobre religião, sexo e morte, enquanto são interrompidos pelo rádio noticiando o desenrolar do conflito militar.
ATUAÇÃO E PRODUÇÃO
Ainda que Fontana se apoie numa comicidade que conduz explicitamente a plateia à risada (quando a encara), ele e Odilon (mais contido e adequado), têm uma instigante sinergia, que aguça o interesse de quem assiste pelo andamento de suas discussões.
Onze anos lutando para adquirir de volta os direitos da obra, o produtor Ronaldo Diaféria finalmente conseguiu montar sua versão da dramaturgia e colocá-la em turnê pelo país.
Para isso, teve o religioso Elias Andreato como diretor e Fabio Namatame como figurinista e cenógrafo, que desempenhou um trabalho impecável de reconstituição do gabinete de Freud, com o clássico divã, suas estantes repletas de livros reais e (ironicamente) estatuetas de deuses de diversas mitologias.
Destacam-se também a composição sonora de Raphael Gama, que transporta com sucesso a audiência para o fatídico período encenado e Gabriel Fontes Paiva, que orquestra as emoções com a precisão da iluminação adequada para cada instante.
ADAPTAÇÕES
O roteiro é uma tradução direta feita por Clarisse Abujamra (Presença de Anita), da comédia dramática escrita em 2009 pelo americano Mark St. Germain (Fitzgerald e Hemingway no Jardim de Alá).
A montagem foi reproduzida também em países como Japão, Austrália e Suécia e tem por inspiração o livro Deus em Questão, do psiquiatra Dr. Armand Nicholi Jr., sobre as diferenças filosóficas dos dois intelectuais aqui tratados.
Em 2013 essa história já havia ganhado os palcos brasileiros, sob o título Freud, a Última Sessão, numa versão traduzida por L. G. Bayão e dirigida por Ticiana Studart, com Helio Ribeiro (dublador de Steve Martin) como Freud e Leonardo Netto (Paraíso Tropical) como Lewis.
De acordo com o Collide, Matthew Brown (O Homem que viu o Infinito) está filmando uma versão cinematográfica do texto, com Anthony Hopkins (Westworld) no papel do psicanalista ateu e Matthew Goode (A Oferta) no do escritor cristão.
DEBATE E RESPEITO NO PALCO E ALÉM DELE
Ainda que os protagonistas citem Tolkien (O Senhor dos Anéis) e Chesterton (O Homem que foi Quinta-feira), eles conversam de modo nada rebuscado e acadêmico, mas bastante acessível a um público muito variado. Há sessões até em que os espectadores são chamados para participarem de um saudável debate, após o término do espetáculo.
Em tempos de bolhas sociais, é muito bem vinda uma peça que aborde mais a convivência pacífica e respeitosa entre pensamentos discordantes, do que os temas dos quais discutem as figuras históricas.
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