Review | Shazam! Fúria dos Deuses

Antes de tudo, devo confessar: saí da sessão de Shazam! (2019) sem saber exatamente o que achar do filme. E este sentimento perdurou – e ainda perdura, para ser sincero. Ao mesmo tempo em que identificava sinais do personagem que conhecia, não encontrava razão para justificar aquela refilmagem de Quero Ser Grande (1988) com super-heróis.

Contudo, enquanto analisava o que sabia sobre o personagem, percebi que era muito pouco para tecer qualquer tipo de crítica – digamos que o Shazam de O Reino do Amanhã (Mark Waid e Alex Ross) não é um bom parâmetro.

Diversas pesquisas e leituras depois, ficou claro que a dualidade entre Billy Batson e Shazam sempre comandou o tom das histórias do herói, algo potencializado quando Geoff Johns resolveu atualizar algumas origens em sua passagem por Os Novos 52, na DC Comics.

Shazam! Fúria dos Deuses, em cartaz nos cinemas, mantém a mesma fórmula do primeiro filme, apostando na dinâmica familiar entre Billy e seus irmãos adotivos, além da imaturidade do personagem, vivido por Zachary Levi. O grande desafio agora é conciliar a vida adolescente com seus alter egos de super-heróis adultos.

Tudo muda quando as Filhas de Atlas, um trio vingativo de deusas ancestrais, chegam à Terra em busca da magia que lhes foi roubada há muito tempo. Hespera (Helen Mirren) e Kalypso (Lucy Liu) dão início ao plano ao resgatar o antigo cajado de Atlas e recuperar os poderes conferidos pelo mago Shazam a Billy e seus irmãos.

PIADAS E AÇÃO

Com roteiro de Henry Gayden (Shazam) e Chris Morgan (Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw e Velozes e Furiosos 8) e com Geoff Johns entre os produtores executivos, esta continuação busca o ampliar o escopo da origem dos poderes de Billy e sua família, com mais cenas de ação e vilãs interessantes – mesmo que Helen e Lucy pareçam um pouco incomodadas em seus uniformes.

Porém, o que AINDA chama atenção é o fato de Shazam continuar mais infantilóide que seu ‘hospedeiro’, Billy Batson (Asher Angel). Essa dinâmica se repete com seus irmãos, que possuem personalidades variadas, alguns mais infantis, outros mais adultos, como Mary (Grace Caroline Currey, a única que mantém o papel quando se transforma).

E o que dizer do Mago Shazam (Djimon Hounsou), que se tornou um alívio cômico para um filme repleto de comicidade? Fúria dos Deuses reserva espaço até para um romance, em um daqueles clichês que todos esperam e torcem para se confirmar.

Mesmo enfrentando oponentes mortais e que demandam decisões que podem mudar a vida de todos, Shazam ainda encontra tempo para uma piadinha, como quando arremessa um carro contra um dragão (a cena está no trailer, ok?). São essas decisões de roteiro, justificadas provavelmente para atingir um faixa de público mais jovem, que continuam fazendo da franquia, uma incógnita.

Para este que vos escreve, os filhos são um ‘termômetro’ do potencial do filme. Benício e Alícia gostaram do que viram, riram e se divertiram. Ponto para a DC. Mas com a chegada de James Gunn ao comando do Universo Cinematográfico da DC Comics, será esse o caminho escolhido para o futuro?

Os minutos finais de Fúria dos Deuses reservam um vislumbre do que Shazam pode ser, caso Gunn resolva amenizar o lado stand up comedy do personagem. No entanto, essa possibilidade parece afundar na primeira cena pós-crédito que – pasmem – tem ligação direta com o passado do novo chefão da DC Comics nos cinemas… dentro da própria DC Comics (confira os SPOILERS abaixo, depois de assistir ao filme). 

O diretor David F. Sandberg, que também comandou o primeiro longa, entrega o que o roteiro espera dele próprio: ação, piadas, um ligeiro desenvolvimento dos personagens e algumas participações especiais que, mais uma vez, devem servir apenas para confundir a cabeça de quem não sabe mais quem segue nas adaptações da DC Comics.

Como bem disse o crítico Roberto Sadovski, o novo Shazam mostra por que filmes de super-heróis precisam se reinventar. Tentar agradar a todos é algo cada vez mais complicado, em um gênero que envelhece junto com seus espectadores e que, ao mesmo tempo, traz uma legião de novos fãs. “Para onde vamos daqui pra frente?” deve ser a pergunta que permeia os planos e sonhos de James Gunn.

Review | Shazam!

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ATENÇÃO: SPOILERS!

Temos diversas participações especiais em Shazam: Fúria dos Deuses, entre elas Gal Gadot como Mulher-Maravilha. Aliás, a atriz ainda é uma das figuras da era Zack Snyder que deve manter seu emprego – ao menos por enquanto.

O filme traz duas cenas pós-créditos. Na primeira, os agentes Harcourt (Jennifer Holland) e Economos (Steve Agee), de O Pacificador, série dirigida por James Gunn para a DC, aparecem para recrutar Shazam para a nova Sociedade da Justiça que Amanda Waller está montando. Rolam algumas piadinhas, mas o herói parece aceitar a proposta – mesmo que não saiba que esteja fazendo isso.

Na segunda, temos o retorno do Dr. Silvana (Mark Strong), vilão do primeiro filme, que continua preso e dá uma bronca no Senhor Cérebro, que aparece em sua cela para revelar que seu ardiloso plano está prestes a começar. Sem mais, desaparece novamente, deixando uma janela para uma continuação que (quase) ninguém sabe se vai acontecer.

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