Review | American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson

Dia 12 de junho de 1994. A polícia de Los Angeles recebe denúncia de duplo homicídio em Brentwood, um bairro nobre da cidade. As vítimas: Ronald Goldman, um garçom desconhecido, e Nicole Brown, ex-esposa de O.J. Simpson, famoso jogador de futebol americano que brilhou nas décadas de 60 e 70 e chegou a estrelar alguns filmes como Corra que A Polícia Vem Aí.

Em American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson (2016), a produção de Ryan Murphy (Glee, American Horror Story) acompanha todo aquele que ficou conhecido como o “julgamento do século”. A história é baseada no livro The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson, de Jeffrey Toobin, e é dividida em 10 episódios.

Em seu elenco, a série conta com atores já conhecidos do público, entre eles Cuba Gooding Jr., que encarna O.J. Simpson, e talvez seja o “calcanhar de Aquiles” da produção. O ator não é semelhante fisicamente ao jogador e tampouco consegue transpassar para a tela toda a ambiguidade necessária para a construção do personagem. Por outro lado, o elenco de apoio rouba todas as cenas, fazendo com que Cuba Gooding Jr. nem seja tão notado.

Cuba Gooding Jr. como O.J. Simpson

Os dois lados da história possuem ótimas atuações, o lado da defesa conta com John Travolta (caricato e canastrão, mas extremamente eficiente) que interpreta Robert Shapiro, o advogado principal e que monta um verdadeiro dream team (como a imprensa passou a chamar o grupo de advogados de defesa). Além dele, David Schwimmer (o Ross de Friends) encarna Robert Kardashian, personagem que tem uma carga dramática intensa e é muito exigido. Robert era amigo próximo de O.J. Simpson e permanece desconfiado da inocência de seu amigo até o final. Mas, o grande homem do time da defesa foi, sem dúvida, Johnnie Cochran (interpretado por Courtney B. Vance). O advogado é contratado para conduzir o caso de uma maneira com a qual os promotores consideravam absurda: O.J. Simpson era vítima de uma conspiração racista da polícia de Los Angeles.

Este acaba sendo o principal argumento da defesa, partindo desde a seleção do júri, até as objeções aos argumentos da promotoria. Johnnie tem em mente que, se criar uma história convincente de que O.J. Simpson estava sendo vítima da ineficácia e preconceito de pessoas corruptas, ele não poderia ser considerado culpado.

A promotoria, liderada por Marcia Clark (interpretada por Sarah Paulson), apesar de ter reunido diversas evidências, se mostra extremamente inexperiente em casos como esse. Todo o circo que foi feito em volta do caso – que foi transmitido ao vivo após decisão do juiz Lance Ito (Kenneth Choi) – abalou psicologicamente Marcia. Em um dos melhores episódios da série (Marcia, Marcia, Marcia) Sarah Paulson tem uma atuação formidável e que justifica os prêmios que levou (entre eles um Globo de Ouro e um Emmy). Sua personagem foi atacada gratuitamente pela imprensa durante todo o processo enquanto ela sofria também em casa, já que era divorciada e brigava pela guarda dos filhos contra o ex-marido.

John Travolta e David Schwimmer integram equipe de defesa do O.J.

Além de Marcia, a promotoria ainda contava com Christopher Darden (interpretado por Sterling K. Brown) um jovem advogado que é integrado ao time após outro advogado se afastar do caso por problemas de saúde. Por ser negro, Darden foi visto como uma carta na manga pelos promotores para assustar a defesa de O.J. Simpson.

Um dos grandes trunfos da série é não se tornar maniqueísta nem enaltecer nenhum dos dois lados. Enquanto a defesa de O.J. Simpson tenta a todo custo desconcertar a promotoria, nos bastidores ela se mostra conflituosa, já que não é fácil conter os egos de todos aqueles advogados tão famosos e que adoram um holofote. Do lado da promotoria, o caso pessoal de Marcia Clark e sua parceria com Darden, fazem com que tenhamos empatia pela dupla e fiquemos extremamente desconfortáveis com as brechas que eles dão para a defesa de O.J. Simpson refutar seus argumentos.

A dinâmica dos episódios ajuda a prender o espectador e, por se tratar de uma série curta de apenas dez episódios, é difícil não ser maratonada em um ou dois dias. O episódio piloto consegue despertar a curiosidade da audiência e os episódios seguintes seguem em franca ascensão mostrando com precisão cada um dos detalhes do caso que contou com diversas reviravoltas durante os mais de 12 meses de julgamento.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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