Review | Cinquenta Tons Mais Escuros

A trilogia Cinquenta Tons de E.L. James vendeu mais de 100 milhões de livros mundo afora. O surpreendente sucesso editorial se transformou num acessório indispensável – em sua maioria para mulheres – e estava presente em animadas rodas de conversas. A adaptação cinematográfica foi recebida com grande expectativa, fez sucesso, mas agradou somente as fãs mais empolgadas do livro.

Agora chega a vez do segundo volume da série ganhar uma adaptação. Cinquenta Tons Mais Escuros continua recomendado apenas para as fãs dos livros, que se empolgaram com o romance, o sexo ou as reviravoltas da história, porque não existe outro motivo para se apreciar esse filme.

Cinquenta Tons de Cinza já era um filme bem constrangedor, que gerava risos involuntários e que ficava bem abaixo do pornô soft descrito nas páginas do livro pela autora. Cinquenta Tons Mais Escuros consegue ser ainda mais embaraçoso, gera ainda mais risos da plateia, mas que pelo menos dessa vez parecem perceber que o longa não deve ser levado a sério, tamanho os absurdos envolvendo toda a concepção da trama.

Na verdade, o filme só explicita a mediocridade do texto de E.L. James. Nas páginas, a história pode envolver se o leitor usar a imaginação, mas no cinema, com tudo em carne e osso, fica evidente que a narrativa é de uma pobreza singular, remetendo aos piores momentos de novelas mexicanas. E olha que sequências absurdas e diálogos bregas não faltam. Por exemplo, existe um passado traumático do protagonista que rende uma cena constrangedora de abertura e que não serve para nada. O prometido suspense aqui não acontece, já que os “vilões” apresentados são de uma canastrice e caricatura que fariam Nazaré Tedesco – icônica vilã de Senhora do Destino – ressuscitar só para ensiná-los como deve ser feito.

Tem uma garota assombração que rende momentos desnecessários de terror, caracterizada como a Samara de O Chamado, que protagoniza uma cena de submissão que já pode entrar para a lista das piores cenas da história do cinema. E até a queda do helicóptero onde está o protagonista ganha ares de absurdo quando, numa sequência mal explicada, faz com que o mesmo apareça rapidamente no apartamento onde toda sua família espera por noticias, sem apresentar maiores ferimentos ou traumas.

Se a trama não convence, pelo menos as sempre aguardadas cenas de sexo poderiam valer o valor do ingresso, mas assim como no filme anterior sobram diálogos e faltam cenas de sexo. As cenas continuam burocráticas demais, sem remeter ao material no qual se baseiam. Existe muito pudor envolvido nas filmagens e nenhuma dessas cenas realmente excitam. O clima erótico até é construído, mas o seu desenvolvimento é cortado bruscamente pela edição inconveniente. Nem os corpos dos protagonistas são bem explorados, em muitas cenas eles mau tiram a roupa. Afim de uma censura mais branda, o filme paga um preço muito caro.

A história de Christian Grey (Jamie Dornan) e Anastasia Steele (Dakota Johnson) parece não se sustentar, não existem acontecimentos realmente interessantes para que esse romance se torne compreensível ou até mesmo prazeroso para quem assista. A trama é muito ultrapassada para os dias de hoje. Os traumas do passado do protagonista em momento algum soam verdadeiros ou importantes. A insegurança e dúvidas da protagonista mais irritam do que comovem. Numa época onde discute-se igualdade de gêneros, o filme presta um desfavor a esta questão.

Como saldo positivo, a bem escolhida trilha sonora apresenta canções interpretadas por cantores pops de sucesso. Também destacam-se as bem exploradas paisagens de Seattle. Cinquenta Tons Mais Escuros pode funcionar como uma comédia involuntária, de mau gosto, com cenas constrangedoras e diálogos bregas, sem se preocupar em fazer sentido. Mas também realça o pensamento retrógrado de uma sociedade machista que vê a mulher como uma figura facilmente dominante. E esse pensamento é inaceitável.

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