Review | Até o Último Homem

Mel Gibson está de volta aos holofotes com um novo filme e não pelas besteiras que fez nos últimos anos – acredite, foram muitas – que alimentaram manchetes sensacionalistas no mundo todo e criaram uma porção de desafetos. O astro de 61 anos, pai recentemente de mais um filho, parece que momentaneamente escolheu dar um tempo nos escândalos para se dedicar a arte, preferindo voltar para a cadeira de direção, em um projeto que o deixa ‘confortável’. Surge então Até o Último Homem, que tem méritos para colocar Mel Gibson de volta às manchetes, dessa vez pelos motivos certos.

Até o Último Homem é o tipo de filme que o diretor adora. Pegue um protagonista normal e o jogue numa situação adversa. Assim é a inacreditável história real de Desmond Doss (Andrew Garfield), que se alista em plena Segunda Guerra Mundial após perceber o sacrifício de muitos, mas que, dada sua devota crença e postura como Objetor de Consciência, se recusa a portar armas durante todo o conflito, acreditando que seu dever não é tirar vidas, mas sim salvá-las ao atuar como médico militar. Os eventos do filme centram-se na atuação das tropas americanas em Okinawa, e a tomada do desfiladeiro de Hacksaw, uma zona crucial para dominação do território japonês.

Para contar essa história, Gibson divide o filme em duas partes. A primeira coloca Doss como um cara tranquilo em meio a traumas do passado que justificam suas escolhas atuais. É nesse momento que conhecemos sua origem e suas paixões. Logo depois, Doss já se encontra alistado e enfrentando as dificuldades do serviço militar, ainda mais quando certas atitudes vão contra seus ideais. O treinamento do soldado é cruel devido a companhias nada amistosas e ainda surge a Corte Marcial, onde o jovem é julgado depois de se recusar a obedecer ordens que o obrigariam a atirar com um rifle.

Apesar de interessante, a história segue uma estrutura clássica – e pouco empolgante – no começo. Acompanhamos Doss e seus conflitos e até aqui a direção de Gibson é contida e didática. Mas o melhor revela-se na segunda parte do longa, onde acompanhamos a redenção do diretor.

As cenas de guerra são o espetáculo mais aguardado no filme. Sempre com a mão pesada e sem sutilezas, o diretor constrói cenas de batalhas cruéis, explícitas, que exageram na violência, mas ao mesmo tempo estão contextualizadas. Explosões, desmembramentos e tiros em toda e qualquer parte do corpo são comuns, e as mortes são rápidas e secas, demonstrando toda a aleatoriedade e falta de sentido da guerra. As grandiosas sequências colocam os personagens nas mais surpreendentes situações e nenhum deles é poupado, em cenas que já estão as melhores vistas entre os filmes de guerra.

Até o Último Homem não seria um projeto de Mel Gibson se não tivesse um forte teor religioso. Assim como visto no polêmico A Paixão de Cristo, o novo filme também se concentra na dor do personagem, e em sua consequente busca pelo caminho da salvação. É aí que Andrew Garfield se destaca, conduzindo de forma bem consistente seu personagem, que se mantém fiel às suas convicções até o fim. Uma mistura de pureza e determinação que soam comoventes na tela.

O filme conseguiu seis indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor para Gibson e Melhor Ator para Garfield. Não deve ganhar nenhum, mas já pode se considerar vitorioso, por colocar Mel Gibson de volta ao topo da indústria. E essa já é uma grande vitória.

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