Review | Café

Em um dos primeiros diálogos de Café, o filho de um imigrante iraquiano que vive na Bélgica pergunta ao pai o porquê deste gostar tanto de café. Apesar de Hamed (Hichem Yacoubi de Munique) responder que o café é uma das bebidas que dá forças ao seu povo, praticamente algo divino, e que os sul-americanos têm o mate como sua bebida amarga, todo brasileiro sabe muito bem que por aqui o café também faz muito sucesso.

Café se apega às sensações da degustação de um bom café – reservando até uma belíssima e instigante cena onde uma personagem descreve tais sensações a outro -, porém, aquele gostinho da bebida que fica em nossa boca após uma xícara, não se compara à marca que o filme deixa em nossa memória.

O diretor Cristiano Bortone (Vermelho Como o Céu) cria um caleidoscópio de histórias onde o café é um elemento constante e funciona quase como uma espécie de macguffin.

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A princípio, todos os personagens citam o café, seja como grão, bebida ou até mesmo como tinta, porém o foco da história é exatamente utilizar o café como ponto de partida para estes personagens envoltos em dramas tão reais e que poderiam ser explorados de forma mais arriscada por Bortone.

Incomoda e decepciona que as três histórias sigam os mesmos rumos e se utilizem de estigmas do gênero, vamos conhecendo os personagens e seus dramas, há certo clímax e conflito em todas elas, porém, ao final, prevalece o bom e velho clichê do “felizes para sempre”.

Por outro lado, a edição do filme é bastante eficaz ao dar coesão aos três núcleos, na Bélgica, na China e na Itália, sem nos deixar perdidos entre idas e vindas.

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Ao final, chega a ser frustrante ver que Bortone não se arrisca em temas como a crise dos imigrantes, a desigualdade social que assola a Europa e a poluição do meio ambiente – num problema de irresponsabilidade e negligência que lembra muito o Desastre de Mariana – tudo isso recebe um tratamento muito vago, fazendo de Café um filme excessivamente romantizado e dramático, mas que, ainda assim, tem seus momentos amargos, como qualquer dose de café.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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